SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A organização Médicos Sem Fronteiras pediu nesta quarta-feira (7) que uma comissão independente investigue o bombardeio a um hospital em Kunduz, no Afeganistão. O ataque deixou 22 mortos no último sábado (3).
O ataque aéreo coordenado pelos EUA foi considerado um crime de guerra pela entidade. O Pentágono reconheceu o erro e disse ter agido a pedido da forças afegãs, embora a decisão final tenha sido tomada pelos americanos.
A organização quer enviar o caso à Comissão Internacional Humanitária de Averiguação (IHFFC, sigla em inglês), uma instância sob a Convenção de Genebra para investigar violações às leis humanitárias.
A intenção é que o órgão seja usado para recolher fatos e provas contra os Estados Unidos, a Otan e o Afeganistão. Com o relatório pronto, a Médicos Sem Fronteiras decidiria se levaria o caso ao Tribunal Penal Internacional.
A presidente internacional da organização, Joanne Liu, disse que o bombardeio não pode ser tolerado e que não se pode confiar exclusivamente nas sindicâncias levantadas pelos Estados Unidos e pelo Afeganistão.
“Este não é um ataque só ao nosso hospital, mas à Convenção de Genebra. Se nós deixarmos que se torne apenas um não evento, estamos praticamente dando um cheque em branco a qualquer país em conflito armado.”
A comissão foi criada em 1991, mas nunca foi usada para investigar crimes contra a humanidade. Ela também não tem força judicial para sozinha levar uma investigação a julgamento no Tribunal Penal Internacional.
A Médicos Sem Fronteiras pede que um dos 76 países-membros da comissão abra o inquérito. Porém, nem Estados Unidos nem Afeganistão estão entre os signatários, o que pode levar à recusa do relatório final.
Apesar deste risco, Liu pediu que os países aceitem o trabalho da comissão. “O direito humanitário internacional é sobre intenções e fatos. O ataque dos EUA é a maior perda que nossa organização sofreu em um bombardeio.”
ERROS
Os erros foram admitidos na terça (6) pelo secretário de Defesa americano, Ashton Carter. “As Forças Armadas tomam o maior cuidado para impedir a perda de vidas inocentes, e quando cometemos erros, nós os admitimos.”
“Para ser claro, a decisão de fornecer fogo aéreo foi uma decisão norte-americana tomada dentro da cadeia de comando norte-americana”, disse o comandante das forças americanas no Afeganistão, John Campbell.
Segundo o jornal “The New York Times”, Campbell afirmou em discussões com a cadeia de comando que as Forças Especiais identificaram de forma errada o alvo a ser atingindo, desrespeitando assim as regras de combate.
Ao todo, foram mortos 12 funcionários e dez pacientes, sendo três crianças. Outras 37 pessoas ficaram feridas na ação, que ocorreu quando Kunduz era atacada por forças afegãs para tirá-la do domínio do Taleban.