ANA ESTELA DE SOUSA PINTO, ENVIADA ESPECIAL*
SEUL, COREIA DO SUL (FOLHAPRESS) – Embora etnicamente muito homogênea 98% dos seus habitantes são etnicamente coreanos, a Coreia do Sul não tem uma religião majoritária.
Metade dos coreanos se declara sem religião, segundo o censo de 2005, e a parcela pode superar os 60% em zonas mais urbanas, segundo o levantamento de 2015.
O desenvolvimento do país permitiu que as pessoas pudessem se dedicar mais ao lazer e ao consumo, e a religião se tornou menos importante, argumenta o sociólogo Andrew Kim, em seu estudo sobre a crise das igrejas evangélicas no país.
O fenômeno dos “sem-religião” é expressivo principalmente entre os jovens, mostram os números do censo.
O intérprete Jong Hyun Shin, ou Manuel, 29, nasceu em família católica, mas hoje não tem religião.
“Isso é comum na minha geração, porque não queremos ter compromissos.”
Sociólogos observam também que o número dos sem-religião pode esconder uma parte da população que professa xamanismos nativos.
São 15% os sul-coreanos que se declararam ateus.
As igrejas, porém, continuam populares entre os jovens: “Os coreanos costumam ser muito tímidos, e as igrejas acabam sendo lugares de socialização, de encontro e convivência com outros”.
Para Manuel, aulas de música e corais são estratégias bem-sucedidas dos templos para atrair novos membros.
Outro veículo do catolicismo para chegar aos jovens são as instituições de educação, saúde e apoio assistencial. Nos últimos seis anos, a quantidade de escolas de ensino fundamental cresceu 33% e a de universidades católicas, 10%.
Foram 21% mais pacientes atendidos na rede católica de saúde, que elevou em 25% o número de clínicas, 25%.
Entidades voltadas a crianças e adolescentes tiveram alta de 16%, segundo a Conferência Nacional de Bispos.
O investimento em escolas já havia impulsionado o crescimento do número de protestantes no país durante a ocupação japonesa, segundo o professor Andrew Kim.
Em 1910, missionários já haviam aberto 800 escolas de vários níveis em todo o país, com 41 mil estudantes, o dobro dos que estudavam nas escolas do governo coreano.
Parte da expansão católica tem sido atribuída também à ascensão do papa Francisco, eleito em 2013. Em pesquisa feita antes de sua visita ao país asiático, neste semestre, 86% dos sul-coreanos, independentemente da religião, declararam ter visão favorável do sumo pontífice.
*A jornalista viajou a convite da Hyundai