O ex-ditador da Indonésia Suharto, que tinha 86 anos, faleceu neste domingo no hospital Pertamina, em Jacarta, de falência múltipla de órgãos. Suharto governou a Indonésia com mão-de-ferro entre 1967 e 1998, quando renunciou após uma revolta popular. Ele estava internado desde o dia 4 de janeiro, com problemas nos rins, coração e pulmões. O escritório do presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, anunciou uma semana de luto nacional para chorar a morte do “melhor filho do país.” Durante a ditadura de Suharto, centenas de milhares de pessoas foram mortas pelo governo na Indonésia, no Timor Leste e em Papua. “Meu pai foi embora em paz,” disse a filha mais velha de Suharto, Tutut. “Espero que Alá (Deus) o abençoe e perdoe todos os seus erros.”

Dezenas dos melhores médicos da Indonésia conseguiram prolongar a vida do agonizante ex-ditador durante três semanas, com uma máquina de diálise e um respirador artificial, mas Suharto perdeu a consciência e entrou em coma antes de morrer neste domingo.

Os médicos não tentaram reviver Suharto porque seu coração estava muito fraco, disse um dos especialistas da equipe, o doutor Joko Raharjo.

Suharto – aliado dos Estados Unidos durante a Guerra Fria – foi derrubado por enormes manifestações em 1998. Sua queda abriu o caminho para a democracia na Indonésia, um país com 235 milhões de habitantes e predominantemente islâmico. O ex-ditador retirou-se da vida pública e foi viver em uma mansão em Jacarta.

Suharto governou de fato a Indonésia a partir do golpe de Estado de 1967, quando derrubou seu antecessor Sukarno. Antes do golpe, em 1965, Suharto liderou, como chefe do Exército, a repressão ao Partido Comunista da Indonésia, em um massacre no qual pelo menos 300,000 pessoas foram mortas. O Partido Comunista da Indonésia foi aniquilado.

No regime totalitário de Suharto, soldados foram estacionados em cada vilarejo da Indonésia, um país com 6,000 ilhas. Suharto foi considerado um dos ditadores mais brutais do Século XX. Mas sua precária saúde – e a contínua corrupção, dizem os críticos – evitaram que ele fosse levado a julgamento após sua derrubada.

Além das centenas de milhares de mortos na repressão de 1965, outras 300,000 pessoas foram assassinadas, a maioria no Timor Leste, ex-colônia portuguesa invadida por Suharto em 1975, mas também nas províncias separatistas indonésias de Papua e Aceh.

Os sucessores de Suharto como presidentes da Indonésia a partir de 1998 – B.J. Habibie, Abdurrahman Wahid, Magawati Sukarnoputri e Yudhoyono – lutaram contra a corrupção que tomou raízes no país sob Suharto, sem muito sucesso. Com o sistema judiciário paralisado pela corrupção, o país não confrontou seu passado sangrento. Ao invés de levar a julgamento Suharto e os responsáveis por assassinatos em massa e o desvio de bilhões de dólares do governo, os integrantes da elite política conseguiram que o ex-ditador não fosse julgado nos tribunais devido ao seu precário estado de saúde.

Alguns notam, no entanto, que Suharto levou a Indonésia a décadas de desenvolvimento econômico, que retiraram o país da pobreza e o levaram ao mundo em desenvolvimento. Atualmente cerca de 25% dos indonésios ainda vivem na pobreza, mais do que no final da ditadura de Suharto, quando os preços do arroz e da gasolina eram subsidiados e baratos.

Os críticos afirmam que Suharto saqueou as ricas reservas de petróleo, madeiras e ouro da Indonésia, apenas para enriquecer sua família e seus comparsas – como um chefão mafioso.

Jeffrey Winters, professor de política econômica na Nortwestern University (EUA), disse que a corrupção galopante do governo Suharto “efetivamente roubou a Indonésia de algumas das suas mais brilhantes décadas, privou o país de uma oportunidade histórica de deixar de ser uma nação de pobres para ser uma nação com pessoas da classe média.”

Como muitos indonésios, Suharto usava apenas um nome. Ele nasceu em 8 de junho de 1921, no vilarejo de Godean, na província de Java Central. Seus país eram camponeses pobres que cultivavam arroz. Quando a Indonésia conquistou a independência da Holanda em 1949, Suharto rapidamente subiu nas fileiras do Exército. O poder absoluto chegou em setembro de 1965, quando seis generais graduados do Exército foram assassinados em circunstâncias misteriosas. Suharto assumiu o comando, colocou as forças armadas sob sua autoridade e iniciou uma feroz repressão ao Partido Comunista. Em 1967, ele derrubou o presidente Sukarno, que morreu em prisão domiciliar em 1970.

Durante a Guerra Fria, Suharto foi considerado um amigo confiável de Washington, que não se opôs à violenta ocupação de Papua, em 1969, e à sangrenta invasão do Timor Leste, em 1975. O Timor Leste sofreu vários anos de brutal ocupação e só conquistou a liberdade em 1999, após a população ter votado em plebiscito, garantido pela Organização das Nações Unidas (ONU), pela independência.

No final de década de 1980, Suharto conseguiu atrair bilhões de dólares em investimentos estrangeiros e passou a se descrever como “pai do desenvolvimento” da Indonésia. Mas o governo também se tornou cada vez mais nepotista e corrupto.

Neste domingo, os líderes da Ásia e da Oceania elogiaram as qualidades de Suharto, por modernizar seu país e promover a “unidade regional” apesar de seus atos “controversos” nos direitos humanos.

O primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, lembrou Suharto como “um líder influente”, que governou o quarto maior país do mundo em população durante épocas cruciais.

“Até a catastrófica crise financeira de 1997 da Ásia, ele supervisionou um período de crescimento econômico e modernização significativos, numa época em que a Indonésia enfrentou enormes desafios econômicos, políticos e sociais,” afirmou Rudd.

“O ex-presidente também foi um personagem controverso em relação ao respeito dos direitos humanos. Muitas pessoas divergiram das suas ações, tanto no Timor Leste quanto em outros lugares,” disse o premiê australiano.

O primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong, viajará na noite de hoje a Jacarta, para assistir aos funerais de Suharto. Ele manifestou pesar pela morte do ex-presidente.

A Embaixada dos Estados Unidos em Jacarta também emitiu uma nota na qual manifestou pesar pela morte de Suharto.

“Ele guiou a Indonésia por mais de 30 anos, um período durante o qual o país obteve um desenvolvimento econômico e social notável ” disse a porta-voz da embaixada, Susan Stahl.