Esqueça o tĂ­tulo em portuguĂªs do terror O Nascimento do Mal, que acaba de estrear nos cinemas. É exagerado – muito mais do que a produĂ§Ă£o Ă© de fato, dando uma ideia bastante errada sobre as intenções do filme. Bed Rest (em traduĂ§Ă£o livre, algo como “Repouso na Cama”) Ă© muito mais interessante e certeiro ao falar sobre a histĂ³ria da mulher grĂ¡vida em repouso forçado ao longo de oito semanas.

Julie (Melissa Barrera), afinal, enfrenta uma gravidez de risco. ApĂ³s sofrer um acidente na escada de sua nova casa, os mĂ©dicos recomendam repouso absoluto para prevenir complicações – ao longo de dois meses, ela deve evitar ao mĂ¡ximo levantar da cama. Sair de casa, nem pensar. É aĂ­ que começam as visões perturbadoras de um garoto misterioso que circula por ali e que dĂ¡ alguns bons sustos no pĂºblico.

Engana-se, porĂ©m, quem pensa que a cineasta e roteirista Lori Evans Taylor segue por um caminho parecido com O BebĂª de Rosemary – que tambĂ©m trata dos medos da gravidez, mas com uma pegada demonĂ­aca que vai alĂ©m. O Nascimento do Mal fala sobre traumas e o receio que surge a partir da gravidez. É um filme mais sensĂ­vel do que parece, ainda que perca muito da suavidade nos jumpscares (pulos de susto) frequentes.

Evans Taylor parece se equilibrar entre trĂªs universos: o drama dessa personagem com problemas a serem resolvidos, o fato de ela estar presa em uma cama e todos os elementos de terror que surgem aqui e acolĂ¡, por vezes gratuitos. O filme acaba nĂ£o se resolvendo em nenhum desses pontos, deixando a desejar na forma como se desenvolve a personalidade de Julie e, sobretudo, como se insere o drama psicolĂ³gico na trama.

O Nascimento do Mal atĂ© tenta ser um terror psicolĂ³gico, em que dores mentais se transformam em monstros assustadores, como Babadook, Sorria e afins. Mas estĂ¡ tĂ£o refĂ©m de fĂ³rmulas que nĂ£o chega lĂ¡. A Ăºnica que brilha Ă© Melissa Barrera, atriz que faz sucesso na nova franquia PĂ¢nico e que aqui, mesmo com uma barriga falsa – quase tĂ£o marcante como a dentadura de Rami Malek em Bohemian Rhapsody -, se sai muito bem.

CAOS

Toda essa mistura complicada resulta em um final caĂ³tico: ao juntar a assombraĂ§Ă£o que assusta Julie, suas aflições, a incapacidade de sair da cama, a solidĂ£o e os medos que surgem com a nova gravidez, O Nascimento do Mal se aproxima, sem querer, de uma trama espĂ­rita que nĂ£o sabe bem como concluir sua trajetĂ³ria. Exibe momentos insultuosos, que sĂ£o salpicados por algumas reflexões que surgem aqui e acolĂ¡ sobre traumas.

A maternidade, novamente, se torna o monstro de um filme. Mas estĂ¡ longe de ser tĂ£o profunda e assustadora quanto o jĂ¡ citado O BebĂª de Rosemary, alĂ©m de HereditĂ¡rio, Umma e afins. Se quiser ver um bom filme sobre o tema, melhor revisitar um desses trĂªs. Mas, se quiser apenas se divertir com um passatempo que nĂ£o ficarĂ¡ na memĂ³ria, talvez O Nascimento do Mal seja a opĂ§Ă£o. É sĂ³ ir sem expectativas.