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Acidente na Rua Manoel Ribas, registrado no começo deste ano (Foto: João Frigério)

A cada 12 minutos que passa, um acidente de trânsito é registrado no Paraná. Assim tem sido neste começo de 2024, quando o Siate (Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência) do Corpo de Bombeiros atendeu 15.755 ocorrências de trânsito entre janeiro e o começo de maio. Nesse período, 18.365 pessoas foram encaminhadas para os hospitais – sendo que em todo o estado há 26.509 leitos disponíveis -, um aumento de 10% na comparação com o mesmo período de 2023, quando 16.718 foram socorridas pelo Siate.

Os números foram apresentados na manhã desta quarta-feira (8 de maio) na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), em evento que reuniu diversos agentes envolvidos na engenharia, na fiscalização e na educação no trânsito para discutir meios de reduzir o número de acidentes na capital. Com o tema “Maio Amarelo: conscientização para a redução de acidentes de trânsito”, o debate durou cerca de duas horas e meia, com os especialistas ressaltando a educação no trânsito e o respeito às leis como o caminho a segurança de todos.

De acordo com o major Anderson Anderle, do Siate, embora o número de acidentes apresentado já seja assustador, ele ainda é um dado subnotificado, pois não entram nestas estatísticas as vítimas de trânsito atendidas pelo Samu, ambulâncias particulares e por meios próprios, por exemplo. Ou seja, o contingente de pessoas que chega aos hospitais como vítimas de acidente de trânsito é ainda maior do que os dados oficiais conseguem apontar.

“Se apertar um pouco mais, daria quase uma vítima por leito. Temos aqui os representantes dos hospitais, que muitas vezes são ‘apedrejados’ lá porque a ambulância fica uma hora parada para entregar a vítima. […] Infelizmente, a irresponsabilidade no trânsito está gerando um número de vítimas que o Corpo de Bombeiros não está dando conta de atender, e os hospitais não dão conta de receber. Esta é a grande verdade.” O major informou, ainda, que só em Curitiba, São José dos Pinhais e Colombo, o Siate atendeu 5.467 ocorrências em 2024, cujas vítimas são encaminhadas para hospitais de referência da capital. 

Em Curitiba, acidentes estão em alta, mas número de vítimas está caindo

Rosângela Batistella, superintendente de Trânsito da Secretaria Municipal de Defesa Social e Trânsito, complementou as estatísticas do Corpo de Bombeiros, ressaltando que, apesar da redução do número de vítimas fatais, os acidentes aumentaram nos últimos anos em Curitiba.

Em 2020, foram 20.699; 2021, 23.512 ocorrências; 2022, 27.703 acidentes; e 2023, 29.573 registros. Em 2024, até o começo de maio, já são 10.031 acidentes registrados. Já o número de vítimas fatais, que em 2011 foi de 310, caiu para 166 em 2022 – uma redução de 46,5% no período. “O custo de uma vida (uma vítima fatal) é de R$ 2,95 milhões para o contribuinte”, alertou. 

Ainda segundo a gestora, os pedestres são os mais vulneráveis no trânsito. Em Curitiba, 75% das vítimas fatais de 2022 estavam em motocicletas, bicicletas ou andando a pé pela cidade. “Não há hoje uma legislação de trânsito, uma resolução, que nos diga como autuar [um ciclista ou pedestre que comete a infração]. A bike não tem placa, o pedestre, de que forma você autuaria? Pela carteira de identidade? Uma multa administrativa? Olha o tanto de ciclista que circula nas canaletas do transporte coletivo, olha o tanto de pedestres que circulam nas canaletas. Isto é proibido. Está lá a placa dizendo que é proibido. E olha o tanto de atropelamentos que temos dentro das canaletas. É o maior número de atropelamentos.”

Se a conscientização entre os pedestres e ciclistas não acontecer, ressaltou Rosângela Batistella, o número de atropelamentos vai aumentar devido ao aumento das linhas Ligeirão pela cidade e a entrada dos ônibus elétricos, que são silenciosos. “Esses ônibus não vão fazer barulho e vão ultrapassar [outros ônibus]. Imagine, se hoje já temos atropelamentos, imagine no futuro, se não tomarmos medidas”, analisou. “A educação no trânsito é importante, e é preciso desenvolver esta consciência na criança, no jovem, no adolescente. É uma obrigação nossa, como pais, de ensinar crianças e jovens o caminho em relação à educação no trânsito”, complementou o secretário municipal de Defesa Social e Trânsito, coronel Péricles de Matos.

550 mortes por ano em rodovias federais do Paraná

Fernando César Oliveira, superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), disse que a corporação se preocupa constantemente com a redução dos acidentes, sobretudo das vítimas fatais. Ele contou que a média de mortes no trânsito nas rodovias federais do Paraná é de 550 óbitos por ano. “Não é um dado para ser normalizado.” E explicou, ainda, que os atropelamentos nos contornos Sul e Norte de Curitiba são comuns porque não há passarelas para que a população possa atravessar as rodovias, de um lado para o outro. 

Vítima de acidente de trânsito pediu a realização da audiência pública

Promovida pela Comissão de Direitos Humanos, Defesa da Cidadania, Segurança Pública e Minorias, a audiência pública foi solicitada por uma vítima de um grave acidente há dois anos (421.00001.2024). Ricardo Romanel, que é estudante de Direito, contou como a sua vida mudou após ser atingido na contramão, por um veículo conduzido por um motorista alcoolizado. Ele teve sua perna amputada, devido à gravidade do acidente. 

O debate teve a intenção de promover a reflexão sobre acidentes. Para ele, que teve sua vida transformada por causa do acidente, o principal ponto da conscientização é a educação. Romanel sugeriu que nas autoescolas sejam exibidos vídeos com pessoas acidentadas, imagens de impacto; e ainda que o uso de álcool associado ao volante deveria ser considerado um crime severo. “Na esfera cível não existe punição ao causador [do acidente].” 

Ao repetir sua história para os participantes da audiência pública, ele defendeu a intensificação das ações educativas e de fiscalização, para a promoção de comportamentos mais seguros entre os condutores, pedestres e ciclistas. “Existe a lei, existe o cumprimento dela, mas não existe a punição. Eu sou prova disto, porque o meu processo foi para a área cível e, me desculpem o termo, é uma palhaçada. O causador do acidente continua tendo sua vida ampla e até mesmo riu no dia da audiência”, disse o convidado, que é estudante de Direito.