A cada 14 horas, uma criança é vítima de violência sexual em Curitiba

Na semana de enfrentamento, órgãos públicos anunciam medidas diversas de combate ao abuso e a exploração

Rodolfo Luis Kowalski

Agência Brasil

A cada 14 horas e meia, uma criança ou adolescente é vítima de violência sexual em Curitiba. Segundo dados do Sistema Nacional de Atendimento Médico (Sinam), divulgados nesta terça-feira (14) pelo Ministério Público do Paraná (MPPR), ao longo de todo o ano de 2018 foram registrados, apenas na Capital, 599 casos de violência sexual. Com 76 registros, a Regional do Boqueirão figura entre as que mantém o número mais elevado de casos no município.

Tendo isso em conta, o MPPR anunciou ontem a criação da Liga Boqueirão de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolesentes. A iniciativa, um projeto piloto da instituição que objetiva oferecer suporte completo às vítimas de crimes sexuais e suas famílias, é uma das tantas medidas que órgãos públicos estão anunciando ao longo desta semana, chamada de Semana de Enfrentamento – no próximo sábado, dia 18, será celebrado o Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

Inspirada no universo dos super-heróis, a Liga terá 16 ações integradas (algumas já em andamento) organizadas a partir de quatro eixos de atuação: Participação, Protagonismo, Comunicação e Mobilização; Prevenção; Atenção e Pesquisa e Responsabilização. O trabalho será conduzido em diferentes frentes, incluindo a interlocução direta com as vítimas, o suporte às famílias, a realização de ações nas comunidades e até a responsabilização dos agressores.

Na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a prefeitura de Araucária revelou que o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) acompanha, no momento, 96 casos de crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploração sexual. No ano passado, neste mesmo período, eram 44 casos ativos. As denúncias, que devem ser feitas ao Conselho Tutelar, ocorrem quase que diariamente no município, ainda segundo a Prefeitura.

Já em São José dos Pinhais, também na RMC, a Prefeitura promove desde segunda-feira a XIV Semana de Enfrentamento, com ações em equipamentos das secretarias de Assistência, Educação, Cultura, Saúde , Esporte e Lazer, com o objetivo sensibilizar e mobilizar a população sobre a função da família e da sociedade no fortalecimento das políticas públicas e no enfrentamento deste tipo de violência.

No dia 22 de maio, na Câmara Municipal, a Comissão de Enfrentamento, promove ainda, uma rodada de palestras durante todo o dia com temas que abordam Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes, Segurança na Internet, o Projeto Ciências Forenses na Escola e o atendimento terapêutico às vítimas de violência sexual em São José dos Pinhais, bem como da proteção e atendimento especializado às famílias e o indivíduos.

No mínimo 66% das vítimas têm menos de seis anos

No ano passado, o Hospital Pequeno Príncipe, que faz parte da rede de proteção à criança e ao adolescente, recebeu 586 crianças vítimas de algum tipo de violência e, em 76% desses casos, elas foram praticadas dentro da própria casa ou na rede intrafamiliar. Além disso, os casos de violência correspondem a 56% dos casos atendidos e vitima, em sua maioria (73%), as meninas.Outro dado que chama a atenção, porém, é que 66% dos casos de violência atendidos na instituição ocorrem antes dos seis anos de vida, o que significa marcar a primeira infância com traços de crueldade que só podem ser revertidos com investimento na recuperação social e psíquica dessa vítima. Dependendo da idade, as crianças não sabem se comunicar verbalmente e, por isso, é de extrema importância que as pessoas próximas percebam mudanças de comportamento, marcas pelo corpo ou indícios de que ela está sofrendo algum tipo de agressão.