A cada dia, 17 pessoas são dadas como desaparecidas no território paranaense

Em cinco anos, 31.794 boletins de ocorrência foram registrados dando conta do desaparecimento de alguém. Atualmente há 4.518 pessoas consideradas desaparecidas no estado

Rodolfo Luis Kowalski

Crianças são a minoria entre os desaparecidos (Franklin de Freitas)

A cada hora e 23 minutos que passa, um boletim de ocorrência dando conta do desaparecimento de alguma pessoa é registrado no Paraná. Isso dá uma média de 17 ocorrências por dia. Pelo menos assim foi ao longo de cinco anos, entre 2017 e 2021 (último ano com dados disponíveis), quando 31.794 boletins de ocorrência (BOs) informando que alguém estava desaparecido foram registrados no estado, que é uma das unidades da federação com mais ocorrências no Brasil.

Os números, levantados com base nas informações do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, mostram ainda que ao longo do período analisado houve uma queda expressiva no número de pessoas desaparecidas não só no Paraná, mas em todo o país.

Em 2017, por exemplo, houve 83.701 desaparecimentos no Brasil, dos quais 7.015 (8,4% do total) foram registrados em território paranaense. Em 2021, já foram confeccionados 65.225 BOs dando conta do desaparecimento de alguém, com 5.678 ocorrências (8,7% do total) no estado. Ou seja, entre 2017 e 2021 houve queda de 22,1% no número de registros nacionalmente, enquanto localmente essa redução foi de 19,1%.

No Paraná, entretanto, esse tipo de ocorrência ainda é muito mais comum do que na média nacional.Em 2021, por exemplo, a taxa de pessoas desaparecidas no país foi de 30,7, o que significa que, para cada grupo de 100 mil habitantes, 31 desaparecimentos foram registrados naquele ano.

No estado, por outro lado, houve 49 desaparecimentos para cada 100 mil pessoas, taxa 59,6% acima da média brasileira. Entre todas as unidades da federação, apenas Distrito Federal (67,2), Rio Grande do Sul (55,6), Rondônia (54,2), Mato Grosso (53,7) e Santa Catarina (49,4) tiveram taxas maiores de pessoas desaparecidas.

O mito das 24 horas de espera
Por conta da influência de filmes estrangeiros, existe uma espécie de crença popular de que para se registrar o desaparecimento de alguém é necessário aguardar 24 horas para a notificação às autoridades. Esse senso comum, no entanto, está equivocado e o correto é que um boletim de ocorrência seja registrado tão logo alguém tome conhecimento de alguma situação anormal.

“Principalmente quando a gente fala de crianças e adolescentes, é importante que os familiares responsáves tenham em mente que não há necessidade de se esperar um prazo de 24 horas para registrar o desaparecimento. Na verdade, a nossa orientação é justamente contrária a essa, para que registrem a ocorrência tão logo tomem conhecimento de alguma situação anormal. Se o seu filho tem uma certa rotina, não voltou para casa, não está atendendo o telefone, registre a ocorrência. A gente faz uma primeira investigação e, caso ele reapareça, só damos baixa no BO, não há problema nenhum quanto a isso. Mas um registro tardio dificulta e muito as investigações”, explica Patrícia Conceição Nobre Paz, delegada titular do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride).

Criado em 1995, o Sicride tem se destacado por sua eficiência. Nos últimos cinco anos completos, o serviço recebeu a notificação sobre 971 crianças desaparecidas, sendo 515 meninos e 456 meninas, chegando a um desfecho definitivo em todos os casos que envolveram pessoas com 0 a 12 anos de idade incompletos.

Em caso de necessidade, a Polícia Civil do Paraná dispõe de diversos canais para registro do B.O. A notificação pode ser feita pelos telefones (41) 3270-3350 ou (41) 3224-6822, de forma eletrônica pelo site da PCPR ou em qualquer delegacia do Estado.

Números
Pessoas desaparecidas no Paraná e no Brasil

Brasil
2021: 65.225
2020: 62.913
2019: 79.839
2018: 78.290
2017: 83.701
Total: 369.968
Paraná
2021: 5.678
2020: 5.400
2019: 6.749
2018: 6.952
2017: 7.015
TOTAL: 31.794

Mais de 4,5 mil pessoas estão atualmente sumidas no Estado; 51 têm menos de 12 anos
No Paraná, é possível conferir informações sobre pessoas consideradas desaparecidas através do site desaparecidos.pr.gov.br, que registra os casos ativos de desaparecimento – aqueles que ainda não tiveram um desfecho, ou seja, cujo desaparecido ainda não foi localizado, efetivamente. Atualmente, há 4.518 pessoas desaparecidas no estado, 4.467 delas tendo 12 ou mais anos de idade e 51 delas com menos de 12 anos de idade.

Entre as crianças, o caso mais antigo é o de Ewerton de Lima Vicente Gonçalves, desaparecido desde 23 de dezembro de 1988. Na época do desaparecimento, o menino tinha apenas quatro anos de idade. Hoje, estaria com 39 anos. O caso foi registrado no bairro Centro Cívico, em Curitiba, após o menino sair para brincar na rua em que morava, antes de uma viagem para o litoral do Paraná. Até hoje sem desfecho, o caso acabou cooperando para a criação de uma delegacia especializada em crianças desaparecidas no estado, justamente o Sicride.

“Por mais antigos que sejam os casos, a Polícia Civil continua atuando neles. Nós temos um cartaz emblemático sobre estes desaparecidos e todas as denúncias são processadas, apesar de a grande maioria ser infundada”, conta a delegada-chefe do Sicride. “Por mais que os anos passem, para uma mãe e um pai a dor não muda, por isso trabalhamos para dar uma resposta a esses familiares.”
Já entre a população mais velha, há sete casos ainda em abertos cujo desaparecimento foi registrado ainda antes do ano 2000. Três dessas pessoas estão desaparecidas desde antes de 1990: Luiza Rodrigues, desaparecida em 16 de março de 1965 em Antonina (tinha 77 anos à época e hoje estaria com 135 anos); Erna Lourdes Rodrigues de Oliveira, que desapareceu em 1º de fevereiro de 1977 em Ivaiporâ (tinha 63 anos e hoje estaria com 109); e Salvador Ribeiro da Silva, que desapareceu no dia 15 de janeiro de 1980 em São José do Rio Pardo (em São Paulo), quando tinha 61 anos de idade (hoje estaria com 104).

Mais
Data

O dia 25 de maio é lembrado todos os anos como o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas. A data foi escolhida porque, neste dia, em 1979, Ethan Patz, de seis anos de idade, desapareceu enquanto voltava da escola, em Nova York (EUA). Infelizmente, a criança nunca foi encontrada, mesmo com o intenso esforço da polícia e comunidade na época, o que motivou os Estados Unidos a lançarem uma campanha nacional que incluía fotos de crianças desaparecidas nas caixas de leite. Em 1986, o então presidente Ronald Reagan oficializou o dia 25 de maio como uma data dedicada a todas as crianças desaparecidas, que contou com a adesão de outros países, incluindo o Brasil.