






A dança inspira e expressa. E esse é o desejo dos 19 participantes do Coletivo Erótica ao se reunirem semanalmente para ir além do movimento.
Conduzidas pelo professor e coreógrafo Matheus Margueritte, as aulas de dança vão além da desenvoltura leve, sutil e sensual de mãos, pés, ombros e quadris, o balançar da cabeça e caras e bocas.
Hells é uma mistura de Jazz, Hip-Hop e Pop que traz confiança e autoestima, mas com uma peculiaridade. O salto fino.
“O Coletivo Erótica é um grupo de dança independente com o objetivo de mostrar que dançar no salto alto é possível para todos os corpos, independente de gênero, orientação sexual, idade, raça, etnia e/ou outros marcadores sociais”, diz Matheus Margueritte, dançarino e idealizador do projeto.
O Hells Dance traz a feminilidade, a elegância e o empoderamento para o grupo de mulheres e de LGBTQIA+.
As aulas de academia viraram espaços pequenos e a experiência se transformou em pesquisa de mestrado do Programa de Pós-graduação em Educação pela UFPR. Segundo o coreógrafo, esta é a primeira pesquisa nacional que trata sobre esse estilo de dança.
Os ensaios viraram shows e, recentemente, o grupo participou do tradicional Festival de Dança de Joinville (SC).
Lembranças do tempo que era ‘Stiletto’
E Matheus vai longe nas lembranças. Aos 9 anos, ele conta que adorava ir na casa da avó para arrumar as sapateiras dela. E encontrava muitos sapatos de salto alto. “Mas sabia que aquele objeto não era para mim, até porque vivia em um espaço que a dança era do universo feminino”, relembra.
E em 2012, assistindo ao programa de televisão ‘Batalha no Salto’, teve o contato pela primeira vez com o Hells, anteriormente conhecido como Stiletto. E se apaixonou.
No entanto, o destino o levou para a faculdade de Ciências Biológicas. “Costumo brincar que sou um ex-futuro biólogo dançante porque eu não cheguei a me formar.” Mas pela Dança, sim pela Universidade Estadual do Paraná.
Até 2014, buscou danças urbanas como o Hip Hop. Ao receber o convite para participar de uma aula de Stiletto, se viu frente a uma revolução e confrontos. “Autoaceitação, autoconhecimento, autoestima e confiança. Um processo que acontece até hoje.” A mesma professora que fez o convite em 2014, o renovou em 2017 para ele presidir as aulas. E Matheus não parou mais.
Quanto mais alunos iam chegando, mais históricos e histórias. Veio a superação não somente dos preconceitos, limites e volumes do corpo, mas também de abusos sexuais e violências domésticas. “No salto alto, elas se viram no vídeo com possibilidades de se perceberem e uma relação de transformação pessoal.” Em uma dinâmica, ele recebeu um bilhete contando que a bailarina estava em processo de ressignificar um estupro. Em outro momento, duas alunas com diagnóstico de Fibromialgia que não conseguiam praticar atividades físicas. E no Coletivo, elas se encontraram e superaram as dores. De salto alto.
Universos de aprendizagem
Thaísa Lana Pilz, 33 anos, é doutoranda em engenharia mecânica. Iniciou a dança antes do coletivo surgir, na turma de Heels e Jazz Funk, em 2022. A dança tinha feito parte da infância mas a tinha abandonado por restrições com o corpo.
“Ainda tenho muitas questões, então eu acreditava que precisava emagrecer antes de retornar. De tanto aplicar “metas” , somente aos 32 anos, cansei e me obriguei a voltar.” E foi no coletivo, que a Thaisa se percebeu no espelho, sem medo.
“O Coletivo traz a proposta de fazer a gente se sentir bem com o nosso corpo. Eu posso ser muito boa independente do corpo que eu tenho. Foi a partir disso que eu comecei a me aceitar um pouco melhor e e me enxergar como uma pessoa que realmente tem valor”, admite.
No grupo, também tem Mariana Ribeiro, 35 anos, que é multifunção. Além de cabeleireira, atua como figurinista pela sua formação como Designer de Moda.
“Sou bailarina também”, diz orgulhosa do trabalho a muitas mãos que somente a dança vem mostrando que é possível a pluralidade. Foi durante a aula de dança do ventre que percebeu a beleza da dança no salto alto. “Eu me achava feia, sem jeito, desajeitada, não conseguia me olhar. E nas aulas do Matheus, eu consegui me conectar comigo mesma e dancei.”
“Essa dança foi um veículo de reconexão comigo mesma, com o meu corpo, com os meus desejos, com as minhas potências e de conexão com outras mulheres, com outros corpos e de acolhimento.” O desejo do coletivo é ir além. Através da arte atingir mais pessoas e conectá-las a um universo de transformação.
Contato: @coletivoerotica