O Paraná está preparado para atuar em desastres de grandes proporções, dentro ou fora do território paranaense. A Força-Tarefa de Resposta a Desastres do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) teve sua primeira turma formada em outubro de 2023, e hoje já são bem mais que uma centena de bombeiros militares do Paraná que contam com a formação, preparados para entrar em operação dentro de duas horas em caso de chamado.
E nesse tempo, a Força-Tarefa já entrou em ação diversas vezes com êxito. As mais importantes foram o atendimento em busca e salvamento durante as enchentes no Rio Grande do Sul, em maio deste ano, e o combate aos incêndios florestais no Pantanal, entre julho e agosto.
“A Força-Tarefa foi criada com o objetivo de potencializar os serviços que são desempenhados pelo Corpo de Bombeiros. Nós tivemos o emprego dela no Rio Grande do Sul, onde em menos de cinco horas tínhamos condições de mandar 100 bombeiros para atuarem no estado gaúcho”, diz o comandante do CBMPR, coronel Manoel Vasco de Figueiredo Junior.
O comandante ainda destaca que a formação de uma equipe especial surgiu da necessidade de mobilização de pessoal, equipamentos e veículos para atendimento a grandes incidentes, em especial os desastres.
“São pessoas capacitadas de pronto emprego e que desempenham suas atividades diárias dentro do Corpo de Bombeiros. Quando acionados pela força-tarefa, imediatamente eles têm material e equipamentos para que possam ser disponibilizados para atendimento a ocorrências no Paraná, em qualquer estado do Brasil e também uma preparação para fazerem atendimentos até fora do País”, complementa.
“Através da força tarefa temos bombeiros mais capacitados e de pronto emprego para atuar em desastres de diversas naturezas. Com isso todos ganham, o Corpo de Bombeiros e a população paranaense”.
Segundo o Major Ícaro Gabriel Greinert, comandante do Grupo de Operações e Socorro Tático (Gost) essa nova formação (a Força-Tarefa) é fruto de um processo iniciado em 2017 e intensificado após o auxílio que a corporação deu ao Rio Grande do Sul, na Operação Vale Taquari, em 2023. No mesmo ano, mais 100 bombeiros foram capacitados.
Dentro do Paraná, os bombeiros que integram a Força-Tarefa auxiliaram em março nos resgates a vítimas do desabamento da laje de um supermercado em Pontal do Paraná, no Litoral, e mais recentemente no combate aos incêndios, principalmente em Cianorte e Umuarama, no Noroeste.
A Força-Tarefa, quando convocada, é coordenada pelo Gost, que já é a unidade de elite em busca e salvamento do CBMPR, que por sua expertise em operações que fogem ao dia a dia da corporação.
Gost
O CBMPR atende a mais de 100 mil ocorrências por ano. A maior parte é respondida prontamente pelos efetivos das unidades operacionais de cada cidade – são os acidentes de trânsito, os combates a incêndios e as emergências médicas, por exemplo. A outra parcela desses acionamentos, por se tratar de situações muito particulares, demanda uma equipe especializada em atividades que fogem ao dia a dia da Corporação. É aí que entra em cena o Grupo de Operações de Socorro Tático (GOST).
“Nossa missão principal é busca e salvamento. É o que mais fazemos, há mais tempo, e estamos mais especializados – com e sem o apoio dos cães. Depois, a parte de mergulho, que é a busca aquática, na qual também temos muita expertise”, explicou o comandante do GOST, major Ícaro Gabriel Greinert, sobre a unidade criada em 2006 e que tem atualmente 6 oficiais e 44 praças em suas fileiras.
Treinamento para a Força-Tarefa: “Começa cedo e termina a hora que der”, conta participante
O treinamento das equipes que compõem a Força-Tarefa de Resposta a Desastres é duro. São mais de 154 horas de instrução, teóricas e práticas, na água, no fogo, nas alturas, simulando todas as situações de risco possíveis.
“É um curso que exige bastante energia. Começa cedo e termina na hora que der”, lembrou o cabo Ramiro Fernando de Moraes que participou da primeira turma formada em outubro de 2023.
“Dentro das regras da força-tarefa, a gente já sabe que estamos de sobreaviso pelo período de um ano. Sendo acionados, temos duas horas para estar no local de encontro, de onde partimos para a ocorrência”, contou. O tempo de permanência longe de casa pode chegar a 10 dias, mas, em geral, a rendição da equipe de campo ocorre em sete dias. Ramiro esteve na primeira equipe de socorro ao Rio Grande do Sul em maio.
“Os bombeiros militares que compõem a força-tarefa sabem que fazem parte de um plano de chamada especial. Então, eles já deixam prontos em casa o seu kit pessoal para facilitar as mobilizações. Ou seja, não precisam ir até o quartel atrás de equipamentos”, explicou o subcomandante-geral do CBMPR, coronel Antonio Geraldo Hiller Lino, responsável pela força-tarefa.
Treinamento
Durante três semanas, os bombeiros aprednem sobre técnicas de combate a incêndios florestais; busca e resgate em estruturas colapsadas, como desabamentos; condução de veículos 4×4 e embarcações; atuação em áreas de deslizamentos, entre outras situações.
Já em ação, em meio ao caos instaurado no Rio Grande do Sul, o cabo Ramiro percebeu rapidamente como a experiência do curso viria a ser crucial para garantir o melhor atendimento às vítimas do desastre.
“Várias técnicas que a gente utilizou no treinamento, aproveitamos no Rio Grande do Sul. Por exemplo, tinha muita água rápida lá, com velocidade e volume, e nós tínhamos treinado essa situação, assim como treinamos o resgate de pessoas. Termos experimentado isso antes nos trouxe tranquilidade. A gente sabia o que estava fazendo”, atestou o bombeiro, que elegeu o treino em deslizamentos como o mais desafiador da capacitação.
“Deslizamento foi o módulo mais difícil. Tem que cavar no barro, que gruda na enxada, gruda na pá, que tem que bater em pedra pra tirar. Tudo é muito pesado e leva muito tempo. Isso tudo dentro de um espaço de um metro de largura que a gente prepara com placas de madeira com travessas para evitar que desabe tudo em cima da gente”, lembrou. “É úmido, sempre é na lama, porque é área de deslizamento. Simulamos tudo isso: chuva, terreno molhado, vítima soterrada. Foi bem complicado”, complementou.
As habilidades adquiridas durante o curso de preparação para a força-tarefa também ajudam em outros momentos que não o do resgate em si. As aulas de condução de veículos 4×4, por exemplo, foram fundamentais durante as ações no Rio Grande do Sul, para dar segurança na locomoção em terrenos hostis.
“A gente se deslocava muito, em ambiente com água alta. Por causa do curso, a gente sabia, tecnicamente, até onde podia chegar”, disse o cabo Ramiro. Usar os 4×4 como escudo para o deslocamento da van do posto de comando, levando-a até o local mais adequado, foi outra estratégia aprendida no curso.