Após o falecimento na prisão do empresário Raul Ferreira Pelegrin, os advogados de defesa se manifestaram neste sábado (6 de abril), em entrevista coletiva na qual reclamaram de ter avisado a Justiça, desde o primeiro momento, sobre a necessidade do homem deixar a cadeia para receber atendimento médico especializado. Segundo Adriano Bretas, um dos defensores de Pelegrin, “as condolências precisam ser prestadas e alguém precisa responder por essa morte”.
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O empresário se tornou conhecido nas últimas semanas, após ser preso e denunciado por cortar a corda que sustentava um limpador de janela que trabalhava num prédio no Água Verde. Pelegrin residia na cobertura do edifício, no 27º andar, e só não fez o trabalhador cair do sexto andar graças ao funcionamento de um dispositivo de segurança que impediu a queda.
Segundo o Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (Deppen-PR), Pelegrin faleceu na madrugada de sexta-feira (5 de abril), por volta de 1h30 da madrugada. Ele estava custodiado desde o dia 27 de março na Casa de Custódia de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), mas havia sido internado na quinta-feira (4 de abril) no hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul (também na RMC), apresentando dificuldades respiratórias. Ainda de acordo com o órgão oficial, a causa da morte teria sido uma pneumonia. Já os advogados de Pelegrin afirmam que o óbito ocorreu “em circunstâncias incógnitas”.
“Nós contamos com os olhos atentos da imprensa pra fiscalizar isso, para efetivamente apurar em que circunstâncias esse homem veio a óbito, porque se tem especulado aí que ele teria sido removido para o hospital Angelina Caron por volta de 16 horas [de quinta-feira] e isso não está, pelo menos até o presente momento, registrado em lugar nenhum.
“A crônica de uma morte anunciada”
Raul Pelegrin foi preso em flagrante no dia dos fatos, em 14 de março, e já na ocasião, no auto da prisão em flagrante, seus advogados consignaram a necessidade de um tratamento médico, apontando que o empresário enfrentava problemas de dependência química, doença que o acometia já há alguns anos e inclusive havia motivado uma internação compulsória anteriormente.
“A insensibilidade das engrenagens de um sistema perverso, cruel e violento, mantiveram esse homem encarcerado”, acusou Bretas em seu pronunciamento à imprensa. “Já naquela ocasião [prisão em flagrante], se fazendo representar pela doutora Alessi Brandão, a defesa registrou e consignou uma grave enfermidade da qual padece e padecia essa pessoa, Raul Pelegrin. Outros ‘Rauls’ também passam por esse mesmo problema da nossa sociedade, que está enferma.”, disse ainda o advogado.
Além dessa tentativa de soltura, a defesa afirma ter voltado a defender em um segundo momento, na audiência de custódia, a necessidade de Pelegrin deixar a prisão para receber atendimento médico internado numa clínica psiquiátrica. O próprio empresário, aliás, chegou a manifestar, numa declaração assinada de próprio punho, a intenção e a necessidade de ser hospitalizado (confira a declaração na galeria de imagens abaixo), enquanto outro de seus advogados, Dr. Beno Brandão, fez uma sustentação oral na ocasião (confira no vídeo abaixo).
Novamente, porém, a prisão de Pelegrin foi mantida. E a defesa ainda tentou em mais duas ocasiões a soltura do advogado, para que ele fosse internado numa clínica psiquiátrica.
“Foi impetrado também um habeas corpus, perante o Tribunal de Justiça e em sede de liminar a defesa, mais uma vez, reiterou a necessidade desse homem ser hospitalizado. Indeferida a liminar, cerca de 10 dias depois, sobreveio o julgamento de mérito e, na tribuna, o advogado Kalil Aquim mais uma vez reiterou a importância desse homem ser hospitalizado”, seguiu relatando Adriano Bretas. “Essa desgraça que estava escrito nas estrelas, era a crônica de uma morte anunciada.”
“Às vésperas do seu falecimento, eu estive com o Raul Pelegrin”
Bretas ainda contou que esteve com seu cliente na véspera de seu falecimento. E disse ter visto o que classificou como uma “cena estarrecedora”.
“Ele estava na iminência de morrer. Nós conversamos com o diretor do estabelecimento prisional, enfatizando a necessidade de um tratamento médico urgente, imperioso. Não bastou isso, consignamos isso nos autos. Fomos aos gabinetes das autoridades, falamos com o representante do Ministério Público, e o Ministério Público, num parecer indiferente, quiçá debochado, talvez até jocoso, desdenhou da defesa afirmando que advogado não era médico”, desabafou o advogado.