Ao longo das últimas décadas, com a descoberta de novas tecnologias, novas técnicas e modelos de atividade, profissões como datilógrafo, telefonista e vendedor de enciclopédias acabaram sendo extintas ou estão em vias de extinção, sendo substituídas por meios totalmente automáticos. À mercê das circunstâncias, ofícios que eram comuns se tornam raridade, principalmente nas cidades grandes, em metrópoles como Curitiba. Mas isso não é o fim da nostalgia, e ainda dá para esbarrar por ai com quem mantenha o ofício das antigas, mesmo que poucos.

Uma das profissões mais ameaçadas é a de amolador (afiador) de facas. Uma procura pelo Google pode ser considerada uma evidência. Facilmente encontra-se máquinas à venda que servem justamente para afiar. Contudo, encontrar o contato de algum afiador exige mais paciência. Na Capital, um dos últimos da espécie é Valdei Alves, de 47 anos. Há 35 anos ele trabalha afiando facas, ofício que aprendeu, segundo ele mesmo conta, com um mestre das antigas. Após rodar por diversos bairros, resolveu se fixar no Jardim Ambiental I, localizado na Avenida Sete de Setembro. Segundo ele, é cada vez mais raro encontrar colegas de profissão, mas a demanda pelo serviço ainda existe.

Estão todos se aposentando (os amoladores) e não tem quem queira aprender. Os mais jovens parecem ter vergonha de bater de porta em porta para oferecer serviço, conta o homem, que chega a ganhar mais de R$ 300 em um dia com bom movimento. Muita gente me vê aqui e vem conversar, falar que quando me viu lembrou da infância, que era comum amolador e que achava que nem existia mais esse serviço. Daí já aproveitam e trazem aquela faca que era dos avós, tesouras antigas. Os mais jovens já vêm pela curiosidade, querem saber o que eu faço, conta.

Outro lugar para se visitar e fazer uma viagem no tempo é a galeria Ritz, localizada na Rua Marechal Deodoro, no Centro de Curitiba. No 12º andar do prédio, na sala 1.207 B, trabalha Manoel Severino, de 72 anos, e que há 55 atua como alfaiate. Ele conta que nos últimos anos o número de pessoas que querem roupa sob medida caiu drasticamente, o que o obrigou a se adaptar à nova realidade.

O povo está comprando roupa pronta, que é mais barata e teve um salto de qualidade nos últimos anos. As fábricas têm feito paletós muito bons, diz o homem, que hoje trabalha mais com a reforma de vestimentas. Nos últimos cinco anos a procura por esse tipo de serviço tem crescido muito e para mim acabou ficando melhor, já que é um trabalho mais rápido. Então o pessoal compra a roupa e só traz para gente ajustar.

Ainda na região central de Curitiba, localiza-se outra empresa nostálgica: a Sapataria Farias, fundada em 1973 e que hoje conta com três lojas na cidade. Segundo a encarregada administrativa Tatiana Farias, ainda existem muitas pessoas que procuram pelos serviços de sapateiros, principalmente no inverno, quando as mulheres — que representam 75% da clientela —, resolvem consertar suas botas. Nos últimos anos, porém, a procura tem caído. As pessoas estão comprando muitos produtos da China, então eles não pagam muito pela reforma e acabam preferindo comprar um produto novo, relata.

Outra dificuldade que a empresa tem tido de enfrentar é a escassez de profissionais. Estamos procurando sapateiro para contratar, mas o mercado está muito difícil. Nós chegamos a contratar jovens para aprender o ofício, mas não tem quem queira aprender a profissão, que com certeza está em extinção, lamenta Tatiana.

Retrô — Ainda assim, o mundo vira e mexe dá uma volta às suas origens, e as ondas retrôs vêm e vão. E não são apenas as atividades humanas, mas os objetos também. Ora se reciclam e ganham ares de modernidade, noutras ganham o mesmo desenho das décadas do século passado.

Um dos grandes ícones é o disco de vinil, que parecia que desapareceria com o advento dos CDs. Mas não é que a bolachona — como era chamada — ganhou vida nova nos dias de hoje.

Percebi que tinha uma boa clientela, muita gente mais velha nos prédios aqui perto e que procuravam esse serviço, tanto que os moradores pediram para eu me estabelecer aqui afirmando que serviço não faltaria.

do amolador de facas Valdei Alves

Meu pai era fabricante de sapatos, então já estava no sangue. Mas eu aprendi o ofício sozinho oito anos atrás. Já tive minha própria sapataria e estou há um mês aqui na Sapataria Farias. Infelizmente, é difícil achar quem queira aprender a profissão, eu sou um dos mais novos. Mas é gostoso o trabalho, eu gosto. Dá para arrumar qualquer sapato, mesmo que esteja detonado.

do sapateiro Maicon Cavalheiro

Quando eu era jovem, morava em Faxinal. Todos os dias quando ia para a escola, eu passava em frente a uma alfaiataria e achava bonito todas aquelas pessoas bem vestidas. Um dia a professora perguntou o que eu queria ser quando crescesse. Disse que queria ser alfaiate e aí não larguei mais essa ideia.

do alfaiate Manoel Severino