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Claudinei Trog, o alemão que montou um comércio de gastronomia “em terra” de italianos (Luísa Mainardes)
Seu Claudinei 03
Fotos: Lívia Berbel

Que o Brasil é um país formado por muitas culturas e pessoas de muitos países, disso ninguém dúvida. E Curitiba, claro, não fica para trás. Em Santa Felicidade, bairro conhecido por suas cantinas e tradição italiana, um alemão de sangue e italiano de coração encanta os seus clientes com empadões frescos, cucas, massas e a clássica polenta. Aos 81 anos, Claudinei Trog mantém um pequeno comércio na própria casa depois de uma vida inteira dedicada à gastronomia.

Filho de imigrantes alemães, Claudinei começou a trabalhar ainda criança. Aos 10 anos, na mercearia da família, já em Curitiba, pegava frutas onde hoje é o Mercado Municipal e ajudava o pai, padeiro, a fazer cucas e massas no forno. Aos 14, já tinha dois boxes no Mercado Municipal junto do irmão. Depois, a vida o levou a Santa Felicidade, onde comprou um açougue e conheceu o amor da sua vida.

Quando se mudou para o bairro, Claudinei começou a frequentar os restaurantes dali. E foi no Restaurante Cascatinha que ele conheceu Felicidade Trevisan, a garçonete e filha do proprietário que virou esposa e parceira de vida por 56 anos.

Foi ali, em meio a polentas e frangos do restaurante, que Claudinei se tornou parte do bairro. “Quando cheguei aqui, era tudo colônia italiana. Mas fui bem recebido. Minha sogra dizia que eu não era mais alemão, era italiano também”, relembra.

Durante décadas, trabalhou ao lado da esposa, primeiro no Cascatinha, depois no próprio restaurante da família, o Fellini, até a pandemia chegar, em 2020. Nesse período, Felicidade sofreu uma queda, fraturou o fêmur e faleceu uma semana depois. “Aí eu fiquei sozinho. Onde eu ia, a encontrava. Foram anos trabalhando juntos. Então resolvi fechar tudo”, contou o seu Fellini, como ficou conhecido também.

No entanto, a pausa durou pouco. Sem conseguir ficar parado, Claudinei decidiu abrir a vendinha em casa, com ajuda dos filhos. A garagem virou cozinha; e a sala, o balcão de atendimento. O cardápio mistura as raízes alemãs herdadas do pai – como o empadão com receita de mais de 70 anos – com a gastronomia italiana que aprendeu com a família da esposa. “Eu gosto de inventar coisas novas. Essa semana mesmo, fiz lasanha de tilápia com molho branco”, diz orgulhoso.

Entre uma fornada e outra, toca acordeão, joga trissete com amigos italianos e recebe os fregueses com prosa boa. Para Claudinei, o segredo está na simplicidade bem-feita, como conta a sua filha Mariane. “Polenta é só água, sal e fubá. Mas tem que ter qualidade e mexer com amor. E é o que o pai faz. Não é uma comida ‘rica’, mas todo mundo gosta. É verdadeira.”

Casa da Felicidade e La Lucertola: o amor pela cozinha é de família


A vendinha de Claudinei ficou conhecida como ‘Casa da Felicidade’. Bem ali na sala de entrada você já encontra empadões, massas frescas, bebidas e outras delícias. Na terça, é dia de limpeza. Quarta começa a produção, e de quinta a domingo os clientes podem saborear os quitutes.

Para as vendas, além da boa divulgação boca-a-boca, Claudinei se antenou na internet e divulga todos os seus pratos pelo grupo no Whatsapp. “Ele é melhor que eu com essas coisas. Divulga lá no grupinho dele, coloca uma foto do empadão e na hora o pessoal vem pegar. Ele sempre vende tudo”, conta a filha.

Mariane abriu também o bistrô La Lucertola, no fundo da casa, que reúne pratos artesanais em um espaço pequeno e charmoso. Aos sábados e domingos, oferece pratos completos para comer ali ou levar. Polenta mexida por uma hora no tacho, risotos, carnes e maioneses frescas.

Quem passar pela rua Angelo Trevisan, 23, no bairro Cascatinha, pode aproveitar as delícias. Empadões e quitutes de quarta à sexta e pratos completos aos finais de semanas. Mais informações e reservas no telefone 41 992514909.

Questionado se se sente realizado aos 81, seu Claudinei sorri. “Sou feliz fazendo o que gosto. Aqui é minha casa, minha história e minha alegria”, finaliza o cozinheiro.