Miguel Hilgenberg e a sua coleção: paixão começou aos 10 anos de idade, em 1964 (Fotos: Franklin de Freitas)

Uma paixão de infância acabou virando motivo de uma coleção já na maturidade para o engenheiro Miguel Higenberg Neto. Aos 68, o curitibano resolveu voltar a colecionar carros em miniatura e em poucos anos já conseguiu montar uma coleção de dar inveja a qualquer fã de automobilismo: são mais de 600 miniaturas, com réplicas de todos os veículos campeões de Formula 1 desde 1950 até 2022; todos os carros da Ferrari que já disputaram a modalidade; (quase) todos os veículos pilotados por brasileiros; além dos carros que já venceram as 24 horas de Le Mans, uma das mais tradicionais corridas do mundo, disputada anualmente desde 1923, na França.


A paixão de Miguel por carros e pelo automobilismo é antiga. Surgiu em 1964, quando ele tinha apenas 10 anos de idade e começou a acompanhar o esporte junto de dois amigos, que já eram fãs de Formula 1. Naquele tempo, contudo, acompanhar a modalidade era uma tarefa árdua, recorda ele. “A gente comprava uma revista chamada Autoesporte para poder acompanhar, porque naquela época não tinha televisão, o que aparecia eventualmente era algum documentário no final do ano, contando que fulano de tal foi o campeão da Formula 1, quantas corridas ele tinha vencido naquele ano e etc.”

A coleção, por sua vez, começou a ser construída 30 anos atrás, quando ele passou a comprar miniaturas em maiores escalas de carros (possuindo, inclusive, uma coleção com exemplares de carros brasileiros, como o Gurgel e o Ford Galaxie). Conseguir colecionar réplicas maiores, que ocupavam muito espaço, contudo, era uma tarefa difícil. Mas foi nesse período que ele adquiriu suas primeiras miniaturas de Formula 1, na escala 1/43, com o carro que Ayrton Senna pilotava quando faleceu, em 1994, e outra miniatura de um veículo de Nelson Piquet. Um hobby que voltou a ganhar força em sua vida na última década.

“Fui no casamento do filho de um amigo meu em Cancún, há uns 10 anos. Fui no Walmart lá e comprei três carrinhos, um Ferrari, um Red Bull e uma Mercedes, e trouxe para cá os carros. Quando eu chego aqui no Brasil, é lançada uma coleção que se chama ‘Lendas Brasileiras’, com os carros de Formula 1 dos pilotos brasileiros. Aí eu disse ‘Sabe o quê? Vou começar a fazer isso daí, voltar a colecionar’. Daí eu comecei a comprar, fiz a coleção dos brasileiros e daí me empolguei”, recorda o colecionador, que estima ter comprado cerca de 500 miniaturas só nos últimos quatro ano.

Conseguir os veículos desejados, contudo, não é tarefa fácil. Primeiro porque muitas miniaturas são difíceis de se encontrar alguém vendendo os produtos. Além disso, as coleções não são feitas com a compra de todas as réplicas de uma só vez, mas sim com a aquisição peça por peça. “Eu compro geralmente pelo eBay, principalmente de vendedores na Europa. Estados Unidos, China e Japão também tem alguma coisinha”, explica Miguel.

E o que mais poderia explicar tamanho esforço senão a paixão? Em quase 60 anos acompanhando a Formula 1, o engenheiro acabou se tornando praticamente um especialista no assunto. E com sua coleção, consegue fazer viagens no tempo. “Você sabe que eu venho quase todo dia aqui visitar a coleção. Ela fica um pouco longe, meu quarto é lá no fundo, mas eu venho, fico olhando aqui um pouquinho… Com os carros, consigo voltar a ter 10 anos de idade. Com a coleção, eu consigo voltar a ter 10 anos de idade. Eu consigo voltar lá atrás, quando mal conseguiámos uma fotogrofia da Formula 1. A gente lia no jornal o resultado da corrida e ficava esperando a revista Autoesporte chegar para poder ver as fotos daquela corrida, sendo que a revista vinha com dois meses de atraso para o resultado da corrida”, comenta, nostálgico, o aficcionado por automobilismo.

Uma paixão que vai passar do avô para os netos
Nas estantes na casa de Miguel onde a coleção de miniaturas fica exposta, há um congestionamento de carrinhos, como ele próprio brinca, e alguns poucos espaços vazios. Esses espaços, contudo, já estão reservados para os futuros campeões de Formula 1, os próximos veículos que a Ferrari utilizar na modalidade e há ainda um pequeno espaço em meio aos diversos veículos pilotados por brasileiros. É que o colecionador ainda não conseguiu a réplica do Brabham pilotado por Nelson Piquet em 1985 – ele está há dois anos atrás desse exemplar e diz que não se importa em esperar por mais dois ou três anos até achar uma boa oportunidade de negócio.

“Pelas minhas contas, em mais 15 anos eu consigo fechar a estante dos campeões de Formula 1”, conta Miguel, revelando ainda que já está preparando seus dois netos, que têm 7 e 9 anos, para darem continuidade à sua coleção. “Eles já pegaram o negócio e vão dar continuidade. Também fiz uma prateleira dessas para eles e comecei a comprar os carros para a coleção deles”, diz o avô, comemorando o fato de o automobilismo ter voltado a cair no gosto do brasileiro nos últimos tempos.

“Quando começou a Formula 1 tinha seis corridas por ano, depois foi para oito, dez… Hoje são 23 corridas disputadas anualmente, a mídia tomou conta. Houve um fenômeno muito também por causa da Netflix, com a série ‘Drive to Survive’. Isso fez crescer muito o interesse dos jovens pelo automobilismo, pela Formula 1, porque temos uma geração que não conheceu o Senna, o Piquet, o Fittipaldi, que eram figuras com as quais os brasileiros já se conectavam automaticamente. Não temos mais essas figuras, mas houve um bom retorno, a paixão pelo esporte voltou a crescer”, celebra.

Le Mans
As raridades e curiosidades nas prateleiras do colecionador

Entre as diferentes coleções expostas nas prateleiras de Miguel Higenberg Neto, a mais valiosa provavelmente é aquela formada pelos carros que venceram as 24 horas de Le Mans, uma das mais tradicionais corridas automobilísticas do mundo, disputada anualmente desde 1923, na França. Há outros veículos, no entanto, que chamam a atenção e encantam qualquer fã do esporte.

“EU tenho todos os carros que o Emerson Fittipaldi pilotou. O Emerson começou com a Lotus, ele foi campeão por essa equipe, com a McLaren, e depois ele pilotou a Copersucar. Ele correu em 1974 [pela McLaren], foi campeão e aí se retirou. Mas em 1976 ele voltou e começou a pilotar os carros da Copersucar, que ele e o irmão, Wilson, construíram aqui no Brasi. São veículos nacionais”, conta o colecionador.

Outra raridade de dar brilho nos olhos é uma miniatura da McLaren, pilotada em 1986 por Keke Rosberg no GP de Portugal. “Antigamente a McLaren corria com patrocínio da Marlboro, carro pintado de vermelho e branco. Numa corrida em 1986, porém, a equipe resolveu pintar o carro e correu com um veículo amarelo e branco, pilotado pelo Rosberg [numa ação de marketing da indústria tabagista Philip Morris, que queria promover a marca de cigarros Marlboro Lights]. Esse veículo é raríssimo, foi só uma corrida que eles correram assim. E eu lembro que levei alguns anos para conseguir comprar essa miniatura, porque não tinha mais disponível.”