Gastar um tempo modelando e transformando a argila em peças de cerâmica é mais do que apenas uma técnica de artesanato ou uma forma de arte. Para algumas pessoas, é uma verdadeira terapia, uma forma de esquecer um pouco os problemas do cotidiano, renovar as energias e, até mesmo, de desenvolver o autoconhecimento. Em Curitiba, um dos lugares que oferece curso de cerâmica é o Centro de Criatividade, localizado no Parque São Lourenço (Rua Mateus Leme, 4700).
No Centro de Criatividade, o curso oferecido pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) é comandado pelo artesão Paulo Oberik, um apaixonado pelo ofício. Ah, eu não sei parar. Eu gosto disso, afirma, que diz ter nascido com a arte no sangue. É hereditário, minha vó já trabalhava com cerâmica e eu, desde o meu primeiro emprego, com 13 anos, trabalhei com coisas relacionadas à arte. Frequentei a Escola de Belas Artes, o que me ajudou muito. Mas para mim foi fácil, já estava no sangue.
À frente do curso há 30 anos, ele conta que grande parte dos alunos procura o curso justamente como uma forma de terapia, enquanto outros buscam aprender novas técnicas de artesanato. Suas aulas, ministradas nas tardes de segunda e quarta-feira, atraem entre 10 e 15 pessoas, em sua maioria mulheres.
Temos alunos que já trabalham com artesanato e querem aprender uma outra técnica, mas também alunos que vem do zero, sem ter conhecimento nenhum. Muitos vem aqui também para fazer terapia. São pessoas com problemas como depressão e (o curso) ajuda bastante. A argila em si já é uma terapia, só de manusear, explica Oberik, contando ainda que muitos dos alunos que começam o curso como uma forma de terapia acabam pegando gosto pela arte e não param mais.
Tive alunos que vieram fazer terapia, aprenderam a técnica e hoje são ceramistas premiados. Teve uma aluna que veio para cá no último grau de depressão. Daí ela conseguiu aprender as técnicas direitinho, fez uma peça, mandou para o salão e ganhou o primeiro prêmio. Com isso não teve mais depressão, brinca o professor.
Uma das alunas que aproveita o curso como uma forma de terapia é a aposentada Maristela Macedo Prata. Há quatro anos, ela e o sobrinho, Mikhael, que é aluno de inclusão, frequentam as aulas de Oberik. Eu comecei pelo meu sobrinho, e tanto para mim como para ele foi ótimo, é uma terapia. Nós adoramos (o curso), tanto que continuamos produzindo as peças. Estamos sempre fazendo coisas para a casa, para a família, relata.
A descoberta da cerâmica, inclusive, veio em boa hora. Maristela sempre foi apaixonada por tear e chegou a fazer cursos sobre o assunto. Contudo, um problema no braço — o mesmo que a obrigou a se aposentar — acabou a impedindo de continuar, já que era muita dor.
Aí eu vi o curso de cerâmica e resolvi trazer o meu sobrinho pra mais uma atividade. E acabamos nos apaixonando, hoje a cerâmica é a nossa paixão. E acaba um ajudando o outro a não parar, diz ela.
Mas apesar de todas de tudo o que a argila e as aulas de cerâmica oferece, o interesse pelo curso, e até mesmo pela arte, tem diminuído ao longo dos últimos anos, situação que é muito lamentada por Oberik. Falta divulgação (para o curso) e incentivo (para os artistas). É muita concorrência de outros países, como a China, e isso nos enfraqueceu muito. Fazemos um trabalho manual, aprendendo as técnicas direitinho, mas daí quando vai para a venda, não atinge o valor dos produtos que chegam importados.
Paulo Oberik coordena o curso no São Lourenço: Está no sangue
Espelho
Argiloterapia
Há mais de 20 anos a argila é utilizada na terapia de pacientes com problemas psicológicos, ajudando, principalmente, aqueles que têm dificuldades para se expressar verbalmente.
A técnica foi criada pela psicóloga curitibana Maria da Glória Bozza, autora do livro Argila: Espelho da Auto-Expressão, pode ser aplicada de três maneiras diferentes. Numa, psicólogo e paciente modelam uma escultura de argila com tema livre. A ideia que a obra expresse algo que está relacionado ao problema que a pessoa enfrenta. Se o paciente optar por não fazer a escultura, ele também pode ser levado até uma sala, onde escolhe em uma estante uma entre diversas peças, o que também pode deixar transparecer angústias, medos e dificuldades. Por fim, o profissional também pode eleger uma escultura que diga algo sobre o que o paciente sente, após ele dizer alguma coisa sobre si mesmo.