Segunda Guerra Mundial deixou marcas no Paraná

No Paraná, imigrantes passaram a ser perseguidos antes mesmo do conflito. Escola Alemã/Colégio Progresso é um dos maiores símbolos dessa época

Rodolfo Luis Kowalski

As marcas da 2ª Guerra Mundial, que deixou um saldo de mais de 40 milhões de mortos (em sua maioria civis), até hoje perduram. E não apenas na Europa e na Ásia, mas também no Paraná onde, antes mesmo do conflito as tensões eram crescentes. Esta semana marca o fim do conflito, após as explosões das bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, nos dias 6 e 8 de agosto de 1045.

Em Curitiba, um dos maiores símbolos do período entreguerras (1919-1939) e das tensões crescentes que antecederam o 2º conflito mundial foi a Escola Alemã/Colégio Progresso. Fundada em 1867 por imigrantes evangélicos alemães que vieram de Joinville e Rio Negro à Curitiba, a instituição de ensino, que ficava onde hoje é a Praça do Homem Nu, chegou a ser uma das maiores da cidade no começo do século XX, recebendo alunos alemães e de descendência alemã, mas também alunos brasileiros e, inclusive, sem nenhum recurso financeiro.
Segundo a historiadora Regina Maria Schimmelpfeng de Souza, autora do livro A estrada do poente, que conta a historia da instituição de ensino, no princípio, a relação dos imigrantes e seus descendentes com os nativos era harmoniosa. No começo do século XX, a comunidade de origem alemã estava plenamente inserida na região sul, com suas igrejas, cultos e manifestações culturais e esportivas reconhecidas e atuantes. Na economia, estavam presentes nos mais diversos setores produtivos – dados da Junta Comercial do Paraná (Jucepar) revelam que entre 1920 e 1929 mais da metade (71,3%) das empresas curitibanas haviam sido por indivíduos de ascendência não luso-brasileira, sendo os alemães responsáveis por 45,3% dos registros.
Ao mesmo tempo em que a comunidade alemã prosperava, a Escola Alemã, que em 1917 teve de fechar as portas após ter sido invadidada e vandalizada, renascia. Com a ajuda de doações feitas por empresas e pessoas físicas, foi possível abrir o ginásio (quatro anos finais do atual ensino fundamental), por exemplo.
Em 1933, quando foi inaugurado um prédio anexo na Escola Alemã, a elite de Curitiba estava presente na festa. Na parede, um retrato de Vargas e outro de Hitler, relata Regina.
Em 1937, porém, a situação começou a mudar por completo após o golpe de estado aplicado por Getúlio Vargas, que teve como pretexto a existência de um plano comunista para tomada de poder, inaugurando o Estado Novo, marcado pelo exacerbado nacionalismo. Os imigrantes, que até então eram vistos como pessoas honradas, passaram a ser representados como alienígenas e resistentes à assimilação.
Os curitibanos e os imigrantes conviveram bem por um tempo, eram iguais. Mas com o Estado Novo eles viraram inimigos. Qualquer coisa que os imigrantes fizessem era considerada perigosa, afirma Regina.
Para a Escola Alemã, o começo do Estado Novo marcou o fim de sua historia. É que a chamada Campanha de Nacionalização do Ensino proibiu o aprendizado em qualquer outro idioma que não o nacional, e também foi o ponto de partida para um processo de mudanças na direção e no corpo docente da escola, que deveria ser formado por brasileiros.
Com o Estado Novo, a escola foi nacionalizada e proibida de funcionar com professores alemães. Mais tarde, como eles deviam impostos, foram obrigados a assinar acordos e passaram a maior parte dos bens para a Faculdade de Medicina do Paraná, conta a historiadora. Acho que eles (Estado) queriam cortar o poderio financeiro dos imigrantes. Havia um temor que essas pessoas pudessem ajudar numa possível invasão ao Brasil.