ONIBUS ELETRICO RAFAEL GRECA
Curitiba conta atualmente com sete ônibus elétricos em sua frota, mas número deve aumentar expressivamente em breve (Foto: Franklin de Freitas)

A eletrificação de veículos pesados (caminhões e ônibus) começa a ganhar fôlego no Brasil. De acordo com dados da Plataforma E-Bus Radar, até outubro deste ano o país contava com 1.166 ônibus elétricos em operação. A maioria desses veículos (841 ou 72% do total) estão em São Paulo (SP). Curitiba, por sua vez, tem sete ônibus elétricos, mas não é sequer a cidade paranaense mais destacada no ranking. Fica atrás de Cascavel, no oeste do Paraná, com 13 veículos, e logo a frente de Maringá, com dois ônibus. No total, então, são 22 ônibus elétricos atuando no transporte público paranaense. Número que deve aumentar em breve, num movimento que vai colocar a capital do estado como referência nacional.

Atualmente, duas linhas de ônibus de Curitiba já receberam ônibus 100% elétricos da Prefeitura, num movimento inicial da eletromobilidade no transporte coletivo da Capital. São seis veículos nas linhas 010-Interbairros I (horário) e 011-Interbairros I (anti-horário) e um na linha 863-Água Verde. Os veículos em funcionamento são das marcas BYD e Volvo. Cada um evita, em média, a emissão de 118,7 toneladas de CO2 ao ano na atmosfera, o equivalente ao plantio de 847 árvores por veículo.

Esses ônibus foram também os primeiros da frota da cidade com ar-condicionado, para melhor conforto térmico dos passageiros. Além disso, têm piso baixo para facilitar o embarque e desembarque de pessoas com mobilidade reduzida e contam com entradas USB para recarga de celulares.

Em breve, no entanto, essa frota de ônibus elétricos deve crescer expressivamente na cidade. Isso porque Curitiba tem como meta descarbonizar 33% da frota do transporte coletivo até 2030 e 100% até 2050. Considerando que a frota total da cidade (operante + reserva) é de 1.543 ônibus, de acordo com a Urbs, isso significa que nos próximos cinco anos a cidade deve ganhar cerca de 450 ônibus elétricos.

Investimento bilionário à vista

No final de junho deste ano, a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovou dois projetos de lei que autorizam o Poder Executivo a contratar empréstimos que somam pouco mais de R$ 1 bilhão. Os financiamentos são voltados à ampliação da frota de ônibus elétricos e à geração de energia solar, dentro do Programa Curitiba Carbono Neutro.

Uma dessas operações de crédito, no valor de até R$ 380 milhões, foi contratada junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O financiamento será destinado à aquisição de 54 ônibus articulados elétricos para a frota da linha Inter 2 e à implantação de dois eletropostos públicos para a recarga dos veículos.

Além disso, os vereadores da cidade também autorizaram a contratação de financiamento com o banco alemão Kreditanstalt Für Wiederaufbau (KfW), no valor de até R$ 100 milhões de euros (cerca de R$ 633 milhões, atualmente). Os recursos servirão para a aquisição de ônibus elétricos para as linhas BRT Leste-Oeste e Interbairros II, que transportam uma média diária de 355 mil passageiros. Além disso, prevê-se também a instalação de sistemas fotovoltaicos em prédios públicos, como escolas e terminais de transporte.

Curitiba pode se tornar a segunda cidade com mais ônibus elétricos no país

Só com a aquisição de 54 ônibus articulados elétricos para a frota da linha Inter 2, Curitiba já tende a se tornar a segunda cidade brasileira com mais ônibus elétricos do país. Seriam 61 veículos, número superior aos registros atuais em cidades como Belém (45), Goiânia (19) e São José dos Campos (14). Com isso, a capital paranaense ficaria atrás apenas da capital paulista, que conta com 841 veículos desse tipo em sua frota.

De acordo com os dados da Plataforma E-Bus Radar, 25 cidades ou regiões metropolitanas do Brasil possuam ônibus elétricos em suas frotas atualmente. No Paraná, são três municípios, já citados: Cascavel (13), Curitiba (7) e Maringá (2). Além das cidades já citadas, outros destaques são a Região Metropolitana de São Paulo (126 ônibus), a Região Metropolitana de Salvador (19), Porto Alegre (12) e Osasco (11) e Salvador (8). Curitiba, por sua vez, fica em oitavo lugar no ranking nacional (considerando-se apenas os municípios, e não as regiões metropolitanas), empatada com Brasília e Santos.

Avanços e oportunidades para o setor

Carlos Gabriel Bianchin, pesquisador do Lactec e coordenador da Unidade Embrapii de Inteligência Embarcada, aponta que o principal entrave para expansão da frota elétrica pesada no país é a infraestrutura de carregamento. “O maior desafio é compor a demanda de potência que o veículo elétrico pesado exige com o modelo de negócio apropriado, sem causar prejuízos ou investimentos que demorem a retornar para operadores e frotistas”, explica.

As estações de carregamento de alta potência exigem investimentos robustos e podem pressionar a rede elétrica. Para mitigar o impacto, Bianchin destaca o uso de sistemas de armazenamento de energia, capazes de equilibrar a demanda entre rede e baterias auxiliares, reduzindo custos e aumentando a estabilidade.

Outro desafio é a localização dos eletropostos. “Isso depende da região, da frota, da disponibilidade de energia elétrica e da aplicação de transporte. Cada caso precisa de um modelo de negócio customizado”, afirma o pesquisador.

Apesar dos obstáculos, o mercado apresenta oportunidades. Para os operadores de frotas, os veículos elétricos oferecem: redução de custos de manutenção, já que motores elétricos têm menos peças móveis; eliminação da necessidade de estoque de combustível; menor poluição sonora, com impacto positivo em áreas urbanas; ganhos de imagem e adequação a metas de descarbonização. Além disso, distribuidoras de energia têm papel central nesse ecossistema. Elas não apenas fornecem eletricidade, mas também podem investir em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para novas soluções de carregamento.