Os “caça-fantasmas” em ação em casa em Curitiba (Fotos Franklin de Freitas)
Os “caça-fantasmas” em ação em casa em Curitiba

Um grupo de Curitiba resolveu entrar de cabeça nos últimos anos em uma aventura aterrorizante. Desde 2021 a família Domingas, numa empreitada que envolve pai (Antônio Carlos) e filhos (Christiano Augusto, Élcio Fernando e Cleiton Eduardo), visita cemitérios, casas abandonadas e outros lugares tenebrosos, localizados em municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e de outras cidades, para desvendar lendas urbanas, numa busca pelo sobrenatural.

Para registrar as histórias, eles criaram um canal no YouTube chamado Os Legionários (nome do grupo), onde já postaram mais de 70 vídeos das visitas que fazem aos locais onde haveria atividade sobrenatural. Uma ideia que começou a ganhar vida anos atrás, quando a família viveu por mais de uma década numa casa considerada mal assombrada em Curitiba. Na época, Antônio Carlos ainda era um cético e seus filhos, apenas crianças.

“Eu era pequeno e a gente morava numa chacrinha perto do Passaúna. Nesse lugar, as pessoas vinham e perguntavam ‘como vocês têm coragem de morar nesse lugar? Aí morreu um casal de senhores, é assombrado’. Quem passava lá via pessoas, crianças na balança. Depois a gente começou a ouvir vozes, ver vultos…”, recorda Christiano. “No final, até meu pai, que no início não ligou muito pros relatos dos vizinhos, falava que era besteira, começou a acreditar nessas coisas.”

Após 14 anos morando nesse imóvel, a família finalmente conseguiu se mudar. O pai, então, deixou a profissão de caseiro e passou a trabalhar na área de saúde, enquanto os filhos foram pro setor de segurança, atuando como vigilantes. Alguns anos atrás, porém, viram o crescimento de canais no YouTube, alguns dos quais tratavam de lendas urbanas. “E pô, a gente também tem história, né? Temos precedência. Então conversamos e resolvemos montar um negócio assim também, começamos a pesquisar”, conta ainda Christiano

De início, os Legionários usavam apenas duas lanternas e câmeras de gravação. Com o tempo, porém, foram se aperfeiçoando. Hoje, por exemplo, usam dois medidores EMF K2 (detector de campo magnético, que serve para identificar a presença de entidades num local), um laser que ajuda a identificar vultos e serve também para ouriçar espíritos, além de um equipamento chamado spirit box – uma espécie de caixa de som que ajuda o espírito a se comunicar com seres humanos.

Além da parte técnica, a equipe também foi avançando nos estudos sobre o sobrenatural, descobrindo formas de se proteger e de lidar com essas entidades. “Até então a gente ia em lugares com energia muito pesada e isso começou a acompanhar a gente. Comecei a ter pesadelo, minha esposa também, e começamos a ver coisas estranhas dentro de casa. Aí comecei a buscar o espiritismo, busquei padre, busquei pastor. E o bom é que todo mundo ajudou: o pastor cedeu óleo ungido, o padre deu um crucifixo, uma água benta e sal grosso. Não temos preconceito com nenhum tipo de religião, escutamos um pouco de cada uma, até porque quanto mais proteção, melhor”, explica Christianno.

Equipamentos usados pelos “caça-fantasmas”

Em busca dos espíritos, eles enfrentam também perigos reais
Através das redes sociais e do próprio canal no YouTube, o grupo recebe indicações de lendas urbanas e lugares para visitar onde já houve alguma possível manifestação sobrenatural. A ideia nessas visitas, explica ainda a família, não é provocar as entidades, mas apenas mostrar o que realmente há nesses lugares dados como mal assombrados.

“Esses dias nós fomos num cemitério e encontramos dois espíritos lá, que pediram oração para nós. Fizemos e deu uma ventania forte bem na hora. Quando terminamos, parou a ventania e no final eles [espíritos] agradeceram pela oração. É um sentimento muito bacana isso, porque é um espírito que devia estar amargurado, devia estar preso ali, e nós conseguimos libertar ele através de uma oração, porque a oração de uma pessoa viva, encarnada, é muito forte, muito forte para os espíritos”, conta um dos legionários.

Na busca pelo sobrenatural, no entanto, muitas vezes o grupo acaba tendo de lidar com perigos reais. Uma das primeiras gravações, por exemplo, foi na Pedreira de Campo Magro. E quando eles faziam a filmagem por lá, um homem saiu armado do meio do mato com o facão e partiu para cima dos caça-fantasmas, que tiveram de dar no pé. “A gente vai pra buscar espírito, mas as vezes acaba encontrando alguma pessoa descontrolada ali”, comenta Christiano.

Em outro caso, no município de Rio Negrinho, já era passado de meia-noite quando o grupo se dirigia até uma cachoeira chamada Salto. A lenda dizia que um carroceiro teria caído do alto daquele lugar com a própria filha, após o cavalo que os carregava se desgovernar, e que todos morreram no acidente, o que acabou tornando o lugar mal assombrado. Só que no meio do caminho, antes de chegar na cachoeira, eles começaram a ouvir rugidos.

“Eu disse pro meu pai que era uma onça, ele falou que não e seguimos em frente. Daqui a pouco, a onça aparece na nossa frente. Era meia-noite e meia, a gente num lugar ermo. Pensei que ia morrer…. O pai falou pa gente não se mexer, não mostrar reação nenhuma e também não demonstrar medo. Ficamos uns cinco minutos parados, a onça mostrando os dentes pra gente. A boiada nossa foi que deu algum barulho no meio do mato, uma raposa ou alguma coisa, aí distraiu a onça, que foi para outro lado, e nós saímos correndo. Quase morremos esse dia”, recorda o legionário.

As experiências mais assustadoras
O que você deve estar querendo saber, no entanto, não são os causos de filmagem, e sim as experiências mais assustadoras que a família Domingas já teve em suas andanças. E um dos lugares que Christiano destaca é a chamada Casa Cemitério, que numa numa chácara no Umbará construída quase que só com itens de cemitério, conseguimos pela dona do imóvel através de uma doação. O Bem Paraná, inclusive, esteve no local na noite da última terça-feira (23 de maio), acompanhando Os Legionários.

O lugar, de fato, dá calafrios. Nas paredes, quadros com imagens estranhas de crianças. Em algumas das diversas prateleiras pelo casarão, decorações um tanto macabras. Além disso, todas as janelas do casarão são feita com vitrais de capelas e mausoléus, bem como as portas pela casa e até mesmo o portão de entrada do imóvel e outro que divide duas salas no segundo andar da casa são itens cemiteriais.

“A dona da casa ainda está viva. Ela viveu um ano lá com a família, mas depois foi embora o espaço foi transformado por um tempo numa casa de reabilitação. A mulher que construiu a casa foi perdendo tudo depois que terminou a obra, até o marido dela acabou falecendo. E hoje ninguém mora lá, ninguém tem coragem de morar lá. Até a terra em cima de onde foi construída, os enfeites na residência foram coisas pegas de cemitério. Hoje quem passa por ali diz que vê vulto nas janelas, vê gente se balançando numa cadeira de balanço que fica numa das varandas… O próprio caseiro nem passa pela casa de noite. Ele mora nos fundos e, quando precisa, dá a volta no terreno para não ter de passar perto da casa”, conta Christiano.

Outras experiência marcante para o legionário foi uma gravação em Almirante Tamandaré, na RMC, em um terreno com uma casa de alvenaria, onde viveu por alguns anos um casal. “Só que esse casal sofreu um acidente e o cara ficou com problemas psicológicos depois disso, ficou meio maluco da cabeça”, relata ele, explicando que esse homem tinha de tomar todos os dias remédios fortes, tarja preta, e que como sua esposa trabalhava, quem cuidava dele durante o dia e o medicava era uma outra pessoa.

“Só que um dia essa mulher que dava os remédios saiu antes [da casa do casal], não voltou e esqueceu de dar os remédios pro rapaz. Quando a esposa voltou para casa após o trabalho, ele pegou ela com uma faca e desferiu um monte de facada. Ele matou a mulher e jogou o corpo dela num poço que fica na frente da casa. Depois disso os vizinhos começaram a ouvir uma mulher pedindo socorro e até a ver uma mulher de branco andando pelo terreno. Quando fomos lá, o espírito apareceu pra gente: vimos ela passando na frente de uma janela quando estávamos dentro da casa e depois ela saindo do poço. Foi assustador.”