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Estudo mostra Curitiba com bons indicadores em vários aspectos (Franklin de Freitas)

Curitiba é a capital menos desigual do Brasil. É isso o que revela o Mapa da Desigualdade entre as Capitais, divulgado ontem pelo Instituto Cidades Sustentáveis. Conforme o levantamento, que considerou indicadores como educação, renda, pobreza, trabalho e ações climáticas, entre outros, a capital paranaense, com 1,73 milhão de habitantes, consegue oferecer resultados acima da média dos outros 25 municípios analisados, tendo somado 677 pontos, cinco a mais que Florianópolis (capital de Santa Catarina e 2º colocado). Na outra ponta, as cidades de Recife (capital de Pernambuco, com 392 pontos) e Porto Velho (capital de Rondônia, com 373) tiveram o pior desempenho nacional.

O cálculo do desempenho geral das capitais, explica o Instituto Cidades Sustentáveis, considerou a classificação ou ranqueamento dessas cidades em cada um dos 40 indicadores analisados pela pesquisa. Para esse propósito, foi adotado um sistema de pontos, no qual 26 pontos foram atribuídos ao primeiro lugar (melhor desempenho no quesito analisado), 25 ao segundo e assim por diante. Já o resultado final de desempenho de cada capital foi obtido pela soma dos pontos conquistados em todos os indicadores avaliados, de forma que a pontuação final reflete o desempenho geral do município em relação ao conjunto de indicadores considerados.

Entre os 40 indicadores pesquisados – cujos temas cobrem diversas áreas de atuação da administração pública e também fazem referência aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) -, Curitiba apresentou desempenho acima da média em 26 (65% do total), ficou dentro da média em seis (15%) e abaixo da média em outros oito (20%). “Mesmo as cidades melhores colocadas [no ranking] trazem desafios”, destacou Jorge Abrahão, coordenador geral do Instituto. “Eu olharia com uma visão positiva esse resultado [de Curitiba], mas entendendo que ele encerra alguns desafios que Curitiba ainda não conseguiu resolver.”

Começando pelas boas notícias, a capital paranaense destaca-se por ter universalizado o acesso ao serviço de água e ter garantido que 100% das escolas de ensino fundamental possuem acesso à internet, ficando em primeiro lugar nos dois tópicos entre todas as capitais.

Além disso, em outros seis indicadores a capital paranaense ficou na segunda colocação: proporção de pessoas na extrema pobreza (2,3%), gravidez na adolescência (6,7% das mães na cidade têm menos de 19 anos), mortalidade infantil (7,3 para cada mil crianças nascidas vivas), taxa de distorção idade-série nos anos finais do Ensino Fundamental (5,2% dos alunos têm idade de 2 ou mais anos acima da esperada para o ano em que estão matriculados), população atendida com esgotamento sanitário (99,98%) e esgoto tratado antes de chegar ao mar, rios e córregos (90,99%).

Por outro lado, Curitiba teve desempenho abaixo da média de outras capitais em oito tópicos pesquisados. O pior resultado (24º lugar) diz respeito às famílias inscritas no Cadastro Único para programas sociais: 69,8% das famílias com acesso a benefícios sociais pelo CadÚnico possuem renda familiar per capita de até meio salário mínimo, proporção que só não é inferior a registrada em Campo Grande (65%) e Cuiabá (69%). Bahia (88,9%), por sua vez, ficou na primeira posição.

Outros pontos negativos dizem respeito ao fato de Curitiba ser: uma das capitais brasileiras com maior taxa de desnutrição infantil (1,69% das crianças com menos de cinco anos estariam desnutridas); uma das cidades com maior mortalidade por suicídio (7,893 por 100 mil habitantes); a pequena taxa de áreas florestadas e naturais (0,022); o alto índice de violência contra a população LGBTQI+ (4,889 ocorrências para cada 100 mil habitantes); o baixo número de equipamentos esportivos para a população (próximo de 0 para cada 100 mil habitantes); a razão da mortalidade infantil entre negros e não negros (0,92); o baixo investimento público em infraestrutura por habitante (R$ 88,899 per capita) e a proporção de domicílios com acesso à energia elétrica (98,2%).

ODSIndicadorValorPosição
1Famílias inscritas no Cadastro Único para programas sociais (%)69,74724º
1Proporção de pessoas com rendimento real efetivo domiciliar per capita inferior a US$1,9 por dia2,307
2Desnutrição infantil (%)1,6921º
3Cobertura de vacinas (%)72,939
3Idade média ao morrer70
3Gravidez na adolescência (%)6,649
3Mortalidade infantil (crianças menores de 1 ano) (mil nascidas vivas)7,268
3Mortalidade por suicídio (100 mil habitantes)7,89321º
4Acesso à internet nas escolas do ensino fundamental (%)100
4Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) – anos iniciais (IN)6
4Centros culturais, casas e espaços de cultura (100 mil habitantes)2,139
4Taxa de distorção idade-série nos anos finais do Ensino Fundamental (negros/não negros)5,2
4Percentual de pessoas sem instrução e fundamental incompleto ou equivalente (%)16,7
5Presença de vereadoras na Câmara Municipal (%)21,053
5Razão entre a taxa de realização de afazeres domésticos de mulheres e homens0,932
5Desigualdade de salário por sexo (salário de mulheres / salário de homens)0,7421º
5Taxa de feminicídio (100 mil mulheres)2,23
6População atendida com serviço de água (%)100
6População atendida com esgotamento sanitário (%)99,98
6Doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (100 mil habitantes)2,1912º
7Domicílios com acesso à energia elétrica (%)98,214º
8PIB per capita (R$ per capita)45318,46
8Taxa de desocupação (%)5,5
9Investimento público em infraestrutura por habitante (R$ per capita)88,89915º
10Razão do rendimento médio real (negros/não negros)0,57516º
10Coeficiente de Gini (IN)0,503
10Razão mortalidade infantil (negros/não negros)0,9219º
10Razão Gravidez na Adolescência (negros/não negros)1,22
10Violência contra a população LGBTQI+ (100 mil habitantes)4,88918º
11Equipamentos esportivos (100 mil habitantes)016º
11Domicílios em favelas (%)6,492
11Mortes no trânsito (100 mil habitantes)10,33714º
12Recuperação de resíduos sólidos urbanos coletados seletivamente2,92
13Percentual do município desflorestado (%)0,018
13Emissões de CO²e per capita1,556
14Esgoto tratado antes de chegar ao mar, rios e córregos (%)90,99
15Taxa de áreas florestadas e naturais0,02220º
16Taxa de homicídio (100 mil habitantes)18,69
16Homicídio juvenil (100 mil habitantes)79,98
17Relação entre Dívida Consolidada e Receita Corrente Líquida17,2
Fonte: Instituto Cidades Sustentáveis

Fontes

O Mapa da Desigualdade entre as capitais é baseado no Mapa da Desigualdade de São Paulo, que é publicado há mais de 10 anos pela Rede Nossa São Paulo e pelo Instituto Cidades Sustentáveis.

As fontes dos dados são órgãos públicos oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

Também foram utilizados dados de organizações não-governamentais em dois temas: emissões de CO2 per capita – com dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima (OC) –; e desmatamento – com dados do MapBiomas.

Prefeito de Curitiba comemora resultados: “Temos promovido uma verdadeira revolução”

O bom desempenho de Curitiba no Mapa da Desigualdade entre as Capitais foi celebrado pela Prefeitura de Curitiba. O prefeito Rafael Greca, por exemplo, destacou que sua gestão teria promovido “uma verdadeira revolução na educação, na adoção de ações de mitigação dos efeitos climáticos, nos serviços públicos, na ampliação da rede de proteção social e no apoio ao empreendedorismo”. Ainda segundo Greca, o destaque da capital paranaense, que aparece como a capital mais igualitária do país no levantamento do Instituto Cidades Sustentáveis, “só confirma que estamos no caminho certo de tornar Curitiba cada vez mais justa, humana, empreendedora e inteligente”.

Na Educação, por exemplo, o município ressalta que a oferta da educação integral, nos últimos sete anos, foi ampliada de 87 para 156 escolas. Também houve aumento na oferta de vagas em creche e foram feitos investimento para a oferta de aulas de robótica aos estudantes da rede municipal, por exemplo.

Outro ponto destacado pelo município foi a oferta de uma Rede de Proteção Social, que desenvolve várias ações de forma integrada para beneficiar a população em situação de rua na cidade. Só no programa Mesa Solidária, por exemplo, mais de 1,3 milhão de refeições já foram distribuídas gratuitamente e mais de 1 mil pessoas são atendidas diariamente nas casas de passagem.

Por fim, ressaltou-se também o compromisso de Curitiba em apoiar a geração de emprego e renda na cidade, com iniciativas do Vale do Pinhão (inclusive com a inauguração do Pinhão Hub neste mês) e ações voltadas para a sustentabilidade urbana, com o uso de energia limpa para veículos coletivos e equipamentos públicos e obras e ações socioambientais.

Ranking da desigualdade entre as capitais brasileiras
(quanto maior a pontuação do município, menor a desigualdade na localidade)
Curitiba: 677
Florianópolis: 672
Belo Horizonte: 615
Palmas: 607
São Paulo: 594
Vitória: 590
Cuiabá: 583
Porto Alegre: 580
Goiânia: 578
Campo Grande: 549
Rio de Janeiro: 548
Natal: 516
Boa Vista: 498
Teresina: 473
Aracaju: 468
João Pessoa: 463
Salvador: 438
Macapá: 435
São Luis: 435
Fortaleza: 431
Maceió: 428
Rio Branco: 424
Manaus: 417
Belém: 393
Recife: 392
Porto Velho:  373