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Foto: Divulgação/Imagem Ilustrativa

Um caso de injúria racial em um supermercado de Curitiba virou caso de polícia nesta sexta (20). A jovem Isabela Cauane Nascimento Machado, 18 anos, foi o supermercado Condor no bairro Boa Vista por volta das 10 horas quando o segurança perguntou se ela preferia lacrar a bolsa ou guardá-la no armário. Ela acatou o pedido e lacrou a bolsa por acreditar que era procedimento padrão do estabelecimento. Porém, percebeu que nenhuma pessoa branca com bolsas semelhantes a sua foi abordada pelo segurança ou teve que lacrar a bolsa.

“Eu estava com uma eco bag de tamanho médio a grande, mas eu vi uma mulher com uma bolsa até maior que a minha que não foi abordada pelo segurança. Foi quando decidi chamar minha mãe. Ela foi até lá, conversou com o gerente que disse que era prática comum do supermercado. Mas neste caso, pelo o que vi, é uma prática só com pessoas pretas”, contou Isabela à reportagem do Bem Paraná. As duas então chamaram a Polícia Militar que foi ao local. A vítima e um funcionário do Condor foram então à Central de Flagrantes da Polícia Civil para lavrar Boletim de Ocorrência.

“Denúncia é a melhor opção”, diz vítima de injúria racial

“Eu espero que os supermercado se responsabilize, que a segurança adote um processo padrão para ambos os lados, para brancos e pretos”. Infelizmente, não é a primeira que Isabele é vítima de racismo. Neste ano, ela foi à Polícia denunciar um professor que teria cometido o mesmo crime. Segundo ela, uma audiência deve ser marcada em breve. A jovem reforça: “Denúncia é a melhor opção. Só assim as pessoas vão aprender que racismo é crime”.

O Bem Paraná entrou em contato com a assessoria de imprensa do supermercado Condor, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem.

O que diz o supermercado

Nota de Esclarecimento

Em nota encaminhada ao Bem Paraná, o supermercado Condor informou que todos os clientes são tratados da mesma maneira. “A rede informa que tem intensificado as medidas de segurança em suas lojas, sempre com o objetivo de oferecer uma experiência mais segura e acolhedora a todos. Como parte desse processo, nossos colaboradores solicitam aos clientes com mochilas que optem por guardá-las no guarda-volumes ou lacrá-las. Ressaltamos que essa medida é aplicada de forma uniforme, sem qualquer distinção de cor, idade, gênero ou etnia”, diz o Condor, na nota. “Reafirmamos nosso compromisso inegociável com a igualdade, o respeito e a valorização da diversidade. Estamos firmes na luta contra qualquer forma de preconceito e na construção de um ambiente em que todos se sintam bem-vindos”.

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Crimes de injúria racial e racismo estão em alta no Paraná

Ao longo de cinco anos (entre 2018 e 2022), por exemplo, 73.347 casos envolvendo ofensas de cunho racista foram registradas em todo o país, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (que se baseia em informações fornecidas pelas secretarias de segurança pública estaduais). E o Paraná foi, nesse período, o quinto estado com mais ocorrências registradas: 6.635 ao todo, sendo 5.955 casos de injúria racial e outros 680 de racismo.

Em todo o país, apenas os também sulistas estados do Rio Grande do Sul (10.635) e de Santa Catarina (10.571) registraram mais ocorrências nesses cinco anos, além de Rio de Janeiro (7.433) e São Paulo (7.036) — que ficam no Sudeste e possuem população maior que a paranaense.

Além disso, os números oficiais também apontam para uma crescente nas ocorrências desse tipo no Paraná. Por um lado, pode apontar que condutas racistas não estão mais sendo toleradas e estão sendo cada vez mais denunciadas; por outro, também pode ser sintoma de um agravamento do quadro de violência racial.

Em 2022, por exemplo, 1.658 casos de racismo e injúria racial foram registrados no Paraná, conforme o Anuário de Segurança Pública, número 37% superior aos 1.208 registros de 2021. Sobre 2023, ainda não há dados do Anuário, mas a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou recentemente que 1.800 denúncias de racismo ou injúria racial foram registradas no ano passado, o que indica a possibilidade de uma nova alta (o quarto consecutivo) e um novo recorde de registros ao longo de um ano no estado.

O que diz a lei

A injúria racial é a ofensa praticada contra alguém em razão de sua raça, cor, etnia ou origem. O racismo, por outro lado, é a discriminação praticada contra toda uma coletividade. Um exemplo de racismo é impedir que uma pessoa negra assuma uma função, emprego ou entre em um estabelecimento por causa da cor de sua pele. Desde 2023, quando foi sancionada a Lei 14.532/23, a pena para os dois crimes é a mesma: 2 a 5 anos de prisão, com possibilidade da pena ser dobrada se o crime for cometido por duas ou mais pessoas.