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A 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) negou, nesta quinta (16) por três a dois votos o pedido para anular a condenação de Beatriz Cordeiro Abagge pelo desaparecimento e morte do menino Evandro Ramos Caetano, em 1992 na cidade de Guaratuba, no Litoral do Estado. Nas redes sociais, Beatriz afirmou “já esperava” a decisão e sinalizou que deve recorrer.

Os desembargadores reconheceram a gravidade da possível tortura, denunciada em áudios divulgados pelo podcast Projeto Humanos, do jornalista Ivan Mizanzuk, e pela série Caso Evandro, da Globoplay. Mas seguiram o voto do relator, desembargador Mauro Bley Pereira Junior, ao entenderem que as gravações não poderiam ser aceitas como prova por precisarem passar por comprovação judicial. Beatriz foi torturada pelo então chamado Grupo Aguia (Ação de Grupo Unido de Inteligência e Ataque), da Polícia Militar

Em dezembro de 2021, o Governo do Paraná fez um pedido formal de perdão aos 7 acusados. Na ocasião, a Secretaria da Justiça, Família e Trabalho admitiu a ocorrência de tortura.
Crime

A defesa também pediu a anulação das condenações de Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos Soares, mas por uma questão processual, a Justiça entendeu que o julgamento deve ocorrer por outra Câmara.

Para entender o caso

O desaparecimento

Evandro Caetano, de 6 anos, desapareceu em abril de 1992, em uma época em que várias crianças sumiram na região, gerando um clima de pânico social. Sua mãe permitiu que ele fosse sozinho à escola, a 150 m de sua casa. Cinco dias depois, o corpo da vítima foi encontrado com mutilações e sem as vísceras e órgão internos.

As investigações

A Polícia Civil e o Grupo Águia da Polícia Militar do Paraná seguiram uma linha de investigação levantada por um ex-investigador de polícia, desafeto político dos Abbage, que apontou Celina, então primeira-dama da cidade, sua filha Beatriz e outras cinco pessoas como autores do crime em um ritual de sacrifício. Os acusados passaram a ser conhecidos como “bruxos de Guaratuba”.

A denúncia

Os sete acusados foram denunciados por homicídio qualificado, sequestro e ocultação de cadáver pelo MP do Paraná. Foi acatada a tese da investigação de que a criança teria sido utilizada em um ritual de magia negra para obtenção de benefícios materiais junto a espíritos satânicos.

Julgamento e condenações

O primeiro julgamento de Celina e Beatriz, em 1998, durou 34 dias e é o mais longo da história da Justiça brasileira. No veredicto elas foram consideradas inocentes, mas o júri foi anulado um ano depois. Em maio de 2011, dois dos acusados, Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli dos Santos, foram absolvidos e os demais foram condenados. Celina, então com mais de 70 anos, não foi a julgamento devido à prescrição do crime.

Reviravolta no caso

Em 2018, o jornalista e professor universitário Ivan Mizanzuk investigou o caso e conseguiu os áudios originais do interrogatório das vítimas, expondo falhas na investigação e indícios de que a confissão dos acusados foi arrancada sob tortura. As descobertas foram descritas no podcast Projeto Humanos, de Mizanzuk, e serviram de base para o pedido de revisão criminal do caso.