Paraná "Tosse comprida"

Casos de coqueluche no ano passado subiram 1.253%, mostra levantamento

Cláudia Collucci - Folhapess
coqueluche

Imunizante contra a coqueluche (Foto: SESA-PR)

No ano passado o número de casos de coqueluche entre crianças menores de 5 anos teve um salto de 1.253% no Brasil, comparado a 2023. Foram 4.304 registros contra 318 um ano antes.

No mesmo período, as internações tiveram alta de 217% (1.330 contra 420). Neste ano, o país já havia registrado até agosto 1.148 casos da doença e 577 internações.

Os dados são de um levantamento do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (FMP/Unifase), com base em informações do DataSUS.

Conhecida popularmente como tosse comprida, a coqueluche é uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis. A transmissão ocorre por meio de gotículas eliminadas na tosse, fala ou espirro.

O período de incubação é de cinco a dez dias, em média, mas pode variar de quatro a 21 dias.

O aumento de mortes decorrentes da doença também preocupa. Em 2024, foram 14 óbitos entre crianças com menos de cinco anos, contra dez no acumulado entre 2019 e 2023.

Para os pesquisadores, embora o Brasil tenha avançado na cobertura vacinal da DTP (tríplice bacteriana-diarreia, tétano e coqueluche) em menores de 1 ano, a circulação da doença persiste em alguns bolsões onde há baixa cobertura, especialmente das doses de reforço.

A cobertura da DTP passou de 87,6%, em 2023, para 90,2%, em 2024. No entanto, o índice ainda não alcançou a meta nacional de 95% definida pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações).

Segundo a pesquisadora Patrícia Bocollini, uma das coordenadoras do Observa Infância, a cobertura vacinal é muito desigual entre os municípios.

“Os números nacionais, estaduais às vezes não refletem o que está acontecendo no micro. Há uma heterogeneidade vacinal muito grande e isso cria brecha para que se tenha uma população mais vulnerável.”

Dados de um relatório do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que, em 2024, 2,3 milhões de crianças haviam recebido a primeira dose da DPT no Brasil, enquanto 229 mil não haviam recebido nenhuma dose dessa vacina.

De acordo com o levantamento do Observa Infância, no ano passado, a taxa média nacional de incidência de coqueluche ficou em 95 casos para cada 100 mil crianças. Os índices mais altos foram registrados nos estados do Paraná (443,9), Distrito Federal (247,1) e Santa Catarina (175,9).

Em relação às internações, as maiores taxas ocorreram no Amapá (158,3 por 100 mil), em Santa Catarina (83,5) e no Espírito Santo (46,0). São números maiores do que a média de 29,4 registrada em todo o Brasil no ano passado.

Entre os fatores que explicariam a alta de casos e de internações estão atrasos nas doses de reforço da vacina, cuja cobertura é historicamente baixa, mas que piorou no período da pandemia de Covid.

O esquema vacinal da DTP prevê três doses no primeiro semestre de vida (aos 2, 4 e 6 meses), além de reforços aos 15 meses e aos 4 anos.

“Muitas crianças não foram vacinadas ou não foram imunizadas quando deveriam ter sido. Esses suscetíveis ficaram ali e agora a gente está vendo esse desdobrar”, diz a pesquisadora.

Devido à pandemia, entre 2020 e 2022 unidades básicas de saúde precisaram reorganizar atendimentos e adaptar estruturas. Parte dos profissionais foi direcionada para o combate à Covid, e as campanhas de imunização infantil perderam prioridade.

De acordo com Bocollini, outra hipótese para a alta de casos de coqueluche é a baixa adesão à DTPA, vacina tríplice bacteriana acelular do tipo adulto, indicada especialmente para gestantes, visando a proteção materna e a transferência de anticorpos para os bebês. A vacinação deve ser feita a cada gestação, preferencialmente no terceiro trimestre.

Na opinião da pesquisadora, é preciso intensificar as campanhas voltadas para as doses de reforço da DTP e fazer busca ativa e repescagem dos não vacinados. “A atenção básica é a chave para se chegar nessas crianças que ainda não foram alcançadas com todas as doses da vacina.”

Nesta segunda-feira (6), começou a Campanha Nacional de Multivacinação, voltada para crianças e adolescentes menores de 15 anos que estejam com alguma dose atrasada.

Em junho deste ano, a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) divulgou boletim com alerta epidemiológico para o aumento de casos de coqueluche na região das Américas. Em agosto, a organização chamou a atenção para o surgimento e propagação de cepas resistentes a antibiótico e reiterou a importância de os países fortalecerem os sistemas de vacinação e de vigilância.

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