Paraná

Cehgou a “temporada de resgastes” nas montanhas do Marumbi, no Litoral do Paraná

Mario Akira
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Parque Estadual Pico do Marumbi (Foto: Denis Ferreira Netto/SEDEST-PR)

A chamada “temporada de resgastes” nas montanhas do Marumbi, no Litoral do Paraná, começou. O alerta é do Corpo de Socorro em Montanha (Cosmo), grupamento formado por montanhistas experientes que atuam em parceria com o Instituto Água e Terra (IAT) para garantir a segurança de visitantes no Parque Estadual Pico do Marumbi, em Morretes, no Litoral.

Segundo o alerta, 75% das ocorrências registradas na Unidade de Conservação ocorrem entre outubro e maio, fora da chamada “temporada de montanha”, um período marcado por chuvas mais intensas, calor elevado e menos pontos de hidratação.

O levantamento, finalizado em 2023 com base em cadastros e registros de incidentes e acidentes, foi publicado pela organização SciELO Brasil, especializada em artigos científicos, e revela ainda que, entre os casos analisados, 58% dos incidentes estão relacionados a atrasos, cansaço e desidratação; 39% envolvem quedas, fraturas ou doenças; e 3% correspondem a situações de pânico ou vertigem.

A pesquisa também mostrou que 56% dos visitantes são estreantes, o que reforça a importância do planejamento e do conhecimento prévio das trilhas.

Os trajetos mais procurados, Rochedinho (22%), Olimpo (21%) e Abrolhos (20%), concentram a maior parte das ocorrências, principalmente pela combinação entre o alto número de visitantes e o nível de exigência física. O estudo levou em consideração uma média ponderada de dados de 41.631 visitantes, entre os anos de 2002 e 2018.

Para Caius Marcellus Ferreira, coordenador de Comunicação do Cosmo, durante a temporada de montanha é comum que o público seja mais experiente, chegue cedo, utilize os equipamentos adequados e conheça bem os caminhos.

Já fora da temporada, ressalta ele, o perfil dos frequentadores costuma ser mais variado, o que pode resultar em situações de maior exigência física, como enfrentar o calor intenso e a menor disponibilidade de pontos de hidratação, fatores que demandam atenção redobrada para evitar incidentes, como quedas ou pequenas contusões.

“Quando dizemos que, ao encerrar a temporada de montanha, começa a temporada de resgates, pode até parecer uma brincadeira, mas na verdade é uma constatação baseada em dados preocupantes. O número de atendimentos é significativo e serve como um alerta. São situações que vão desde desidratação severa até exaustão extrema, o que muitas vezes impede a pessoa de continuar a trilha ou até mesmo de se locomover”, destaca Ferreira.

Segundo ele, os principais fatores que levam à necessidade de resgate são a falta de preparo físico, o desconhecimento do terreno e o planejamento inadequado, responsáveis por seis em cada dez atendimentos. “O cansaço compromete o julgamento, o que pode resultar em decisões erradas e, consequentemente, acidentes mais graves. Por isso, reforçamos sempre a importância do preparo, da hidratação e do planejamento adequado, especialmente fora da temporada”, diz o técnico.

Entre os itens do checklist que todo montanhista deve cumprir, Ferreira cita a necessidade de equipamentos compatíveis com a atividade, como calçados, perneiras e lanternas com pilha reserva, além do preenchimento do cadastro obrigatório com destino exato da trilha – qualquer alteração de trajeto sem comunicação prévia é considerada infração grave.

Outro ponto importante, destaca ele, é respeitar o horário limite para acesso às trilhas: impreterivelmente às 9 horas. “São itens que fazem parte de uma estrutura mínima obrigatória de recursos para trazer um pouco mais de segurança para o visitante. E é sempre bom lembrar, o celular não serve como lanterna. Serve para chamar ajuda em caso de necessidade”, afirma o coordenador.

RESGATE – Quando o resgate é necessário, um plantonista conhecido como “coelho”, vinculado ao Cosmo, é designado para acessar a vítima com uma mochila de resgate, equipada para diferentes situações. O protocolo básico inclui estabilização, hidratação e, se possível, o início da descida assistida.

Em casos mais severos, pode ser necessária a remoção aérea pelo Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas (BPMOA), desde que haja disponibilidade de aeronave e condições climáticas favoráveis.

Quando há lesões que impossibilitam a locomoção da vítima, como fraturas ou luxações, e a evacuação aérea não é viável, o resgate é feito por via terrestre. Nessas situações, estima-se que, para cada hora de subida, são necessárias até 10 horas de descida com maca, um processo complexo que envolve grande esforço humano e logístico.

Segundo o chefe do Parque Estadual Pico do Marumbi, Gabriel Camargo Macedo, para garantir a segurança e proporcionar uma experiência satisfatória no parque, é fundamental que os visitantes sigam os protocolos, incluindo o cadastro, a identificação e a assinatura do termo de risco, além das orientações do pessoal do Corpo de Socorro em Montanha. “Esses procedimentos funcionam como mecanismos de segurança, garantindo que, em caso de emergência ou necessidade de resgate, o visitante esteja em um ambiente controlado e acompanhado”, afirma.

“E de qualquer forma, independentemente da época do ano, a pessoa que vai fazer qualquer trilha deve estar atenta à hidratação e à alimentação. Se preparar adequadamente”, acrescenta.

ATRATIVOS – O Parque Estadual Pico do Marumbi tem 8,7 mil hectares de área e é classificado como Unidade de Conservação da Natureza de Proteção Integral, ou seja, um complexo ambiental com objetivo principal de conservar a rica biodiversidade local.

Entre os principais atrativos, destaque para parte da histórica Ferrovia Paranaguá-Curitiba, com diversas construções antigas como as Estações do Marumbi e Engenheiro Lange. Vale a visita também ao Salto dos Macacos; Caminho do Itupava; Conjunto do Marumbi, formado por diversos Picos que superam mil metros de altitude, como a Ponta do Tigre (1.400 m); e as trilhas Noroeste, Frontal e Morro do Rochedinho.

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