Quadros espalhados pelo salão, notícias antigas na parede, capas de discos enquadradas. Ao entrar na churrascaria, a primeira visão é o famoso balcão. Atrás dele, alguém ao telefone. “Churrascaria Ervin, bom dia?! A gente não trabalha com reserva, é por ordem de chegada, à la carte. Venha sim, quinta é um ótimo dia”.
Quem fala é Guilherme Boddy, sócio diretor na Ervin e neto do fundador do restaurante. Ele, que lembra de ajudar no negócio da família desde os 12 anos, diz que estão trabalhando para que a churrascaria sempre mantenha a tradição, mas também consiga inovar.
Antes de ser do nicho do churrasco, a Ervin nasceu como bar e sorveteria. O litógrafo desenhista Ervin Ofner, junto a sua esposa Adelaide, compraram o terreno – que é o mesmo até hoje – e abriram o negócio em 1947. Foram um dos pioneiros na produção de sorvete e continuaram assim até por volta dos anos 50, quando passaram a funcionar como restaurante. “Minha vó não aguentava mais servir os clientes que ficavam até de madrugada tomando pinga e comendo salaminho no salão… aí tiveram a ideia de começar a fazer algo diferente”, conta Guilherme.
O casal começou o restaurante fazendo frango com risoto e frango no espeto, mas logo depois já começaram a funcionar como churrascaria. Desde o início, o restaurante sempre teve produção caseira. Guilherme relembra de seus avós descascando batatas e cortando cebolas durante a madrugada, ingredientes que aliás faziam parte do carro-chefe da casa: filé, alcatra, maionese, cebola, tomate e um pepininho azedo, fabricado especialmente pela família.
A Ervin ficou no comando do casal até a velhice, quando a filha Vilma Boddy assumiu. Logo depois, em meados dos anos 2000, os filhos Guilherme e Rafael assumiram a chefia e continuam até hoje. O restaurante da família perdura o sonho do fundador. “Meu avô falava que era um sonho pra ele, amava trabalhar com a clientela”, relata Guilherme.
Hoje, a Ervin trabalha com mais opções de pratos, desde bife de ancho, picanha, peito de frango, até os tradicionais contra-filé e a alcatra, servidos com os acompanhamentos. Os pratos individuais também são novidade na casa e estão saindo mais. Os preços começam em R$54, num prato individual. Além dos pratos completos, petiscos também são servidos na churrascaria.
Desafio para cativar a “nova geração”
“Sabe que a churrascaria vai envelhecendo e a clientela também, né?”, inicia Guilherme. Para o restaurante que atendia o falecido Jaime Lerner e fez o jantar de inauguração do Shopping Mueller, acompanhar a nova clientela é um desafio. O empresário conta que começaram há pouco tempo com uma agência que cuida das redes sociais. “A gente não dá conta, é muita coisa. As pessoas estão querendo outras coisas, música mais rápida, ambiente diferente… o telefone hoje é o que menos toca, tem muito mais mensagem, direct no Instagram.”
Levantar a “nova geração Ervin” é o desafio que Guilherme e Rafael estão enfrentando agora, mas também se lembram que o legado que têm já diz muito sobre o que é a Ervin. “Nossa família fica feliz. Já temos um tempo de estrada e conseguimos continuar entre as melhores de Curitiba… não é pra qualquer um. Esse pessoal tradicional, se não se adequar, fica pra trás, né.”
No salão da Ervin o que não falta é o equilíbrio entre o antigo e as mais novas tecnologias. Com piso avermelhado, cadeiras e mesas de madeira e bonitas janelas, a casa mantém o ar tradicional. Mas ao sentar para fazer seu pedido, o cardápio aparece em um tablet, onde o pedido é feito automaticamente. Claro, para os que preferem um cardápio tradicional, a casa os oferece também.
Sobre o povo curitibano, o restaurante já entende bem. “É um povo fiel, gasta bem, mas percebe o valor que tá pagando. Não adianta fazer um rodízio de excelente qualidade e cobrar 180 reais igual ao eixo Rio-SP… eles vão uma vez e depois já percebem, voltam para cá, porque o preço por pessoa cai.”
Gerações de Ervin Guilherme se lembra de como seu avô tocava o restaurante. Trabalhando apenas de sexta a domingo, ele gostava de aproveitar a vida. “Ele conseguiu construir a Ervin da forma que é hoje, trabalhando só três dias, ou seja, foi uma pessoa que curtiu mais a vida. Na segunda, ele ia pra praia, ficava até terça ou quarta, na quinta ia pescar com os amigos, aí na sexta ele ia no Mercado Municipal comprar batata, cenoura, cebola e as coisas que precisavam.”
O neto, que tem folga na segunda, aproveita para fazer o mesmo hoje em dia. “Eu aproveito para ir pra praia, curtir minhas filhas, só não vou pescar porque não gosto muito.” Sobre a próxima geração Ervin, ele conta que a filha pretende ser médica, mas o sobrinho fala sobre ficar na churrascaria. “Falo pra ele: então estude, quem sabe você abre uma em Miami. No balcão aqui já tem eu e o pai dele, né, tem que inovar”, finaliza.
A Ervin continua firme e forte no cenário da cidade. Tradicional como a família curitibana. Há mais de 70 anos servindo Curitiba.
Serviço
Rua Mateus Leme, 2746 – Centro Cívico
Terça à Sexta-feira das 11h30 às 14h0
Sábados, Domingos e Feriados das 11h00 às 15h30
Lívia Berbel, sob supervisão de Mario Akira