Na pandemia, circos pedem socorro: ‘Tem palhaço vendendo o sapato para comprar comida’

Fórum setorial lançou na última semana a campanha ‘Adote um circo’, que tenta evitar a quebra generalizada de companhias

Rodolfo Luis Kowalski

Franklin de Freitas - Maioria dos circos corre risco de recolher a lona definitivamente

“Falido e sem perspectiva”. Essa é hoje a situação das companhias circenses, segundo carta divulgada na última semana pelo Fórum Setorial de Circo do Paraná (FSCP). Endividado após praticamente um ano sem público e ainda impedido de trabalhar por conta das restrições impostas para o enfrentamento da crise sanitária, o setor soltou na última semana um grito de socorro à sociedade, com o lançamento da campanha “Adote um Circo Brasileiro.

Segundo levantamento do próprio Fórum, existem hoje, registrados ou instalados em algum município paranaense, pelo menos 37 circos, com 827 integrantes nessas companhias. O grande temor, relata Marcio Francisco, presidente do FSCP e dono do The Big Circus, é que grande parte dessas empresas, quando autorizadas a retomar os espetáculos, já não tenha mais condição de iluminar o picadeiro.

Não é exagero dizer que a arte milenar, após tempos caminhando tremulamente sobre a corda bamba, pode acabar finalmente beijando a lona. Nos anos 1970, por exemplo, haviam mais de 2 mil companhias circenses espalhadas pelo país. Já no ano passado, o Mapeamento dos Circos no Brasil, divulgado no final de julho pela Fundação Nacional de Artes (Funartes), apontava que apenas 645 circos resistiam em todo o país. Diante do cenário atual, é possível esperar que esse número diminua ainda mais nos próximos anos.

“A situação dos circos do Paraná, acho que do Brasil inteiro, é lamentável, de profundo desespero. Alguns não vão voltar, está correndo risco de extinguir o circo. Pessoal está vendendo caminhonete, lona… Tem palhaço vendendo sapato para poder comer, gente, motoqueiro vendendo o globo da morte”, relata o presidente do Fórum Setorial. “O circo está numa situação lamentável, de profunda tristeza, profundo desespero. Falta alguém olhar para nós. O que levamos 50 anos para construir estamos perdendo tudo em um ano”, diz.

Para evitar que a situação se agrave mais, os circos se uniram e estão convocando o Poder Público e a sociedade civil para participar da campanha “Adote um Circo Brasileiro”. A ideia é que empresas, cooperativas, ONGs e mesmo pessoas físicas abracem a iniciativa, colaborando com contribuições de todo o tipo (materiais de trabalho, ajuda financeira ou donativo de alimentos). As doações financeiras serão destinadas para a compra de medicamentos, produtos de limpeza e manutenção, compra de roupas e calçados, entre outros. Já os itens doados serão compartilhados entre os colaboradores do circo de forma equânime.

A ideia é que, através do Fórum, as pessoas (físicas e jurídicas) cheguem até um circo, escolham uma companhia para apadrinhar e ajudar. “É só entrar em contato conosco e daí passamos o contato direto do circo. Além disso, empresários, governantes e moradores também podem chegar e fazer um acerto direto com o circo, fazer troca, oferecer patrocínio, permuta… Não queremos nada de graça, mas pedimos que nos ajudem hoje para que os seus filhos não fiquem sem circo amanhã. Precisamos manter viva a arte do circo, que é a arte mais pura. O circo corre o risco de acabar”, desabafa Marcio.

Em um ano, dois dias de espetáculo e pouco público

A situação do Circo Imperial Kartoon retrata bem o momento que vive o setor. Quando teve início a pandemia, a companhia estava instalada em Tomazina, onde vinha se apresentando há cerca de duas semanas. Com o início da crise sanitária, o circo fechou para o público e só conseguiu autorização para retomar os espetáculos em novembro, no município de Jaboti. Foi gasto dinheiro com a mudança, locação de terreno, divulgação em redes sociais, por carro de som, panfleto.

“Minha estreia seria numa sexta-feira. Na quinta-feira veio um decreto estadual e avisaram que não poderia estrear”, relata Diego Pereira Marinho, proprietário do circo, que semanas depois conseguiu finalmente inaugurar o circo na cidade. “Estreei numa sexta, final de novembro. 42 pessoas, movimento fraco. Mas antes pouco movimento do que nada. No sábado caiu para 25 pessoas o público e no domingo não deu ninguém, cancelei a sessão. A gente ia pro segundo final de semana de espetáculo, mas daí veio outro decreto fechando tudo de novo e tive o alvará cassado. Nunca mais reabrimos. Então trabalhei dois dias, uma sexta e um sábado, ao longo de todo um ano e ainda foi com pouco público”.

Para sobreviver, o circo está tentando vender maçã do amor e outros produtos nas cidades da região. “Mas não está dando, o combustível está muito caro, está caro repor os produtos, não está dando lucro”, diz Diego. Outra saída foi buscar trabalho fora do circo, encontrar um emprego temporário em outra área, mas não tem sido fácil encontrar serviço. “Nossa situação está mais do que crítica, porque uma hora vão liberar a gente para trabalhar, mas não vou ter condição financeira de me erguer e sair daqui.”

‘Povo já ajudou demais, mas agora também está sofrendo’

Proprietário do Circo Imperial Kartoon, que hoje está parado em Jaboti, no Norte Pioneiro do Paraná, Diego Pereira Marinho comenta que a situação das companhias circenses só não é mais dramática graças ao povo, que desde o início está ajudando com doações. Após mais de um ano de pandemia, contudo, a condição dessas pessoas piorou de forma geral e, consequentemente, o auxílio também minguou.

“Nos primeiros meses [de pandemia] fomos muito ajudados. Agora, a maioria do povo também está precisando de ajuda”, diz Marinho, em discurso reforçado por Marcio Francisco. “A população apoiou circo de braços abertos, mas agora está faltando para eles também; As doações não estão vindo mais e a situação é cada vez mais lamentável”.

Em alguns lugares, as prefeituras têm ajudado as companhias oferecendo espaços para os trabalhadores ficarem e isentando a cobrança de água e luz. Mas não é a realidade da maioria. “Maior parte está pagando luz, água, gás, aluguel… Mistura, mistura está virando relíquia na comida”, diz Mario. “A população já fez sua parte, contribuiu. Agora pedimos aos empresários, aos governantes, para que olhem pelo circo. Agora é a hora de ajudar, o circo precisa de socorro desesperadamente”, finaliza o presidente do FSCP.

Como ajudar

Quem quiser colaborar com os circos pode entrar em contato com o Fórum Setorial de Circo do Paraná (FSCP) por meio de Marcio Francisco, presidente, pelo telefone (41) 99869-6086. Outra opção é o e-mail fscircopr@gmail.com, ou ainda é possível entrar em contato diretamente com o circo de sua cidade ou o circo com o qual deseja contribuir. Confira a lista abaixo, com o total de circos registrados no Paraná ou que estão instalados em algum município paranaense.

Onde estão os circos do Paraná e seus contatos

Nome do circo Responsável Município UF Integrantes Contato
Circo Astros Tarcísio Thiago Vieira Borges Lobato PR 18 44 99948-7373
Circo Balão Mágico Tiago Borges Lobato PR 50 44 9999-5594
Circo Mundo Mágico Francisco Vieira Lobato PR 25 44 9932-9032
Circo Sofia André Gomes da Silva Lapa PR 8 42 98885-6977
Circo Pantanal Hernandez Boa Esperança PR 10 53 9968-5104
Circo Cassaly Roberto Cassaly Curitiba PR 12 41 99574-0200
Circo Troy Wagner Rio Grande RS 10 42 98885-6977
Circo Di Italia LUIZ ROBATINY Jacarezinho PR 15 41 99823-7667
Circo Di Sarah ODAIR FARIAS Boa Esperança PR 36 44 99860-0299
Circo do Pimentinha Márcia R. E. Guidolin, Vila Zumbi Curitiba PR 10 41 99797-2991/ 41 99602-8757
Circo Maximus Ben Hur Vieira 70 44 99972-8687
Circo Fantastico Junior 40 44 99911-2772
Circo Vitaly Diego Henrique Bertoli Fazenda Rio Grande PR 10 47 99900-5099
Euro Cirque Luis Diorio São José dos Pinhais PR 30 47 99761-4641
Circo Globo Clóvis Monte Castelo PR 22 44 99836-4736
Circo Imperial Kartoon Diego Pereira Marinho Tomazina PR 20 41 99686-0941
Circo Lisboa João Paulo Gonçalves Borges Wenceslau Braz PR 16 14 99897-9997
Circo Los Agady Marcio Rio Branco do Sul PR 38 11 97447-0660
Circo Max NORBERTO FARIAS Candido Farias PR 30 44 99917-1702
Circo Maximo NEGO FARIAS Caimbra PR 18 44 99700-3069
Circo Romany Walter Cabral Sao Jose dos Pinhais PR 15 41 99605-2938
Circo Rhoney Espetacular Oney Newton Salgueiro Filho Campo Mourão PR 38 47 99917-9598
Circo Tchê Vanderlei Carlos Scaranto Rio Azul PR 9 46 99985-7440
Circo Teatro Fantasy Luiz Augusto Salgueiro Curitiba PR 25 41 99910-8741
Circo Vostok Fábio Meneses de Lima Curitiba PR 38 41 99986-2394 / 48 9963-4803
Circo Zanchettini Edlamar Maria Cabral Zanchetin Campo do Tenente PR 25 41 99995-5497
Kazini Bros Circus Luana/ Walter A. de A. Salgueiro São José dos Pinhais PR 10 41 99219-2165/ 47 99668 9370
Star Magic Circo Rodrigo Reis Amaral Londrina PR 20 43 99678-6415
Super Star Circus Jesus Maria Leopoldo Vieir Lobato PR 40 43 99900-8621
Listan Circus Antonio marcos andrade Nova Fatima PR 8 41 99108-4005
Circo Disney Ney Manduri PR 15 14 98209-5938
Circo Fantasy Sheila Farias de Freitas Cequeira Campos PR 23 14 99898-9892/48 99832-4764
Circo Romanos Roberto Gomes da Silva SAO BENTO DO SUL SC 15 41 99603-8458
Circo Piska Piska Gilson Andira PR 14 14 99787-3272
Circo Maxter Guilherme Salgueiro sitio cercado PR 12 41 98504-9505
Circo Hermanos Rodrigues Jorge Rodrigues Glória de Dourados MS 15 67 99818-7982
The Big Circus Marcio Zanchettini Curitiba PR 17 41 99869-6086