Cobertura vacinal contra a Covid-19 varia de 48% a 98% nas cidades do Paraná

Só 13,8% dos municípios paranaenses já conseguiram atingir o ideal pelo menos 80% da população com ciclo completo

Rodolfo Luis Kowalski

Franklin de Freitas

O final do ano se aproxima e a boa notícia é que uma parcela considerável da população paranaense já está imunizada contra a Covid-19. Segundo dados da Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa-PR), compilados pelo Bem Paraná, até a última terça-feira (28 de dezembro) 75,52% dos moradores do estado já haviam completado o ciclo vacinal, ou seja, tomaram as duas doses ou a dose única do imunizante contra a doença pandêmica.

Apesar da boa cobertura vacinal no estado, chama a atenção as desigualdades na vacinação contra a Covid-19. Por exemplo, o município de Pontal do Paraná, no litoral paranaense, é aquele que apresenta a maior cobertura vacinal, de 98,65%. Com uma população vacinável estimada em 20.920 pessoas, a cidade já viu 20.637 moradores completarem o ciclo vacinal (duas doses ou dose única).

Por outro lado, no município de Marquinho, na região central do estado, a cobertura vacinal até a última terça-feira era de apenas 48,20%, com 2.401 dos 4.981 moradores daquela cidade tendo tomado as duas doses ou a dose única da vacina.

Existe no Paraná, então, um cenário no qual apenas 55 das 399 cidades (ou 13,8% do total) já conseguiram atingir a cobertura vacinal considerada ideal, com pelo menos 80% da população vacinável imunizada. Curitiba está dentro dessa lista, com o 80,8% da população imunizada: 1.415.595 pessoas já completaram o ciclo vacinal, dentro de um contingente de 1.751.907 vacináveis.

Além disso, em outras 176 cidades (44,1% do total) a cobertura vacinal varia entre 70 e 79%, enquanto em outras 17 (4,3%) fica bem distante do ideal, abaixo de 60%.

Raio-x

Os cinco municípios com maior cobertura vacinal no Paraná
Pontal do Paraná 98,65%
Floresta 96,27%
Porto Rico 95,65%
Maringá 90,99%
Douradina 89,24%

Os cinco municípios com menor cobertura vacinal no Paraná
Marquinho 48,20%
Laranjal 51,19%
Barbosa Ferraz 52,09%
Terra Roxa 52,70%
General Carneiro 54,13%

Vacinação contra a Covid-19 nas Macrorregionais e nas Regionais de Saúde no PR
Regional/Macrorregional População 1ª dose 2ª dose Dose única Cobertura
Leste 5.004.944 4.318.265 3.621.879 159.696 75,56%
Paranaguá 265.392 245.359 203.434 7.933 79,64%
Metropolitana (Curitiba) 3.223.836 2.843.054 2.437.041 97.175 78,61%
Ponta Grossa 575.463 477.623 372.734 23.634 68,88%
Irati 160.962 132.140 107.515 4.478 69,58%
Guarapuava 441.070 346.307 275.102 13.552 65,44%
União da Vitória 165.299 131.338 111.717 5.759 71,07%
Telêmaco Borba 172.922 142.444 114.336 7.165 70,26%
Oeste 1.838.336 1.600.195 1.332.200 57.898 75,62%
Pato Branco 249.793 218.002 179.693 6.336 74,47%
Francisco Beltrão 337.703 288.280 244.491 9.633 75,25%
Foz do Iguaçu 388.795 341.457 283.858 11.430 75,95%
Cascavel 503.385 431.568 357.832 19.954 75,05%
Toledo 358.660 320.888 266.326 10.545 77,20%
Norte 1.861.653 1.563.402 1.320.091 57.538 74,00%
Apucarana 346.972 305.617 252.516 13.579 76,69%
Londrina 871.267 745.041 636.247 24.983 75,89%
Cornélio Procópio 225.966 176.731 151.585 6.695 70,05%
Jacarezinho 278.111 227.980 187.808 8.901 70,73%
Ivaiporã 139.337 108.033 91.935 3.380 68,41%
Noroeste 1.735.598 1.547.148 1.284.725 50.438 76,93%
Campo Mourão 334.125 269.437 226.862 8.601 70,47%
Umuarama 265.092 223.305 184.437 6.624 72,07%
Cianorte 142.433 122.009 106.203 5.443 78,38%
Paranavaí 260.544 216.339 178.883 7.647 71,59%
Maringá 733.404 716.058 588.340 22.123 83,24%
PARANÁ (total) 10.440.531 9.029.010 7.558.895 325.570 75,52%

Questões políticas, culturais e econômicas explicam desigualdade

O Paraná é dividido em quatro macrorregionais (Leste, Oeste, Norte e Noroeste), que por sua vez são subdivididas em 22 regionais de Saúde. E embora entre as macrorregionais a diferença na cobertura vacinal possa parecer pequena (variando entre 74%, no Norte, e 76,93%, no Noroeste), quando analisadas as informações por regionais a desigualdade vacinal fica mais evidente.

As regionais com maior cobertura vacinal, por exemplo, são as de Maringá (83,24%), Paranaguá (79,64%) e Metropolitana/Curitiba (78,61%). Por outro lado, as regionais de Guarapuava (65,44%), Ivaiporã (68,41%) e Ponta Grossa (68,88%) aparecem na outra ponta, com as menores coberturas vacinais do estado.

De acordo com o infectologista Marcelo Ducroquet, que é professor do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP), tal desigualdade na cobertura vacinal pode ser explicada, de modo geral, por questões como o desenvolvimento econômico e social de uma determinada localidade, por aspectos culturais e até mesmo por questões políticas e de ideologia.

“O desenvolvimento econômico, social e cultural é um fator conhecido para a vacinação [adesão ou não] de modo geral. Outra impressão que tenho, e que se confirmou nos Estados Unidos, por exemplo, é orientação política. Nos EUA, por exemplo, os estados republicanos tem cobertura vacinal bem menor que os estados democratas.

Não sei se isso vai se repetir aqui, mas quem é mais alinhado ao governo Bolsonaro tende a ser mais resistente à vacina. E pelo que converso com as pessoas, tenho a impressão que isso é um fator importante.

Agora, se explica uma diferença tão grande [como uma cobertura de 48% em Marquinho para outra de 98,65% em Pontal do Paraná]… Não sei se temos municípios tão polarizados politicamente, a aí temos de considerar fatores como o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]”, aponta o especialista.