
Uma tradição que mistura bom atendimento, cerveja gelada, cardápio variado e um ambiente nostálgico vem garantindo a sobrevivência de um dos mais antigos bares de Curitiba. O Casa Velha Bar foi inaugurado em 1927, numa casa de madeira com dois andares no bairro Abranches. Noventa e seis anos depois segue funcionando no mesmo local, na famosa Avenida Mateus Leme e num entroncamento com a Rodovia dos Minérios, ocupando o mesmo antigo imóvel e preservando as mesmas características de quando foi fundado.
Não à toa, o simples ato de entrar no bar é uma verdadeira viagem no tempo, que nos transporta para uma época em que a cidade tinha cerca de 100 mil habitantes e a maior parte dos bairros preservavam características campestres. Foi nessa época em que um parente do atual proprietário do Casa Velha resolveu utilizar aquele imóvel para abrir uma mercearia de secos e molhados, se aproveitando da passagem de viajantes que pegavam uma das saídas norte de Curitiba rumo ao município de Rio Branco.
“Foi um primo do meu pai que começou aqui, daí depois de uns meses ele foi morar no Litoral e vendeu o imóvel. Daí outra família deu sequência ao negócio e depois de um tempo tocando começaram a alugar”, conta Aloísio Fernando Mickosz, que tem 67 anos de idade e há 33 é proprietário do Casa Velha.
Nascido e criado no tradicional bairro de polacos, Mickosz é um nome conhecido na região e já foi até presidente da Sociedade Abranches. Antes de se tornar o proprietário do bar, inclusive, era mais um cliente da casa.
“Um empresário de Santos, que trabalhava num cassino, tinha comprado aqui. Aí a gente sempre chegava e ele estava sentado na mesa, jogando baralho, e não atendia ninguém (risos)”, recorda o atual dono do bar. “Até que um dia ele me viu passando na rua e me chamou. Eu trabalhava na Bosch, mas tinha acabado de sair e ele ficou sabendo que eu estava querendo montar alguma coisa, ter um negócio meu. Foi quando perguntou se eu queria comprar o bar. Falei: ‘Eu, comprar bar? Você tá louco’. Eu estava entrando numa licitação de banquinha de jornal em Curitiba, mas ele falou pra eu comprar o bar, disse que os clientes eram todos meus amigos e que se eu começasse a tocar o negócio eles iriam voltar.”
Após refletir por um tempo, Mickosz resolveu topar o desafio e assumiu o comando do bar. Uma aposta que já começou a dar certo no primeiro dia. “Acertei a compra da casa num dia e no dia seguinte cheguei aqui e o bar estava lotado. Ele [antigo dono do Casa Velha] daí disse para mim: ‘Não falei para você que teus amigos voltavam?! Souberam que você ia comprar e já apareceram de volta.’ Aí foi dando certo.”
Deixando de ser um bar de bairro para virar um ícone
Quando Mickosz assumiu o comando do Casa Velha (que na época já levava esse nome), o estabelecimento funcionava como bar e mercearia. A decoração do ambiente, inclusive, remete ainda aos tempos de secos e molhados. Aos poucos, porém, o novo dono foi tirando a parte de mercearia para investir mais no cardápio da casa. Até que numa noite de 2007 tudo começou a mudar.
“Aqui era um bar de bairro mesmo, mais homens que frequentavam. Aí em 2007 eu estava sentado numa mesa aqui e entrou um cliente, era quase meia-noite. Ele perguntou para mim qual era o prato do dia e eu respondi que ‘era dobradinha’. Aí ele falou ‘como assim, era?’. Falei “cara, você chega no bar meia-noite e quer encontrar comida ainda?’. Mas fui lá na nossa cozinha, raspei a panela e trouxe para servir pro cara a dobradinha. E sabe quando você vê a pessoa comendo e degustando mesmo?! Aí quando terminou de comer ele disse que era mineiro, tinha sido convidado pela Bohemia para fazer um concurso de comida de boteco em Curitiba e que estava conhecendo a gastronomia dos bares. Passou dois meses e a Bohemia me ligou: eu tinha sido indicado”.
Com a indicação, veio a necessidade de escolher o prato que participaria do concurso. E para tomar tal decisão, Mickosz conversou com sua irmã, que era quem trabalhava na cozinha. “Ela disse: ‘Se você serviu o fundo da panela e o cara te indicou, entra com a dobradinha mesmo’. Aí entramos com a dobradinha e graças a Deus ficamos em segundo lugar no concurso. A partir de lá o bar explodiu, explodiu. Deixou de ser um bar de bairro para atender gente de toda a Curitiba e pessoal que vem de fora”, comemora o empresário.
Bolinho de carne, de mandioca com carne seca e a cerveja sempre bem gelada
Hoje, o Casa Velha recebe mais de 600 pessoas por semana, atendendo das 17 às 23h30 de segunda sexta (a cozinha fecha 23h30, mas o bar segue atendendo enquanto houver clientes na casa), enquanto no sábado o bar abre já ao meio-dia, porque é servido feijoada no almoço. No cardápio da casa, dois são os principais destaques: o Bola Cheia (um bolinho de carne recheado com queijo provolone) e o bolinho de mandioca com carne seca. Frequentemente, no entanto, novidades são introduzidas, uma vez que a casa está sempre participando de concursos de comida de boteco.
Além do cardápio variado, o lugar é parada obrigatória para qualquer curitibano ou turista por conta da cerveja sempre muito bem servida. E nessa área, você sabe qual é o grande segredo da casa?
“Já perguntaram para mim porque todo ano eu ganhava primeiro lugar em concurso de servir cerveja. Ora, é porque eu sou tomador de cerveja! Uma vez teve até um dono de bar que chegou aqui e me perguntou se eu deixava meu freezer ligado de noite. Falei que era lógico! Você acaba com a cerveja se desligar a geladeira. E outra: desligando ela, na hora que ligar de novo e esfriar tudo, você vai gastar mais luz ainda. E eu tenho mais freezer lá embaixo, então quando acaba a cerveja aqui, a gente pega mais lá embaixo, gelada. Não fazemos igual outros lugares, que vão colocando cerveja quente junto das cervejas já geladas”, comenta Mickosz, detalhando alguns dos cuidados que o Casa Velha tem na hora de servir a loira.