Tendência que ganhou força com a chegada da pandemia de Covid-19, a compra e venda de usados ganhou força e veio para ficar em Curitiba, fazendo diferentes segmentos aumentarem as vendas, como os brechós, lojas que vendem aparelhos eletrônicos de segunda mão e também as revendas de carros.
De acordo com o Sebrae, trata-se de um movimento que pode ser explicado pelo fator financeiro – tanto para quem adquire um produto com preço mais em conta quanto para aquele que comercializa o que já não utiliza mais –, aliado ainda ao consumo consciente e sustentável e à redução de desperdício.
“Essa mudança é puxada também pelas gerações mais novas. Elas buscam produtos que possam ter bom valor de revenda e veem em muitos itens algo que será possuído apenas temporariamente, mas que não deve ser descartado, mas trocado ou vendido”, complementa o gerente de Competitividade do Sebrae, Cesar Rissete.
Em Curitiba, um dos pontos mais conhecidos para a venda de produtos usados (principalmente roupas e móveis) é a Rua Riachuelo, no Centro da cidade. Ali fica o Brechó Cabide de Luxo, negócio gerenciado por Maria Luiza Soares e que surgiu há três anos, em meio aos momentos mais críticos da pandemia.
“Começou no meio da pandemia. A situação estava muito difícil, minha mãe foi demitido do emprego dela, mas se reerguer e resolvemos abrir o brechó aqui”, conta Soares, explicando que o negócio começou apenas com vendas online e que há nove meses a loja física foi inaugurada. O foco do estabelecimento é vender roupas de marca a preço justo, atraindo tanto clientes do sexo feminino como clientes do sexo masculino (que, inclusive, são a maioria dos que aparecem na loja física).
“O crescimento tem sido geral no setor, nossa família inteira é brechózeira e percebemos isso. Roupas novas estão num valor muito alto. As pessoas estão procurando mais roupas de marca, mas querem a preço de usado. Algumas marcas, se você vai comprar roupa nova, vai gastar mais de R$ 1 mil. Aqui sai por R$ 55, 60, então compensa mais, fica mais acessível”, aponta a gerente.
Na loja de celulares ICases, a vendedora Bárbara Fragoso relata que o estabelecimento, fundado há 12 anos, trabalha há cinco com a revenda de aparelhos usados. “No segmento que trabalhamos, na internet encontra produtos novos por valores mais baixos do que em lojas físicas. Então resolvemos mudar um pouco o foco, porque com os usados conseguimos oferecer produtos a um preço mais baixo para o consumidor”.
Ainda segundo ela, a procura por celulares usados aumentou muito durante a pandemia e 2022 está sendo um ano bom de vendas. “Agora há pouco, por exemplo, vendi um celular por R$ 750, mas na internet, se for comprar novo, ele sai por R$ 1.799. E nós damos garantia, então o pessoal prefere comprar aqui um produto usado do que em marketplace, porque é mais seguro”, comenta.
Tendência: venda de automóveis seminovos e usados cresce
O Radar Autos, conteúdo produzido pelo Data OLX Autos, aponta que a comercialização de automóveis seminovos e usados teve crescimento de 3,3% nas vendas em julho último na comparação com junho de 2022. O grande destaque do setor tem sido os veículos com mais de 13 anos, que tiveram um aumento expressivo nas vendas e alcançaram 36% do total de veículos usados e seminovos no mês de julho de 2022. Enquanto isso, houve uma redução da participação de venda de seminovos e usados com tempo de até três anos, chegando a 13%.
Apesar do resultado positivo na comparação de julho com junho, o relatório aponta que as vendas caíram 17,9% na comparação com julho do ano anterior (2021). Ou seja, o mercado está menos aquecido do que já esteve. Segundo o vice-presidente economista-chefe da OLX Brasil, Danilo Igliori, esses números expressam o desempenho do mercado diante de um cenário que traz desafios diversos.
“Os juros para aquisição de veículos por pessoas físicas atingiram 27,23% a.a. em abril, conforme divulgado pelo Banco Central. Apesar de terem tido uma pequena queda desde dezembro do ano passado, espera-se que os juros para a compra de automóveis acompanhem a trajetória de alta da Selic, assim como observado nos últimos anos”, explica Igliori.
Setor de móveis esfria após salto no começo da pandemia
Proprietário da loja de móveis usados A Arca, o empresário Ari Prudente mantém há 22 anos sua loja na Rua Riachuelo, um ponto de referência do segmento em Curitiba. Segundo ele, atualmente as lojas de móveis usados trabalham com cerca de 60% do movimento que havia antes da pandemia do novo coronavírus. Curiosamente, no entanto, as lojas de móveis usados tiveram um salto expressivo nas vendas ainda no início da crise sanitária, mas num movimento que foi esfriando e perdendo força ao longo do tempo.
“No começo da pandemia foi melhor que agora, um dos melhores períodos que já tivemos em termos de venda. O pessoal ficou em casa, muita gente trabalhando em home office, aí aproveitaram para trocar cama, guarda-roupa, mesa, montar escritório… Começou um giro grande para nós, porque começaram a surgir novas necessidades, gente fazendo a reforma da casa”, diz Prudente, lamentando ainda que 2022 não esteja sendo um ano bom. “Não voltou ao normal ainda, estamos sentindo bastante”.
Segundo o empresário, o que mais tem atrapalhado as vendas é a questão financeira, com a população tendo perdido poder de compra por conta da crise econômica. Por outro lado, há boas expectativas para o final de ano, que também costuma ser o período de maior procura por essas lojas na cidade. “Novembro e dezembro são os meses que mais vendemos, então temos uma expectativa muito grande. Agosto foi horrível, um dos piores meses, mas estamos numa expectativa grande pro final do ano”, pontua.