Frankin de Freitas – Polícia orienta para os cuidados em relações virtuais

O sucesso alcançado pelo documentário da Netflix “O Golpista do Tinder” (2022), aliado à repercussão de episódios recentes ocorridos no Paraná, tem feito um tipo já conhecido de golpe ganhar ainda mais evidência. É o chamado estelionato amoroso, também conhecido como “Golpe do amor” ou “Golpe do Don Juan”, no qual um dos parceiros se utiliza da confiança conquistada num relacionamento para obter, de forma unilateral, vantagem econômica. Ou seja, dinheiro às custas do outro.

De acordo com o delegado Emmanoel David, Chefe da Delegacia de Estelionato de Curitiba, não há como estimar, por ora, as ocorrências de estelionato amoroso no Paraná, uma vez que os Boletins de Ocorrência (BOs) são feitos em todas as delegacias, de forma descentralizada.

Por outro lado, ele confirma que a repercussão do documentário e de casos recentes ocorridos no estado tem incentivado mais vítimas a fazerem denúncias. Desde o final de agosto do ano passado houve pelo menos cinco situações envolvendo vítimas paranaenses que foram parar nos noticiários.

“Quando a mídia começa a tratar dos crimes há uma tendência das vítimas se sentirem seguras e irem a público, irem na delegacia fazer o boletim de ocorrência. Nesse caso específico, onde a vítima é lesada emocionalmente, tem um envolvimento amoroso, elas têm muita vergonha de comparecer até a delegacia, algumas até porque sequer acreditam que foram vítimas de um golpe, acreditam ainda que há um relacionamento e uma questão mal resolvida, e outras por medo do que a sociedade, familiares vão achar”, explica o policial.

Ainda segundo Emmanoel, nessa modalidade criminosa o estelionatário costuma procurar a vítima através da internet, nas redes sociais, se valendo de aplicativos de conversa ou de relacionamento para conseguir uma aproximação.

As vítimas, no entanto, não costumam ser selecionadas aleatoriamente: o ‘Don Juan’ geralmente já visa pessoas que mostram nas redes sociais ter algum patrimônio ou que ele imagine poder tirar algum proveito e é comum, até mesmo, que o bandido pesquise a vida de familiares dessa vítima através das redes sociais antes de prosseguir com o golpe.

“Em vários casos, o que chama a atenção é que o estelionatário demonstra num primeiro momento uma posição de poder. Ele afirma que tem rendas, que é advogado, engenheiro, assessor parlamentar… Ou seja, tenta atrair a vítima com uma posição de poder”, aponta o delegado, explicando ainda que, depois de criar um laço afetivo com a vítima, finalmente o golpista começa a dar indícios de quais são suas reais intenções com aquele relacionamento.

“Após criar um laço afetivo com a vítima, depois de algum tempo, ele começa a tentar ganhar dinheiro dessa vítima, obter ajuda financeira, valores financeiros. Ele afirma que teve seus bens bloqueados por algum motivo, que seu limite foi bloqueado, sempre arrumando desculpas para que a vítima realize empréstimos, ajude financeiramente ao seu consorte, ao seu atual namorado, tudo isso com a promessa de que futuramente a vítima vai ser recompensada e ressarcida pelos valores que foram emprestados.”

Crime passível de punição no âmbito penal e cível

Ainda segundo o chefe da Delegacia de Estelionatos, geralmente o ‘golpe do amor’ envolve relacionamento que se desenvolvem majoritariamente no mundo virtual. Em alguns casos a vítima até chega a conhecer o ‘namorado’, ter um contato pessoal, mas a maior parte do relacionamento se desenrola através de aplicativos de conversa ou de relacionamento.

Além disso, ele também ressalta que os tribunais já vem entendendo que o crime de estelionato sentimental seria passível de punição tanto no âmbito cível como no penal. “Ou seja, a pessoa que foi enganada pode ser ressarcida civilmente e a conduta pode ser amoldada também como crime, com base no artigo 171 do Código Penal, que prevê o crime de estelionato”, explica o delegado Emmanoel David.

Para que a punição do golpista seja possível, no entanto, é importante que a própria vítima tome algumas medidas, como a apresentação de comprovantes do prejuízo financeiro (com comprovantes de transferências, extratos bancários, contratos de financiamento, empréstimos e etc) e também o próprio histórico de conversa com o estelionatário, com conversar por áudio, prints das conversas por texto, fotos e etc.

Os casos mais recentes de ‘Golpe do Don Juan’

Apenas nos últimos meses, pelo menos cinco casos de estelionato amoroso que vitimaram paranaenses foram noticiados pela imprensa. O episódio de maior repercussão, provavelmente, foi o que envolveu David Alvez Bezerra, de 30 anos e também conhecido como “Berlim” e “Alemão”. Desde 2014 o homem fez mais de 90 vítimas pelo país, fingindo ser funcionário da Receita Federal e seduzindo mulheres através das redes sociais.

Já em setembro do ano passado uma moradora de Matinhos, no litoral do Paraná, se envolveu com um suposto estrangeiro, que dizia ser oficial da reserva do exército americano. Os dois iniciaram um relacionamento amoroso e foi quando ele prometeu enviar uma mala cheia de presentes para ela, inclusive com um anel de valor elevado. Para recebir os mimos, porém, ela teria de pagar uma taxa. No final das contas, teve um prejuízo de R$ 357 mil.

No no começo deste ano, duas mulheres de Curitiba denunciaram um homem que se dizia estrangeiro, de Israel, e que estaria há oito anos no Brasil. Ele dizia ter Transtorno do Espectro Autista (TEA) e dificuldades no trabalho e conseguia com as vítimas dinheiro para, supostamente, comprar medicamentos de uso contínuo e se manter.

Já nesta semana, foram relatados outros dois episódios, um em Maringá, no norte do Paraná, e que deixou um prejuízo de R$ 25 mil para uma professora; e outro em Curitiba, envolvendo uma diarista que se envolveu num relacionamento que começou virtualmente e acreditou que o homem queria abrir um negócio com ela. No final, acabou tendo diversos financiamentos de carro feitos em seu nome pelo homem e agora denunciou o caso à polícia em busca de justiça.