Com mercado das tatuagens em expansão, Curitiba já conta até com escola para tatuadores

Localizada no Jardim das Américas, a ArtShow Ink é uma das escolas de tattoos mais antigas do Brasil, com oito anos de existência. O Paraná, por sua vez, é o quinto estado com mais estúdios de tatuagem em todo o país

Rodolfo Luis Kowalski

Escola de tatuagem em Curitiba: preconceito deu lugar ao profissionalismo; hoje é vista como uma arte (Franklin de Freitas)

Franklin de Freitas

Quebrando barreiras e derrubando preconceitos, o mercado de tatuagens vem crescendo exponencialmente nos últimos anos. Segundo pesquisa do instituto alemão Dalia, hoje o Brasil é o nono país mais tatuado do mundo, com aproximadamente um terço da população já tendo pintado a própria pele. Além disso, no ano passado um estudo do Sebrae apontou que o mercado brasileiro das tattoos cresceu 25% em 2021, acima da média mundial (com alta de 23%). Um ano antes o crescimento havia sido ainda mais expressivo, de 50%, segundo a Associação Nacional dos Tatuadores.

Nas ruas, esse crescimento pode ser sentido pelo aumento no número de estúdios de tatuagem. De acordo com o painel Mapa de Empresas, uma ferramenta do governo federal, em todo o país há atualmente mais de 30 mil empresas ativas trabalhando com serviços de tatuagem e colocação de piercing. São Paulo, com 9.808 estúdios, é o líder do ranking nacional, seguido por Rio de janeiro (3.418), Minas Gerais (3.340) e Rio Grande do Sul (2.304). O Paraná aparece na sequência, em quinto lugar, com 2.264 empresas ativas no mercado das tattoos, das quais 687 (30,3% do total) estão localizadas em Curitiba.

Com o mercado cada vez mais aquecido, também é crescente o número de pessoas tentando ingressar no mundo da tatuagem. “Acredito que não vai demorar muito, no máximo uns dez anos, e o mercado da tatuagem em Curitiba vai estar igual ao das barbearias, com um estúdio em cada esquina”, comenta o tatuador Juliano Nascimento, mais conhecido como Juliano Fitah, um profissional que tem 43 anos de idade, 25 deles dedicados à tatuagem.

“A tatuagem é uma das únicas formas de arte em que você consegue ser bem remunerado no Brasil. Ela possibilita ao artista vender sua arte como um produto mesmo e ter uma remuneração por ela. Isso é difícil e é por isso que muitas pessoas migraram para a tatuagem”, emenda.

Foi a partir dessa percepção, inclusive, que ele fundou em Curitiba a ArtShow Ink Escola de Tatuagem, localizada no bairro Jardim das Américas (Av. Nossa Sra. de Lourdes, 900) e que foi uma das pioneiras no Brasil no ensino da técnica e da arte da tattoo, já somando oito anos de atividade e em torno de 500 alunos formados – dos quais cerca de 80% acabaram conseguindo realizar o sonho de se tornar um tatuador profissional, estima Fitah.

“A maioria dos alunos que vem aqui são pessoas que tem na mente ser tatuador profissional. Eles não fazem o curso por hobby ou como um passatempo. Muitos, inclusive, acabam tendo que fazer muito sacrifício para realizar o curso: já teve aluno que vendeu a moto, aluno que fez hora extra, pergou turno a mais no trampo… São várias histórias de pessoas que não se encaixam no serviço normal, tradicional, e aqui acabam encontran do um rimo. Aqui é tipo uma igreja que salva o cara, entendeu?”, explica o tatuador e professor, comentanto ainda que é comum os casos de jovens que largam a faculdade, nas mais diversas áreas, para estudar a tatuagem. “A essas horas eu já estou sendo concorrente da UFPR [risos]”, brinca ele.

“Quando o preconceito foi acabando, o mercado avançou e começou a se profissionalizar”, diz profissional
Quando começou a trabalhar como tatuador há 25 anos, Juliano Fitah conta que tudo era muito mais difícil nesse mercado: não havia material específico para a tatuagem no mercado e, para aprender, um aspirante a tatuador tinha de encontrar cobaias dispostas a emprestar sua pele e um profissional mais experiente disposto a ensiná-lo. Além disso, o preconceito em relação aos tatuados também era muito maior. “Você tinha que ser meio autodidata, ir fazendo as coisas na base de tentativa e erro mesmo”, recorda ele.

Com o passar do tempo, no entanto, a tatuagem foi sendo socialmente normalizada, um movimento que se intensificou de maneira especial ao longo da última década. Concomitante, o mercado também foi se profissionalizando cada vez mais. “Conforme o mercado da tatuagem foi evoluindo, os traços das tattoos também foram ficando mais bonitos e a tatuagem foi sendo aceita em várias camadas da sociedade. O que antigamente era mal visto passou a chegar também na alta sociedade e o pessoal começou a ter mais respeito, vendo a coisa até como arte mesmo. Quando o preconceito foi acabando o mercado avançou e começou a se profissionalizar”, explica o tatuador.

Hoje, quem quer começar na área já vai encontrar uma indústria toda voltada para a tatuagem, além das próprias escolas que estão aí para ensinar aqueles que querem se aventurar nesse mundo. “Hoje a tatuagem faz parte do mercado de estética, então é uma indústria que movimenta milhões. E os empresários viram que esse mercado estava gerando dinheiro e começaram a investir e aí os tatuadores começaram a ter acesso a material bom, agulha, máquinas, tecnologia. Hoje tem tecnologia de ponta na tatuagem”, ressalta Fitah.

Arte
Mudando o rumo e sonhando alto

Um dos alunos que havia acabado de começar o curso era Paulo Rafael. Aos 32 anos, ele, que é natural de Curitiba, conta que sempre sonhou em trabalhar com a tatuagem e que desde criança gostava de desenhar e fazer arte. Na vida adulta, no entanto, as responsabilidades acabaram se impondo e ele seguiu outro rumo profissional, tanto que estava morando até pouco tempo no Maranhão trabalhando com a construção de armazém para grãos. “Agora deu uma paradinha nas obras e aproveitei para vir fazer o curso. Comecei nesta semana e vou dormir todos os dias já sonhando com a próxima aula”, diz o aluno, explicando que agora pretende mudar o rumo de sua trajetória profissional. “Minha ideia agora é mudar de área. Estou construindo uma casa em Santa Felicidade e no projeto já coloquei meu estúdio lá. Estou sonhando um pouco alto aí, mas vamos ver se vai dar certo.”

Outra aluna da escola é Ketlyn Novack. Aos 20 anos, ela chegou a cursas por três anos a faculdade de Arquitetura e relata que até planejava terminar a graduação, mas desde o início já sabia que o que queria mesmo era fazer tatuagem. “Meus pais não gostavam muito da ideia, apesar deles serem bem novos, gostarem de tatuagem e do meu tio ser tatuador. Mas depois, com o tempo, fui conversando e eles começaram a aceitar mais a ideia. Desde pequena meu maior plano sempre foi virar tatuadora, tanto que desde criança eu nem era tanto ligada ao desenho em si, mas sim à tatuagem. Eu cresci vendo meu tio evoluindo nessa área, hoje em dia ele é muito grande na cena em Curitiba e isso me inspirou bastante”, conta.

Para quem quiser conhecer a escola, inclusive, Juliano Fitah ressalta que as portas estão abertas, com os interessados inclusive podendo fazer uma aula experimental.
Segundo ele, um tatuador em início de carreira já consegue ganhar mais de um salário mínimo, via de regra, mas uma dica que ele dá aos iniciantes é que a montagem de um estúdio é uma das últimas coisas que o profissional deve fazer, já que envolve investimento. “A primeira coisa que um aluno tem de fazer após terminar o curso é procurar um lugar para trabalhar, um estúdio de tatuagem que funcione como uma pós-graduação para ele pegar experiência e posteriormente abrir o seu próprio estúdio. Hoje também têm muitos salões de beleza, espaços de estéticas que alugam espaços para tatuadores, barbearias… Para abrir um estúdio é preciso um investimento grande e para custear isso você precisa já ter clientes para pagar as tuas contas e tirar um dinheiro para você. Então o ideal é o aluno ir atrás de um desses espaços ou ficar dentro de um estúdio com outro tatuados no início para poder dividir as despesas”, orienta o experiente tatuador.