PRATO FEITO
Aumento de 1,11% pode parecer pequeno, mas pressiona o bolso do trabalhador (Valquir Aureliano)

Os curitibanos têm sentido no bolso o impacto de um hábito cada vez mais caro: comer fora de casa. Dados do Boletim de Inflação da Região Metropolitana de Curitiba, elaborado pelo Curso de Economia da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com base nos números do IBGE, revelam que em março de 2025 os preços desse tipo de alimentação subiram na capital paranaense.
Os lanches consumidos fora de casa ficaram, em média, 1,02% mais caros, enquanto as refeições completas, como almoços em restaurantes por quilo ou pratos executivos, aumentaram 1,11% no mesmo período.

Esses porcentuais podem parecer pequenos, mas o acúmulo de aumentos consecutivos ao longo dos meses pesa significativamente no orçamento, principalmente para quem mantém uma rotina frequente de alimentação fora de casa — seja por motivos de trabalho, estudo ou praticidade, diz o estudo.

Um dos principais fatores por trás desse movimento é o encarecimento dos próprios alimentos utilizados no preparo das refeições, tanto dentro quanto fora de casa.

Em março, os dados apontam que produtos básicos como o tomate, por exemplo, tiveram uma alta de 39,39% em Curitiba, influenciada pela menor oferta no mercado após uma colheita antecipada provocada pelo calor excessivo.

Outro destaque é o café em pó, que subiu 12,14%, pressionado pela queda da safra no Vietnã — um dos maiores produtores mundiais — e também por questões climáticas que afetaram a produção brasileira.

Além disso, outros itens essenciais na cozinha subiram de preço no mesmo mês, como o leite longa vida, que ficou 3,45% mais caro. O ovo de galinha — um dos alimentos mais consumidos nas refeições rápidas — aumentou 9,50%. Isso é consequência da valorização do milho, que é base da alimentação das aves, e da maior demanda no período da Quaresma, quando muitas pessoas deixam de consumir carne vermelha.

Esses aumentos se somam a um efeito conhecido pelos economistas como repasse de custos. Restaurantes, padarias, lanchonetes e demais estabelecimentos do setor de alimentação enfrentam os mesmos desafios que os consumidores, quando os ingredientes ficam mais caros para eles, esse custo acaba sendo repassado aos preços finais dos produtos e pratos vendidos ao público.

Ou seja, mesmo que o cliente não perceba de imediato, o aumento do valor do prato feito ou da coxinha muitas vezes está diretamente relacionado à variação dos preços no atacado e nas centrais de abastecimento.

Outros fatores
Mas o cenário não se resume apenas ao custo dos alimentos. Há também um impacto importante de outros recursos essenciais para o funcionamento desses estabelecimentos, como o gás de cozinha. Após uma série de altas nos meses anteriores, o botijão começou a mostrar uma pequena redução em março (-0,96%), mas ainda não se recuperou de seus aumentos.

Outro componente que pressiona os preços é o custo com transporte. A gasolina subiu 1,84% em março, o que influencia tanto no transporte de mercadorias — como frutas, verduras, carnes e laticínios — quanto nos serviços de entrega, que são cada vez mais comuns na rotina urbana.

Para estabelecimentos que dependem de apps de delivery ou frota própria, qualquer aumento no combustível impacta o valor do serviço ou, eventualmente, o preço final da refeição para o consumidor.

Muitos consumidores já começam a adotar estratégias para driblar os preços elevados como levar marmita, reduzir a frequência de saídas, optar por estabelecimentos mais baratos ou até substituir refeições completas por lanches simples.

  • Alana Morzelli sob supervisão de Mario Akira