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Como tecnologia e novas regras derrubaram em 35% os acidentes de ônibus em Curitiba

SMCS, editada por Ana Ehlert
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Número de acidentes no transporte coletivo de Curitiba teve queda de 35% de janeiro a agosto com novas iniciativas da Prefeitura. Foto: Hully Paiva/SECOM (arquivo)

Levantamento da Urbanização de Curitiba (Urbs) aponta uma queda de 35% no número de acidentes envolvendo o transporte coletivo de Curitiba. O recuo ocorreu entre janeiro a agosto de 2025 na comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 637 registros nos primeiros oito meses de 2025, contra 973 na mesma base de comparação de 2024.

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Os dados são dos boletins de ocorrência registrados pelas operadoras de ônibus envolvendo o transporte coletivo, ciclistas, pedestres, automóveis, motocicletas e veículos estacionados.

“A Prefeitura anunciou, neste ano, uma série de ações para evitar acidentes no transporte coletivo. Os números mostram que as iniciativas estão surtindo efeito. Neste ano, foi criada a Patrulha do Transporte Coletivo, sinalizados os pontos cegos nos veículos e sancionada a lei que coíbe a rabeira, que é praticada por ciclistas ao se apoiarem na traseira dos veículos para ganhar impulso. Mas o desafio permanece, que é reduzir ainda mais os números, com o compromisso do poder público fazer sua parte e a população respeitar as leis de trânsito e evitar condutas perigosas”, diz o presidente da Urbanização de Curitiba (Urbs), Ogeny Pedro Maia Neto.

O que é a Lei da Rabeira?

Em maio, o prefeito Eduardo Pimentel lançou três medidas para evitar acidentes e aumentar a segurança no transporte coletivo. Foi criada a Patrulha do Transporte Coletivo, sancionada a Lei 16.525/25 – que está em fase de regulamentação e estabelece punição e multa para quem for flagrado pegando rabeira – e ainda apresentou uma nova funcionalidade no painel de controle dos ônibus, acionada pelos motoristas quando detectada a pratica da rabeira na traseira do veículo.

Além disso, os ônibus da categoria expresso, que circulam nas canaletas, onde a rabeira é mais comum, também estão recebendo adesivos no para-choque alertando para o perigo da prática. Com a mensagem “Próxima parada: pronto-socorro. Não pegue rabeira. Pegar rabeira dá multa de R$ 600 e pode levar à morte”, a proposta é promover a conscientização e diminuir o número de casos. Todos os 200 ônibus expressos articulados e biarticulados da capital vão circular com essa mensagem.

Campanha Ponto Cego nos ônibus

A Escola Pública de Trânsito ABC, da Secretaria Municipal de Defesa Social e Trânsito (SMDT), tem realizado ações contínuas de educação e prevenção para reduzir o número de acidentes em vias exclusivas do transporte coletivo.

Uma das iniciativas mais importantes é a “Campanha Ponto Cego”, lançada em maio. Os ônibus do transporte coletivo foram adesivados com alertas, indicando as áreas ao redor do veículo (principalmente nas laterais e na traseira) onde o motorista tem baixa visibilidade. A quantidade de pontos cegos varia de seis a dez, dependendo do modelo do ônibus. No caso dos biarticulados, são dez.

De acordo com a diretora da Escola Pública de Trânsito ABC, Melissa Puertas Sampaio, através das campanhas, já foi possível obter resultados significativos. “Estamos reduzindo o número de sinistros em canaletas porque realizamos a sinalização dos pontos cegos. Hoje, as pessoas sabem onde não devem estar para serem vistas no trânsito”, explicou.

Ainda, foi realizada uma blitz educativa vivencial, a primeira do tipo no Brasil. Os cidadãos foram convidados a sentar na cadeira de um motorista de um ônibus biarticulado, para observar na prática os pontos cegos do veículo.

Canaletas exclusivas para ônibus

Do total de acidentes no transporte coletivo de janeiro a agosto, 24% foram registrados nas canaletas, segundo o levantamento da Urbs. Nos primeiros oito meses de 2025 foram 153 acidentes nas vias exclusivas, contra 200 no mesmo período do ano passado.

“Existe uma falsa ideia de que a canaleta é mais segura, o que faz com que as pessoas prefiram pedalar ou correr nesses espaços, mas isso não é verdade. O impacto de um ônibus expresso ou um biarticulado é brutal, mesmo em velocidade baixa. Nós controlamos a velocidade dos expressos a 30 km por hora nas saídas de terminais e em frente às escolas, porém, ao longo da canaleta eles podem chegar até 50 km por hora. Então, as pessoas precisam evitar andar, caminhar ou se exercitar nas canaletas”, diz o presidente da Urbs.

Os principais motivos de acidentes envolvendo pedestres e ciclistas e os ônibus na capital são a desatenção, causada principalmente pelo uso do celular ou fones de ouvido; atravessar a rua fora do local apropriado; e ações proibidas: caminhar, correr ou pedalar na canaleta e pegar “rabeira” nos veículos.

As canaletas exclusivas desempenham um papel fundamental na melhoria da mobilidade urbana, garantindo maior fluidez ao transporte público e contribuindo para a redução do congestionamento nas vias da cidade. No entanto, conforme estabelece o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), elas são exclusivas para os ônibus. Somente veículos que realizam atendimentos de emergência em saúde e segurança pública estão autorizados a circular por essas vias. Ou seja, caminhar, pedalar ou praticar esportes nas canaletas é proibido e bastante perigoso.

Tecnologia

Para tentar minimizar os riscos de acidentes, a Urbs reforçou o treinamento de direção defensiva para os motoristas. Além das ações permanentes de reciclagem, eles recebem capacitação especial, que envolve todas as operadoras de ônibus da cidade e os seus 2,8 mil motoristas em atividade. Os ônibus também são equipados com novas tecnologias de segurança, como a que garante redução automática da velocidade dos biarticulados quando próximos de locais de grande fluxo de pessoas, como shoppings, praças, escolas e hospitais. Os ônibus novos também possuem sistemas de frenagem mais eficientes.

Além disso, a Escola Pública de Trânsito ABC desenvolve ações e campanhas educativas periodicamente, com a distribuição de panfletos informativos para alertar ciclistas e pedestres sobre condutas perigosas no trânsito.