ESTUDIO A  TENDA
Studio Tenda: a casa da música autoral em Curitiba (Foto: Franklin de Freitas)

Uma espécie de tenda localizada perto da ponte estaiada de Curitiba, no bairro Guabirotuba, tornou-se ao longo da última década e meia um dos principais fronts não só de resistência, mas principalmente de divulgação da música autoral curitibana. Trata-se do Studio Tenda, que fica na Rua dos Bandeirantes, num espaço ao lado dum belo quintal e anexo à casa dos idealizadores do estúdio, o casal Mario e Lyrian Oliveira.

Criado em 2012, o Studio Tenda, para começar, é mais do que um estúdio. Trata-se de um projeto cujo intuito principal é divulgar a música autoral produzida não só em Curitiba, mas no Paraná, em outros estados e até fora do país. Em 13 anos, o projeto já entrevistou e botou para tocar (com gravações disponíveis no YouTube) mais de 500 bandas não só de diferentes lugares, mas também de diferentes gêneros, como rock’n’roll, blues, jazz, funk, punk, death metal, black metal, pop, MPB, instrumental, hip hop, reggae… e até o gospel.

“Todos são bem-vindos, mas precisa se inscrever”, afirma Mario.

E além da inscrição, há algumas outras exigências que devem ser cumpridas por quem quer participar do Tenda.

A primeira delas é que a banda (ou artista) deve produzir um release, ou seja, um texto “se apresentando”, divulgando e explicando seu trabalho. “É contar uma história mesmo. Forçamos a banda a fazer isso para ela entender que precisa se profissionalizar. Porque, beleza, a banda faz o som. Mas e agora? Você vai ter que ir pra estúdio, gravar, e contar a tua história também, as tuas referências”, explica Lyrian.

Outra é o pagamento de um valor simbólico, na faixa de R$ 300, para a produção de vídeo, foto, áudio e uma entrevista.

E a terceira – e mais curiosa exigência, sem dúvida -, é uma garrafa de Campari. “Tem que trazer [a garrafa], senão eu nem faço”, diz aos risos Lyrian, que é responsável pelas fotografia, entrevista, cenário e captação de imagens do Studio Tenda. “Eu já aviso todas as bandas: o Campari é o nosso agrado. Sem ele, a gente nem faz”.

Treze anos de Studio Tenda e uma vida de parceria

ESTUDIO A  TENDA
Lyrian e Mario de Oliveira: casal é idealizador do Studio Tenda (Foto: Franklin de Freitas)

Além de um estúdio e um projeto para divulgar a música autoral, entretanto, o Studio Tenda é também uma história de amor. E não só uma história de amor pela arte ou pela música. E a curiosa exigência de uma garrafa de Campari para as gravações é um exemplo disso.

Mario e Lyrian se conhecer há cerca de 30 anos. E por causa da música, justamente. “Ah, foi comigo tocando. A irmã dela sempre ia no show, né? E daí um dia convenceu ela a ir num show”, recorda-se Mario.

Lyrian, por sua vez, comenta que a irmã era roqueira e conheceu uma banda chamada Gypsy Dream. “Era a banda que tava acontecendo no momento da cena curitibana, da cena paranaense. Aí ela falou que ia ter um show e que era para eu ir lá conhecer. E daí eu cheguei lá e a gente acabou se conhecendo ali, por causa da banda. Depois a gente se viu mais vezes e acabou acontecendo”.

E no dia em que conheceu Lyrian conheceu Mario, ele estava tocando bateria e tomando… um copo de Campari.

“A gente pede a garrafa de Campari para todo mundo tomar junto e confraternizar. E escolhemos pedir uma garrafa de Campari porque quando eu conheci ele, ele tava no palco e já olhou para mim com aquele líquido vermelho bonito, já foi me seduzindo. Daí eu falei ‘nossa, quero para mim.’ Por isso decidimos pedir para todo mundo trazer um Campari”, conta ela.

O nascimento do Studio Tenda

Ao longo dos anos juntos, Mario e Lyrian sempre se mantiveram envolvidos com a música. “O Mario toca na noite desde 1987, 1988. A história dele com a música já é muito antiga. Aí nós nos conhecemos e nesse período todo sempre sentimos que ele precisava de um espaço”, explica ela.

Quando se mudaram para o Guabirotuba, então, eles resolveram construir um estúdio num quartinho pequeno, sem qualquer pretensão, tanto que o espaço sequer tinha um nome. Mas Lyrian decorou o lugar com uma cortina e os colegas que começaram a frequentar o local também resolveram começar a chamá-lo de Tenda – e daí surgiria mais tarde o nome Studio Tenda.

Mas antes do programa nascer, efetivamente, o espaço serviu para ensaios da banda Narciso Nada, na qual Mario tocou por um tempo. O grupo também fez algumas gravações no estúdio e, em determinado momento, resolveu começar a chamar outras bandas e artistas locais. Os materiais eram postados nas redes do próprio grupo, mas chegou uma hora em que a banda começou a ficar sem tempo e sem paciência para dar sequência às gravações.

“Daí eles desistiram, não queriam mais fazer, e a gente decidiu continuar. Pegamos a ideia e fizemos o episódio um do Studio Tenda, e nos primeiros episódios a banda só tocava e acabava o programa. Até que chegou num ponto em que comecei a notar que eu queria saber qual que era a da banda, sabe? O que ela tinha para falar. Aí que começamos a fazer as entrevistas. No começo, eram bate-papo mais curtos. Hoje, tem entrevista de 20 minutos, meia hora”, relata a entrevistadora.

Muita história para contar: as bandas que já passaram pelo Tenda

Ao longo de 13 anos, o Studio Tenda já abriu suas cortinas para 512 bandas. A maioria dos artistas são do Paraná, mas grupos de outros estados e até de fora do país já gravaram no local. “O Tenda é muito forte na divulgação da música, porque daí as próprias bandas conhecem as outras bandas, e daí acaba virando um circuito. A gente também registrou bandas antigas, que não tinham material nenhum gravado, bandas novas, bandas que não existem mais… Está tudo ali, está preservada essa memória”, exalta Mario.

Atualmente, um episódio por mês está sendo lançado, em média, até porque está ficando difícil encontrar um grupo ou artista que não tenha passado pelo estúdio, e nenhum dos episódios do Tenda é repetido. “Nunca trazemos a mesma banda, o mesmo artista”, comenta Lyrian, que já recebeu no estúdio nomes como João Lopes (Tenda nº 100), Blindagem (tenda nº 500), Motorocker (Tenda º 101) e Tatára (Tenda nº 25), entre vários e vários outros grupos.

“As Cigarras, por exemplo, é uma banda que hoje está super em alta. E gravaram o primeiro material aqui, o primeiro áudio e vídeo. Hoje tem até LP delas já”, celebra Mario, enquanto Lyrian destaca o papel disseminador do Studio Tenda. “Aqui é um cartão de visitas.”

Como participar

As bandas ou artistas interessados em participar do Studio Tenda devem entrar em contato via e-mail ([email protected]) ou Instagram (@studio_tenda) para fazer uma inscrição. Além disso, também exige-se o envio de um release e os materiais de áudio e vídeo já gravados (se houver) e o pagamento de um valor simbólico de R$ 300 para a produção de todo o conteúdo (vídeo, foto, áudio, entrevista, etc). E nunca, jamais, sob nenhuma hipótese, esqueça de levar a garrafa de Campari para a confraternização pré-gravação!