Conquista da maior montanha da região Sul, o Pico Paraná, completa 84 anos

No dia 13 de julho de 1941, expedição comandada por Reinhard Maack chegava ao ponto culminante do Paraná

Rodolfo Luis Kowalski
Pico Paraná

Vista do conjunto Ibiteruçu, que tem o Pico Paraná como seu ponto culminante (Foto: Rodolfo Luis Kowalski)

Neste domingo celebra-se a conquista da maior montanha de toda a região Sul do Brasil, o Pico Paraná (PP). O feito, protagonizado por Reinhard Maack, Alfred Mysing e Rudolfo Stamm, foi realizado no dia 13 de julho de 1941. Há 84 anos, portanto, era conquistada a maior montanha paranaense.

A partir de diversos pontos de Curitiba, inclusive, é possível visualizar o famoso PP. A silhueta da montanha lembra a corcunda de um camelo quando vista de longe, o que torna seu contorno bastante característico e fácil de se distinguir olhando para o horizonte em dias de céu aberto.

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Em entrevista recente ao Bem Paraná, o icônico montanhista Henrique Paulo Schmidlin, o Vitamina, contou mais detalhes sobre a expedição que levou à conquista do PP. Ele também escreveu sobre o assunto em artigo bastante detalhado e publicado pelo site Alta Montanha, em 2013.

O Pico Paraná visto desde o Pico Itapiroca, durante um nascer do Sol (Foto: Rodolfo Luis Kowalski)

A “descoberta” do Pico Paraná

Até o começo da década de 1940, conta Vitamina, acreditava-se que o Marumbi, localizado em Morretes, no litoral do Paraná, seria a maior montanha paranaense. Isso até um dia em que Maack, munido de seu teodolito, resolveu calcular a altitude de alguns picos e morros no litoral. Foi quando, para seu próprio espanto, o pesquisador descobriu que o Marumbi (cujo cume mais alto é o Olimpo) não teria 1.800 metros de altitude, mas sim 1.547.

Prosseguindo suas análises orográficas, Maack acabou descobrindo que outras montanhas, localizadas onde hoje ficam Campina Grande do Sul e Antonina, teriam altitude ainda mais elevada, algo próximo de 1.900 metros. Foram pelo menos oito incursões na Serra do Mar até a descoberta e confirmação, sem maior sombra de dúvidas, de que o Pico Paraná seria o ponto culminante não só do estado, mas de toda a região Sul.

O caminho até o ponto mais próximo do céu

Em seguida, então, teve início uma “batalha” para se descobrir qual o caminho até a majestosa montanha paranaense.

“Você tem de imaginar que naquele tempo sótinha a estrada para São Paulo, que era via Bocaiúva, e a estrada pro Litoral. Mais nada, o resto era um vazio. Aí um da turma, que era professor de Odontologia, também era piloto, voava de teco-teco. E lá foi ele e o Maack voar para ver se achavam essa montanha. O Maack também fez um desenho sobre como era esse Pico que ele tinha identificado como o mais alto”, conta ainda o montanhista.

Encontrada a montanha, era a hora de se descobrir como chegar até ela. Uma tarefa difícil, até por conta da geografia da região, explica Vitamina. É que a Serra do Mar, na verdade, é como se fossem dois “paredões” paralelos, com uma serra mais próxima do mar e outra mais perto da Grande Curitiba. O Pico Paraná, no entanto, está no primeiro paredão, na primeira beira da Serra.

“Só que se você está na segunda Serra, não enxerga a primeira. Daí começa o problema: primeiro, não tinha estrada. Como é que vai chegar ali? Daí fizeram esse voo e ele já descobriu que via planalto, lá por Campina Grande [do Sul], seria o caminho. Naquele tempo havia um único lugar que tinha uma vilazinha desse lado da montanha e aí eles foram lá e começaram a perguntar pros moradores da região sobre as montanhas da área. Era época de caça, na região tinha muito tigre, onça, e aí eles falaram com os caboclos de lá. O Maack foi com mais dois escaladores e dois carregadores.”

Após quatro dias de muito sofrimento, chegaram no cume do Tucum e finalmente viram o colosso Pico Paraná. “Uma vista linda! Resolveram ir reto e, caralho, ficaram sofrendo mais alguns dias na tentativa de transpor o profundo vale que os separava do Cerro Verde. Tiveram ainda azar, porque pegaram muita chuva. Aí viram que não daria certo e recuaram, voltando pro ponto de partida, onde tinham falado com os caboclos, que haviam indicado essa rota”, afirma Vitamina.

De volta ao ponto de partida, o grupo acabou conhecendo outro caboclo, Josias Armstrong, que já havia estado num dos picos da região, o Caratuva. Esse pico é o segundo maior de toda a região Sul, com 1.860 metros. “Eles andaram por dias no meio daquele mato fechado, denso, até que conseguiram chegar no topo da serra. E quando chegaram no topo, caíram duros, porque estava bem em frente ao Pico Paraná”.

E finalmente a conquista do Pico Paraná

Não havia caminho melhor para a conquista do PP. É que o Caratuva é o único lugar por onde dá para se passar para se chegar até a crista do Pico Paraná. Só que os perrengues enfrentados pelos desbravadores também foram grandes, com muita chuva. Ainda assim, o grupo decidiu seguir em frente, continuando o ataque ao ponto culminante.

“Eles conseguiram atravessar por uma passagem estreita e depois começaram a subir a vertente do PP. Quando já estavam numa zona mais de campo de altitude, mais fácil de transitar, com água, montaram acampamento. E enquanto estavam montando acampamento, dois deles [Alfred Mysing e Rudolfo Stamm] resolveram subir para dar uma olhada, ver como era o finalzinho do caminho. Eles foram e subiram [até o cume do PP]”.