O Terminal Guadalupe, no Centro de Curitiba, é um lugar histórico e, também, um dos principais pontos de integração entre a Capital e os municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Todos os dias, cerca de 200 mil pessoas transitam pelo local, que serve como ponto de partida e chegada para diversas linhas de ônibus municipais e metropolitanas. Uma região, no entanto, que também encara uma situação paradoxal, convivendo há anos entre o sagrado e o profano, relatam comerciantes e moradores.
O sagrado advém da presença do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, que fica ao lado do terminal de ônibus. O profano, por outro lado, é proveniente do que se vê do lado de fora do templo, no entorno do terminal. Tráfico de drogas, desigualdade social e um número crescente de pessoas em situação de rua são algumas das questões mais citadas por quem respira diariamente o ar do Guadalupe.
“Aqui, estamos entre o profano e o sagrado. O sagrado está na igreja. Do lado de fora, existe o profano. Eu tenho comércio aqui desde 2012 e moro na região há 31 anos. Quando vim morar para cá, não existia morador de rua, não existiam os noias, não tinha tanto assalto. O Centro era muito bonito, tudo organizado. Hoje é uma sujeira, uma nojeira: muito lixo, muito relaxo, mau cheiro. E o comércio sofre, porque aqui entram dez ou mais pessoas durante o dia para pedir, para furtar. Você não tem sossego, tem que ficar cuidando. Você está trabalhando e tem que ficar cuidando ao mesmo tempo”, comenta Florinza Tomasi, de 75 anos, dona de um comércio perto do terminal.
A história do terminal
Construído na década de 1950, o lugar onde hoje fica o Terminal Guadalupe começou a funcionar em 1956 e operou, até o começo dos anos 1970, como rodoviária de Curitiba. Até essa época, inclusive, a João Negrão era marcada pelo grande número de hotéis, com as hospedagens se aproveitando do grande número de visitantes que chegavam à cidade por ali. Em 1972, no entanto, foi inaugurada a Rodoferroviária e o local onde ficava a antiga Rodoviária passou a ser um terminal de ônibus. Com isso, o perfil da via e seu movimento mudaram.
Hoje, são poucos os hotéis que funcionam na região. Por outro lado, o comércio popular é pujante e se aproveita do fluxo diário de pessoas que passam por ali para pegar ônibus. Mas esse comércio também sofre com a violência, que ao longo dos anos foi aumentando. Para piorar, após a pandemia de Covid-19 também houve um aumento exponencial no número de pessoas em situação de rua que ficam pela região.
“Quando começamos o comércio, não tinha muita gente em situação de rua por aqui, tráfico. Depois de 2020, depois da pandemia, piorou muito. É muita gente morando na rua. Temos visto isso na Rui Barbosa também, na Praça Tiradentes. Esse lado aqui da cidade tá bem abandonadão, entendeu? Bem abandonado. O que salva a gente aqui é a igreja”, afirma Ozeias Freire, 47 anos, proprietário de uma loja de roupas em frente ao Guadalupe.
“A gente tem uma esperança”, diz comerciante
Apesar da insegurança ainda ser um problema, algumas situações melhoraram nos últimos tempos. A prostituição, por exemplo, já foi um problema e hoje não é mais. “Você não vê mais prostituta por aí, que era algo que tinha bastante em volta da igreja e hoje não tem mais”, comenta Florinda.
Já Ozeias destaca ter esperança de que a situação da segurança vá melhorar. Na realidade, aponta até que já está melhorando, segundo ele, por conta de uma presença mais frequente de policiamento, com a Guarda Municipal e a Polícia Militar.
“A gente tem uma esperança. Vão mudar um pouco as ruas aqui, mexer com a João Negrão. Eles vão dar uma mexida, e daí vai dar uma melhorada para nós”, aponta ele. “Recebemos aqui muito turista de fora. O pessoal chegava no hotel aqui do lado e ficavam olhando. Eram pessoas gritando, xingando, fazendo escândalo. Dava vergonha. Mas agora a polícia está mais presente e isso deu uma diminuída, uma melhorada boa. Temos visto mais policiamento, viaturas aqui direto.”
Além disso, ele também aponta a presença da Santuário no local como um fator primordial para o sucesso dos negócios. “É algo que atrai bastante turista, e aqui nós tratamos bem o turista, conversamos muito com eles, servimos café… É um pessoal muito alegre, principalmente os nordestinos. A igreja ajuda muito, todo domingo encosta quatro, cinco, seis ônibus de fora. isso aí é legal. Aqui trabalhamos no domingo só para servir essa galera. E agora, com mais segurança, tem ajudado bastante”, finaliza o empresário.