Com 9,1 mil credenciados, corretor de imóveis é a profissão do momento em Curitiba

Crescente demanda por imóveis abriu caminho para mais profissionais atuarem na área, mas a entrada no setor exige formação

Isabelle Sales
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Crescente demanda por imóveis abriu caminho para mais profissionais atuarem na área, mas a entrada no setor exige formação (Foto: Franklin de Freitas)

Nos últimos anos, Curitiba tem vivenciado um dos períodos mais aquecidos do mercado imobiliário, impulsionando o crescimento no número de corretores de imóveis e imobiliárias na cidade. De acordo com dados do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Paraná (CRECI-PR), a capital paranaense já conta com 9.136 profissionais credenciados e 1.842 imobiliárias ativas.

A valorização dos imóveis, a oferta de crédito com juros mais acessíveis e o aumento da procura por qualidade de vida têm transformado o setor em um dos mais competitivos do estado.

Como se tornar corretor de imóveis

A crescente demanda por imóveis abriu caminho para mais profissionais atuarem na área, mas a entrada no setor exige formação. Para se tornar corretor de imóveis, é necessário ter ensino médio completo (ou curso superior), conclusão do curso de Técnico em Transações Imobiliárias (TTI) presencial ou à distância e registro no CRECI.

O processo leva, em média, de dez meses a um ano. Há também cursos superiores na área, como o curso de Gestão de Negócios Imobiliários da UFPR, e propostas de lei que devem, futuramente, incluir exame de proficiência como requisito obrigatório para atuação.

A qualificação é o que diferencia o bom corretor

Segundo José Pedro de Souza, vice-presidente de lançamentos e comercialização imobiliária do Secovi-PR, o cenário atual exige profissionais cada vez mais capacitados. “O corretor precisa conhecer de leis, zoneamento urbano, financiamento e, principalmente, entender de pessoas. O bom atendimento depende de preparo técnico e emocional”, afirma.

Ele também destaca o crescimento no número de corretores vindos de outras áreas. “Hoje temos engenheiros, advogados, arquitetos migrando para o setor. Isso mostra que o mercado está atrativo e que há espaço, mas para quem se qualifica”, pontua.

Segmentos em destaque e bairros mais valorizados de Curitiba

O primeiro semestre de 2025 foi de bons resultados para o setor. Segundo análises do Inpespar, instituto de pesquisa do Secovi-PR, as vendas continuam em alta, com destaque para imóveis populares com crédito facilitado, apartamentos de um dormitório e sobrados em condomínio fechado – os mais procurados no início do ano.

Os bairros com maior valorização e alta demanda são o Centro, Batel, Água Verde e Ecoville, onde a infraestrutura urbana é considerada um diferencial.

Salários atrativos

Embora o salário varie de acordo com o desempenho, Souza estima que um corretor bem posicionado em Curitiba possa ganhar acima de R$ 15 mil mensais. Mas ele alerta: “É preciso ser acima da média. Estudar sempre, fazer cursos, buscar especialização. O corretor que se acomoda, fica para trás.”

Ainda há espaços para corretores em Curitiba?

Com a chegada de novos moradores vindos de outros estados, a capital paranaense se consolida como um polo de qualidade de vida e oportunidades no setor imobiliário. O vice-presidente do Secovi-PR acredita que a cidade ainda comporta mais corretores, desde que bem preparados.

“Curitiba tem nos surpreendido positivamente. A prefeitura tem ouvido o setor, e hoje contamos com uma Câmara Setorial no legislativo municipal. O mercado está em movimento, e quem se especializa vai se destacar cada vez mais”, conclui.

Danilo trocou a Volkswagen pelo mercado imobiliário 

Danilo de Oliveira, 38 anos, é hoje um nome conhecido no mercado imobiliário de Curitiba. Mas antes de se dedicar à corretagem, ele teve uma carreira sólida como executivo da Volkswagen do Brasil. A conexão com imóveis, no entanto, sempre existiu; mesmo enquanto trabalhava na multinacional, já atuava como investidor.

Foi em 2018 que ele decidiu mudar completamente. Saiu da indústria automobilística para se dedicar à corretagem. Dois anos depois, com a experiência de investidor e agora corretor, fundou sua própria empresa no setor. 

“O maior erro de quem quer vender um imóvel é não ouvir o mercado. Tem gente que acha que o imóvel vale o mesmo que o do vizinho, que está há três anos tentando vender e não consegue”, diz Danilo.

“Não é só sobre a fachada bonita do prédio. Comprar imóvel é o maior investimento da sua vida. É preciso entender se aquilo faz sentido para sua rotina, onde você trabalha, onde seus filhos estudam. Tem muita coisa envolvida. E por isso é essencial ter um profissional ao lado.”

A vida real por trás da profissão

Se por fora a vida de corretor pode parecer simples, por dentro ela exige preparo emocional e muita paciência. Para Danilo, o maior aprendizado da profissão é a resiliência.

“Frustração e frustração até você chegar ao ápice e ter um momento de alegria. É 80% frustração e 20% alegria. Então, você precisa ser resiliente, precisa ser paciente pra passar esse momento de frustração e saber que daqui a pouco o negócio vai acontecer”

Alta concorrência preocupa quem não se prepara

Segundo Danilo, Curitiba mudou muito nos últimos anos. E o reflexo no mercado imobiliário é nítido.

“Tem muita gente vindo de fora. Toda semana a gente atende clientes de outros estados que vêm buscar mais qualidade de vida e segurança. Isso aqueceu bastante o mercado.”

Com o aquecimento da cidade e o crescimento do setor, também aumentou o número de corretores atuando em Curitiba. Para Danilo, isso não é um problema, desde que haja preparo.

“O mercado imobiliário é um oceano vermelho, cheio de concorrência. Mas o problema não é a quantidade de corretores, é a falta de qualificação. Quem estuda e se prepara, não sente a concorrência.”

Trajetória da corretora Raqueline Gembarovski em Curitiba

Natural de Quitandinha, na Região Metropolitana de Curitiba, Raqueline Gembarovski, de 37 anos, transformou a mudança para Curitiba em um ponto de virada profissional. Ao chegar à capital, ainda jovem e recém-formada no ensino médio, ela precisava conciliar trabalho e estudos. Foi nesse momento que surgiu a oportunidade de atuar como assessora comercial e, logo depois, como corretora de imóveis.

Hoje, com 16 anos de experiência no setor imobiliário, ela administra sua própria imobiliária há sete anos, é formada em Direito e iniciou uma pós-graduação em Direito Imobiliário. Além disso, estudou noções de arquitetura para ampliar seu repertório.

Início marcado por superação e desafios

“Uma pessoa conhecida me indicou o curso de corretora, gostei e estou até hoje”, conta Raqueline. A trajetória, no entanto, não foi isenta de dificuldades. Uma das negociações mais marcantes de sua carreira ocorreu no início da pandemia, quando um cliente próximo faleceu durante o processo de venda. “Foi um prejuízo emocional enorme”, relembra.

Com o tempo, Raqueline desenvolveu uma abordagem mais estratégica para os atendimentos. Antes de agendar visitas, realiza uma entrevista prévia para entender o perfil e a real possibilidade de compra do cliente. “Às vezes, a pessoa tem expectativa, mas não tem o poder de compra. Então tudo isso é filtrado no início para que a gente não perca tempo e nem gere frustrações.”

Ser mulher no mercado imobiliário

Para Raqueline, os desafios relacionados ao gênero ainda existem, embora tenham diminuído com o tempo. “Nós, corretoras, somos comunicativas e simpáticas, e algumas pessoas acabam confundindo isso”, diz. Segundo ela, é fundamental ter jogo de cintura para lidar com situações delicadas e, sempre que possível, levantar o máximo de informações sobre o cliente antes de um atendimento presencial.

“Por sermos mais frágeis, ficamos mais suscetíveis ao risco. Porque, às vezes, você não sabe quem é a pessoa que está ali do outro lado, então, é até interessante sempre tentar levantar o maior número de informações possíveis.”

Corretor não ganha comissão fácil?

Raqueline também rebate um dos maiores mitos do setor: a ideia de que corretor ganha comissão fácil. “Muita gente acha que é só abrir e fechar portas e ganhar comissão, mas não é assim. O trabalho exige conhecimento técnico, preparo, ética e muito estudo.”

Ela também alerta para a atuação de pessoas sem credenciamento. “Infelizmente, vemos muita gente sem CRECI atuando no mercado, especialmente em lançamentos do Minha Casa, Minha Vida. Isso desvaloriza a profissão. Falta fiscalização do Estado, mas também união entre os corretores para denunciar práticas antiéticas.”

Qualquer pessoa pode denunciar os “falsos corretores” através dos canais oficiais do CRECI-PR.

Relacionamento de longo prazo

A imobiliária de Raqueline hoje é especializada em locação de imóveis. Com uma equipe de cinco corretores, sendo três focados em vendas. Ela explica que o segmento exige acompanhamento constante e qualidade no atendimento.

“A venda é um processo no qual a gente levanta as certidões, verifica, assina e encerra-se a venda. Já na locação, a gente entra em uma relação que pode durar até 30 meses com proprietário e inquilino. Se não houver uma boa administração, o impacto é direto na reputação da empresa.”

Raqueline afirma que há fidelização de clientes, sobretudo quando se trata de locações. “A imobiliária que não prestar um bom serviço, não vai durar no mercado. Isso motiva os nossos clientes a continuarem e indicarem o nosso trabalho”, explica.

Ela também destaca que, por conta da demanda, os corretores de locação trabalham em horário comercial durante a semana, enquanto os de vendas atuam em regime de plantão. As visitas aos sábados são comuns, mas o atendimento é feito conforme a disponibilidade do profissional.