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(Escola de Astrologia em Curitiba carrega no nome a ideia de romper padrões (Livia Berbel)
Foto principal – Foto_ Alana Morzelli
Equipe da sede Saturnália em Curitiba: astrologia e cultura de uma maneira inovadora (Fotos: Alana Morzelli)

Na Roma Antiga, Saturnália era uma festa pagã que durava sete dias em homenagem ao deus Saturno. Reunia banquetes, música, dança, jogos e troca de presentes, mas o que a tornava realmente marcante era o espírito de subversão: as regras sociais eram temporariamente invertidas, os escravizados eram servidos por seus senhores e, por um breve momento, a ordem era virada de cabeça para baixo.
Séculos depois, o nome reaparece em Curitiba com um novo significado. A Saturnália é a primeira escola de Astrologia da cidade e carrega no nome a ideia de romper padrões — desta vez, no modo como se ensina e se entende a astrologia.

Com mais de 200 alunos por ano espalhados pelo Brasil e em países como Portugal e Estados Unidos, a escola foi criada há 16 anos e tem como patrono ninguém menos que Gilberto Gil. A proposta é unir astrologia e cultura, em uma abordagem que conecta o saber astrológico com temas como arte, cinema e política.

“Trabalhamos olhando para os fenômenos da cultura porque é assim que as pessoas conseguem trazer a astrologia para o cotidiano”, explica João Acuio, astrólogo e diretor da escola.

A Saturnália oferece cursos online de Astrologia e Tarot. O curso de Astrologia tem três anos de duração, dividido em quatro módulos (sendo o terceiro opcional). Já o curso de Tarot é mais curto: um ano, com dois módulos. Todo o planejamento pedagógico é feito por uma equipe de coordenação e os professores estão espalhados pelo país.

Mas o que realmente diferencia a escola é a forma como entende e transmite a astrologia. “É justamente por entender a astrologia dessa forma que percebemos o quanto ela difere do que muita gente imagina. A astrologia que praticamos aqui não se resume ao horóscopo de jornal, com previsões diárias baseadas nos 12 signos. Isso até pode ter dado origem a uma ideia popular, mas não representa a profundidade da prática astrológica, que sempre foi um estudo sobre o espírito do tempo”, explica Acuio.

A produção de conteúdo também faz parte da atuação da escola. A Revista de Astrologia Cazimi, por exemplo, já chegou à terceira edição com ensaios que exploram a relação entre poesia e astrologia, reunindo oito poetas em diálogos entre letras e estrelas. Já o fanzine Selina propõe leituras astrais de personagens brasileiros a partir de suas obras.

Foto 2 – Foto_ Alana Morzelli
Fachada da sede Saturnália


A astrologia na vida
Foi ainda no ensino médio, em Curitiba, que João Acuio teve o primeiro contato marcante com a astrologia. Uma professora do Colégio Integral, Tatiana, decidiu fazer o mapa astral de todos os alunos da turma, com foco vocacional, para ajudar na escolha do vestibular. A experiência despertou interesse imediato pela precisão com que a professora descrevia aspectos da personalidade e do momento de vida de cada estudante. “Achei quase absurdo alguém falar tanta coisa que fazia sentido.”, conta.

A partir da experiência, começou seus estudos na astrologia com a mesma professora e entendeu que a prática é mais do que previsões ou adivinhações, e sim um sistema com estrutura própria, como um idioma. “É como aprender inglês ou iorubá. Você precisa dominar os fundamentos, a gramática, a lógica por trás.”. Deste então, já são mais de três décadas de envolvimento com os astros.

Foto 3 – Foto_ Alana Morzelli
Sala de aula na sede da Saturnália

Astrologia como uma oportunidade
Para além do místico, os cursos promovem também uma nova forma de trabalho e geração de renda para muitas pessoas, especialmente entre as gerações mais jovens. O mercado da astrologia tem crescido no Brasil nos últimos anos, impulsionado pela busca por autoconhecimento, espiritualidade e também pela possibilidade de atuação profissional. Segundo dados da plataforma de pesquisas MindMiners, 63% dos brasileiros afirmam acreditar em astrologia, e cerca de 30% acompanham horóscopos e mapas com frequência.

Plataformas como Instagram, YouTube e podcasts ajudaram a popularizar a linguagem astrológica e a atrair um público mais diverso, incluindo pessoas interessadas em atuar profissionalmente na área — seja como astrólogos, tarólogos, criadores de conteúdo ou pesquisadores.

Com um olhar voltado para os símbolos e para o tempo presente, a Saturnália mostra que a astrologia pode ser, sim, um caminho de estudo profundo — sem perder o vínculo com a cultura e a imaginação.

Alana Morzelli, sob supervisão de Mario Akira