
Na Roma Antiga, Saturnália era uma festa pagã que durava sete dias em homenagem ao deus Saturno. Reunia banquetes, música, dança, jogos e troca de presentes, mas o que a tornava realmente marcante era o espírito de subversão: as regras sociais eram temporariamente invertidas, os escravizados eram servidos por seus senhores e, por um breve momento, a ordem era virada de cabeça para baixo.
Séculos depois, o nome reaparece em Curitiba com um novo significado. A Saturnália é a primeira escola de Astrologia da cidade e carrega no nome a ideia de romper padrões — desta vez, no modo como se ensina e se entende a astrologia.
Com mais de 200 alunos por ano espalhados pelo Brasil e em países como Portugal e Estados Unidos, a escola foi criada há 16 anos e tem como patrono ninguém menos que Gilberto Gil. A proposta é unir astrologia e cultura, em uma abordagem que conecta o saber astrológico com temas como arte, cinema e política.
“Trabalhamos olhando para os fenômenos da cultura porque é assim que as pessoas conseguem trazer a astrologia para o cotidiano”, explica João Acuio, astrólogo e diretor da escola.
A Saturnália oferece cursos online de Astrologia e Tarot. O curso de Astrologia tem três anos de duração, dividido em quatro módulos (sendo o terceiro opcional). Já o curso de Tarot é mais curto: um ano, com dois módulos. Todo o planejamento pedagógico é feito por uma equipe de coordenação e os professores estão espalhados pelo país.
Mas o que realmente diferencia a escola é a forma como entende e transmite a astrologia. “É justamente por entender a astrologia dessa forma que percebemos o quanto ela difere do que muita gente imagina. A astrologia que praticamos aqui não se resume ao horóscopo de jornal, com previsões diárias baseadas nos 12 signos. Isso até pode ter dado origem a uma ideia popular, mas não representa a profundidade da prática astrológica, que sempre foi um estudo sobre o espírito do tempo”, explica Acuio.
A produção de conteúdo também faz parte da atuação da escola. A Revista de Astrologia Cazimi, por exemplo, já chegou à terceira edição com ensaios que exploram a relação entre poesia e astrologia, reunindo oito poetas em diálogos entre letras e estrelas. Já o fanzine Selina propõe leituras astrais de personagens brasileiros a partir de suas obras.
A astrologia na vida
Foi ainda no ensino médio, em Curitiba, que João Acuio teve o primeiro contato marcante com a astrologia. Uma professora do Colégio Integral, Tatiana, decidiu fazer o mapa astral de todos os alunos da turma, com foco vocacional, para ajudar na escolha do vestibular. A experiência despertou interesse imediato pela precisão com que a professora descrevia aspectos da personalidade e do momento de vida de cada estudante. “Achei quase absurdo alguém falar tanta coisa que fazia sentido.”, conta.
A partir da experiência, começou seus estudos na astrologia com a mesma professora e entendeu que a prática é mais do que previsões ou adivinhações, e sim um sistema com estrutura própria, como um idioma. “É como aprender inglês ou iorubá. Você precisa dominar os fundamentos, a gramática, a lógica por trás.”. Deste então, já são mais de três décadas de envolvimento com os astros.
Astrologia como uma oportunidade
Para além do místico, os cursos promovem também uma nova forma de trabalho e geração de renda para muitas pessoas, especialmente entre as gerações mais jovens. O mercado da astrologia tem crescido no Brasil nos últimos anos, impulsionado pela busca por autoconhecimento, espiritualidade e também pela possibilidade de atuação profissional. Segundo dados da plataforma de pesquisas MindMiners, 63% dos brasileiros afirmam acreditar em astrologia, e cerca de 30% acompanham horóscopos e mapas com frequência.
Plataformas como Instagram, YouTube e podcasts ajudaram a popularizar a linguagem astrológica e a atrair um público mais diverso, incluindo pessoas interessadas em atuar profissionalmente na área — seja como astrólogos, tarólogos, criadores de conteúdo ou pesquisadores.
Com um olhar voltado para os símbolos e para o tempo presente, a Saturnália mostra que a astrologia pode ser, sim, um caminho de estudo profundo — sem perder o vínculo com a cultura e a imaginação.
Alana Morzelli, sob supervisão de Mario Akira