
No Brasil existem apenas dois centros pediátricos especializados no tratamento de dificuldades alimentares infantil. E um deles está em Curitiba. Criado em 2017, o ADA – Ambulatório de Dificuldades Alimentares – atende somente crianças pelo SUS, com o trabalho focado em uma das queixas mais frequentes dos pais em relação aos seus filhos. “A dificuldade na alimentação infantil requer um diagnóstico minucioso, pois atinge crianças com seletividade alimentar, com TARE (Transtorno Alimentar Restritivo), com baixo apetite, com medo de comer e aquelas onde os pais é que acabam interpretando equivocadamente a alimentação do filho, levando a criança a uma piora da alimentação e a um prejuízo das relações intra-familiares”, explica o pediatra Cícero Alaor Kluppel, fundador e responsável pelo atendimento no ADA.
Segundo o pediatra, as dificuldades alimentares são divididas em três tipos: baixo apetite, seletividade e medo de comer. Cada um destes tipos é dividido em outros quatro: erros de interpretação, formas leves, formas mais graves e causas de origem orgânica. Na maioria das vezes á interposição dos tipos. “Ao chegar na consulta, a maioria das famílias diz que procurou o serviço para fazer a criança comer direito. Na medida que entendem que a intervenção começa criando condições para que a criança goste de participar de uma refeição e que não é necessário forçar a criança a comer, as dúvidas começam a aparecer”.
A maioria das dúvidas segundo Cícero Alaor Kluppel estão relacionadas ao preparo dos alimentos, a como oferecer, como fazer a refeição na mesa, como parar de usar telas (tablets, celulares e televisão) e o que é considerado uma alimentação saudável. “Como cada caso é único, todos os dias somos surpreendidos por uma questão nova”, ressalta o pediatra.
Perfil
As crianças já atendidas pelo ADA têm idades entre 2 e 12 anos, e chegam ao ambulatório porque os pais se incomodam com a forma de alimentação e geralmente são encaminhadas por outras especialidades (endocrinopediatria, pneumopediatria, gastropediatria, neuropediatria), onde o especialista constatou problema na alimentação. “Há crianças com doenças cardíacas, com questões genéticas, crianças dentro do Transtorno do Espectro Autista (que são em número significativo) e outras com erros na oferta de alimentos e dificuldades dos pais em entender como alimentá-las adequadamente”, elenca Kluppel.
Quando o assunto é saber diferenciar manha de dificuldade alimentar, o pediatra alerta: “É difícil perceber esta diferença. Muitas vezes os pais acham que é manha, principalmente por pressão do resto da família, e a criança tem seletividade grave. Outras vezes a criança não sente fome numa refeição única e os pais se preocupam achando que pode ser uma doença grave. Mas usar a palavra “manha” é bem perigoso, porque menospreza o que a criança sente. Pode-se deixar passar uma situação de sofrimento físico ou psicológico e tomar atitudes que agravam a situação. O importante é saber o que acontece nesta família, o que é considerado manha, porque a família está tendo dificuldade na refeição, porque a criança recusa o alimento e porque a criança precisa usar o recurso de não comer.”
As crianças atendidas no ADA – localizado no Hospital das Clínicas – precisam ser encaminhadas por um ambulatório do CHC-UFPR (Complexo Hospital de Clínicas- Universidade Federal do Paraná), ou por uma UBS – Unidade Básica de Saúde. “É importante ressaltar que muitos pais que querem que seus filhos comam alimentos saudáveis não o fazem e atitudes coercitivas, forçar comer, chantagem, brigas e estresses durante a refeição, somente pioram o problema”, destaca Cícero Kluppel.