Franklin de Freitas – Hobby atrai a curiosidade das crianças e o fascínio de adultos

Curitiba não tem mar. Mas isso não significa que o município deixe de ter uma vida marinha (tanto de água doce como de água salgada) pulsante e expressiva. É que muitos curitibanos que procuram um animal de estimação e preferem sair da dobradinha cão e gato acabam encontrando na aquariofilia uma opção interessante, com diversidade de opções e muitas cores. Um movimento, inclusive, que faz a capital paranaense ser referência nacional no aquarismo, que é a prática de criar peixes, plantas e outros organismos aquáticos em aquários para fim ornamental ou de estudo.

Proprierário da Planeta Aquários, localizada há 22 anos no Mercado Municipal, Cleverson Augusto Schilipacke comenta que Curitiba concentra uma grande quantidade de apaixonados pelo aquarismo. É claro que um município como São Paulo, que possui mais de 12 milhões de habitantes, possui um mercado, em volume de negócios, mais expressivo que a capital paranaense, cuja população soma menos de 2 milhões de pessoas. Ainda assim, quando considerados os mercados proporcionalmente, a capital paranaense se destaca como um dos principais mercados e como uma das cidades mais apaixonadas pelo hobby.

“Estamos no mercado há 22 anos e temos uma quantidade muito grande de clientes. Já foi comentado que Curitiba é a capital do aquarismo do país, mas não existem dados oficiais para gente falar dessa forma. Aina assim, temos muitos adeptos da aquariofilia e é bem interessante”, diz o empresário.

Nos anos de pandemia, o setor tem conseguido se manter estável, sobrevivendo com um número de vendas que não teve crescimento, mas que também não apresentou queda considerável. Um dado interessante, considerando a perda de poder de compra por parte da população e também o aumento no custo dos equipamentos, já que grande parte dos materiais utilizados no hobby são cotados em dólar e nos últimos anos o valor da moeda americana teve aumento expressivo.

Com a retomada gradual da atividade econômica, o otimismo também cresce no meio do aquarismo, que já vislumbra dias melhores, com crescimento do mercado.

“Estamos bastante otimistas. Sabemos o mercado que temos e há uma boa expectativa de retomar o crescimento”, comenta Schilipacke, explicando que os apaixonados pelo aquarismo podem até ter reduzido o volume de compras, por exemplo, mas não deixaram o hobby de lado.

“As vezes a pessoa gostaria de trocar um aquário, sair do aquário de água doce pro aquário marinho, mas deixa para um pouco mais para frente. É um hobby, uma paixão que ele tem e faz questão de manter. Mas acreditamos, sim, que em breve vai ter uma retomada do crescimento no nosso setor.”

Da paixão da infância para o negócio de adulto

A história de Cleverson Schilipacke com o aquarismo, inclusive, é um tanto curiosa. Tudo começou quando o empresário tinha apenas 13 anos de idade e sua família era dona de um aviário. “Um dia passou uma pessoa de bicicleta vendendo aquariozinhos de betta e ela comprou um. Quando cheguei da escola tinha um aquário de betta para mim”, recorda ele.

Para decorar o lugar, Schilipacke resolveu colocar seu aquário no balcão da loja. Mas uma cliente que foi até lá acabou se interessando e fez uma oferta para comprar o recipiente com o peixe. “Minha mãe falou ‘você que sabe. Quer vender, venda’. Aeu vendi, deixei o dinheiro com minha mãe e falei para ela comprar dois aquários”.

Com instinto empreendedor, Schilipacke decidiu a partir dali começar a vender aquários na loja dos pais. No Natal, inclusive, montou uma pirâmide de aquários no balcão da loja, que ficava bem de frente para a rua.”TInha uns 20, 30 aquários e vendemos tudo no Natal. Com aquele dinheirinho comprei um aquário maior e mais tarde, com 15 anos, montei meu primeiro aquário marinho”, recorda.

Quando completou 17 anos, o jovem empreendedor tirou todo um setor do aviário que vendia animais como galinha e pintinho e transformou num setor de aquários. O negócio foi interrompido quando ele completou 19 anos e foi para os Estados Unidos, mas ao retornar para o Brasil nos anos 2000 ele finalmente abriu sua loja, já no Mercado Municipal. “Com o tempo fomos expandindo e hoje, além da loja, temos uma fábrica de aquários também e vendemos para outros estados, como São Paulo.”

Na sua loja, há famílias que já estão na terceira geração de clientes e apaixonados pelo aquarismo. “É um hobby apaixonante, que levamos para o resto da vida. Aqui, já estamos na segunda ou terceira geração das famílias. Tivemos clientes que tinham 30, 40 anos quando abrimos a loja. Hoje elas tiveram seus filhos e seguem no hobby. E temos até alguns clientes cujos netos estão ingressando na aquariofilia. É uma coisa muito gostosa cuidar de um aquário, ver os animais com saúde plena e você poder interagir com eles. Isso é espetacular”, celebra.

Dicas para quem quer iniciar no hobby

Para quem está querendo iniciar no aquarismo, algumas apontamentos preliminares são importantes, comenta Cleverson Schilipacke. O primeiro deles é avaliar qual o tempo disponível para se doar e cuidar de um aquário. “Tem que ter, pelo menos, de uma a duas horas em um dia da semana para administrar o seu aquário, cuidar dele”, diz o especialista.

Em segundo lugar, é preciso reservar um espaço específico dentro de sua residência para colocar o aquário. Tal local não deve ter incidência do Sol e deve ser um espaço onde se tenha tranquilidade em torno do recipiente.

Por último, o interessado também deve ir até uma loja especializada para que um profissional do setor apresente as espécies de peixe que há na loja e auxilie o cliente na escolha do tamanho de aquário.

“A partir daí, é estudar, conhecer um pouco da parte orgânica do aquário com relação a nitrato, a fosfato, alguns parâmetros, e também sobre a vida daquele peixe que você escolheu”.

“Saber quais as condições ideais, temperatura de água, pH [acidez], amônia… Enfim, os parâmetros necessários para ter um animal vivendo com saúde dentro do seu aquário”, explica Schilipacke.

Uma espécie de peixe indicada para quem está começando é o kinguio, um peixe vermelho, extremamente resistente e muito tranquilo para ser mantido dentro do aquário, mas que tem algumas exigências com relação ao tamanho do recipiente, por se tratar de um peixe que cresce.

“Pensando no kinguio, um aquário de 60 litros, para ter um peixe no porte de uns 4 a 5 centímetros, vai ter um custo de R$ 800 a R$ 1,5 mil. Algumas marcas é plug and play, o aquário vem completo, com iluminação, filtro, bomba. Esse aquário sai a partir de R$ 1,2 mil. Se eu fizer um aquário em vidro, colocando filtro, uma coisa um pouco mais simples, o mesmo tamanho de aquário vai ter por R$ 800, R$ 900”, aponta o especialista, dando uma ideia do quanto é necessário investir para iniciar no hobby.