
Não é à toa que Curitiba é conhecida como a Capital Ecológica do Brasil. De acordo com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o índice de área verde na cidade é de 64,5 metros quadrados por habitante, valor cinco vezes superior ao mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 12 metros quadrados por habitante. E ainda que muito disso tenha a ver com os parques e praças da cidade, existe um outro fator associado a isso que ajuda a explicar o sucesso ambiental e a riqueza ecológica da cidade: a preservação de fragmentos florestais que formam uma espécie de faixa verde no meio da cidade.
De acordo com a plataforma MapBiomas, um projeto cujo propósito de mapear anualmente a cobertura e uso da terra do Brasil e monitorar as mudanças do território, em 2021 o equivalente a 14,12% do território curitibano (6.143 hectares ou 61,43 milhões de metros quadrados) ainda era formado por florestas ou fragmentos florestais. Essas áreas, especialmente aquelas localizadas nas regiões norte e oeste da Capital, formam uma espécie de cinturão verde, uma linha com natureza preservada em regiões com parques como o Tanguá, o Barigui e o Passaúna
Para conferir a existência dessa faixa ou cinturão verde, um exercício tão simples quanto didático, ensina o zoólogo Alberto Urben Filho, é acessar o Google Maps. Na barra de pesquisa, digite o nome da cidade (Curitiba) e espere o mapa distanciar automaticamente, mostrando o contorno do município. Quando isso acontecer, basta mudar o tipo de mapa sendo exibido, do padrão para o satélite, que já será possível visualizar a faixa verde em meio ao cinza de área não vegetada que já ocupa 71% do território curitibano.
“É uma faixa que atravessa um terço da cidade. Dois terços do território é bem degrado, mas essa faixa é bem conservada. E Curitiba é uma cidade bem arborizada, também. Nesse fragmento florestal perto da minha casa [no Mossunguê], por exemplo, tem dois gaviões enormes, um gavião-pato e outro gavião-pega-macaco”, explica o zoólogo, comentando ainda sobre a riqueza da fauna curitibana: desde o século XIX um total de 389 espécies de aves nativas já foram identificadas na cidade, além de sete espécies introduzidas e já aclimatadas.
Para se ter uma noção do que isso representa, a capital paranaense, sozinha, tem a mesma quantidade de espécie de aves de toda a Europa. Isso sem falar nas outras espécies de animais. “A gente chama isso de matriz ecológica. O que vai definir essa riqueza, abundância de aves é a matriz ecológica, ou seja, a presença de fragmentos verdes”, complementa o especialista.
Nos últimos anos, o município mostrou também inovação na área, com mais de 200 mil árvores plantadas no Desafio 100 Mil Árvores para Curitiba, e o repovoamento das abelhas nativas sem ferrão, com o projeto Jardins de Mel.
Desde 1998, município ficou mais “natural”
O ativo ambiental de Curitiba, em sua totalidade, é formado por mais de 13 milhões e 899 mil metros quadrados de áreas verdes, representados por 1.184 Unidades de Conservação da Prefeitura: Jardim Botânico, Zoológico, Museu de História Natural Capão da Imbuia, parques, bosques, centenas de praças, jardinetes, largos, eixos de animação, jardins ambientais, Áreas de Proteção Ambiental e Estações Ecológicas, além das Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal (RPPNMs).
Ao longo dos últimos anos, há indicativos de que essas áreas, sinônimos de conservação ambiental, estão até mesmo se expandindo. Em 1988, por exemplo, a cidade somava apenas cinco parques e cinco bosques. Hoje, já são 44 parques e bosques em diversas regiões da cidade, sendo estimado ainda que mais de 350 espécies de animais silvestres (entre aves, mamíferos, répteis, insetos e outros) façam parte da fauna curitibana.
Não bastasse, apenas em vias públicas – sem contar as que estão nos bosques nativos, recomposições de plantio nestas áreas e os plantios em áreas particulares do Desafio 100 Mil Árvores – a capital tem 330 mil árvores plantadas. Entre os inúmeros benefícios das áreas verdes, elas garantem conforto térmico, sombra, abrigo à biodiversidade e sequestro de carbono (fotossíntese).
Em dois anos, Capital ganha mais 24 reservas particulares
Com 58 Reservas Particualres do Patrimônio Natural Municipal (RPPNMs), Curitiba é referência em políticas de proteção em áreas particulares. Apenas em 2021 a cidade certificou 21 novas reservas. No ano passado, outras três reservas foram criadas, totalizando as 58 áreas verdes particulares preservadas, o que corresponde a mais de 800 mil m2.
Não surpreende, então, que a capital paranaense tenha sido reconhecida pela Associação dos Protetores de Áreas Verdes de Curitiba e RMC (Apave) como a capital com o maior número de Reservas Particualres do Patrimônio Natural Municipal no Brasil.
As Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal são uma realidade em Curitiba desde o ano de 2007, quando a primeira RPPNM foi instituída. A partir de então, os proprietários de imóveis com áreas verdes têm demonstrado interesse cada vez maior pela preservação e conservação ambiental, promovendo a transformação de suas áreas em Unidades de Conservação, de caráter perpétuo e irrevogável.