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Cassiana Pizaia: de Curitiba acompanhou em tempo real a filha no RS (Franklin de Freitas)

Conversar por chamada de vídeo com a filha que está longe de casa sempre foi confortante para a jornalista e escritora Cassiana Pizaia. Nos últimos dias, as conversas, além de amenizar a saudade, têm sido motivo de alívio. Sofia Pizaia, de 21 anos, é estudante de Medicina na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e mora no Rio Grande do Sul há dois anos e meio. Sempre que possível, celebra as datas comemorativas ao lado da família. Este ano, contudo, as enchentes e o fechamento das rodovias e aeroportos quase fizeram com que ela quebrasse a tradição de passar o Dia das Mães junto à família.

Apenas na quarta-feira (8), às vésperas do Dia das Mães, a notícia de que uma empresa aérea disponibilizou voos partindo de Santa Maria a Campinas, em São Paulo, aliviou os corações de Sofia e sua mãe. Antes, os voos partiam de Porto Alegre para outras capitais. Mas o aeroporto está fechado desde o dia 3 de maio devido à elevação do Rio Guaíba e, segundo a Fraport, administradora do aeroporto, as operações devem ficar suspensas por tempo indeterminado. Para amenizar a situação, já que o tráfego por terra também está impossibilitado em muitos municípios, a malha aérea está sendo reformulada.

“A gente já estava programando a vinda dela [Sofia]. Com a chuva e os alagamentos, todos os planos foram cancelados, porque a passagem que a gente tinha comprado já não servia mais pra nada. Não tinha como sair por terra, porque as estradas todas foram bloqueadas, então a gente estava sem saber o que fazer”, conta Cassiana.

Foram dez dias seguidos de muita chuva e solidariedade

As fortes chuvas começaram em Santa Maria no dia 30 de abril. Cassiana recebeu um vídeo de sua filha mostrando que a UFSM estava completamente alagada. Com isso, as aulas tiveram de ser suspensas. Felizmente, o bairro onde Sofia mora não foi tão afetado pelas enchentes, o que deixou sua família mais tranquila, em partes, porque ainda tinham outros desafios a serem enfrentados e, principalmente, a rapidez com que a água tomou conta da cidade.

Com a situação de calamidade, Cassiana queria que sua filha saísse de Santa Maria o mais rápido possível. No entanto, ficar lá era mais seguro, porque se ela tentasse viajar de ônibus ou pegasse uma carona para ir à estrada, o perigo era maior.

“A gente começou a ver as imagens de ponte caindo, inclusive da estrada que dá acesso a Porto Alegre logo caiu. Foi tudo muito rápido. O sistema de abastecimento ficou intermitente, porque aproximadamente 60% da cidade ficou sem abastecimento de água. Devido ao medo, todo mundo começou a armazenar água em casa. A água desapareceu dos mercados. As pessoas ficaram desesperadas, mas o contato com ela eu nunca perdi, que foi uma coisa muito boa, porque muita gente ficou sem esse contato. Às vezes o 4G não pegava direito, mas em casa ela tinha acesso à internet”, relata Cassiana.

Apesar da preocupação de ter sua filha “ilhada”, sem poder sair da cidade, o que confortou Cassiana foi saber que Sofia estava ajudando as pessoas que perderam suas casas e estão em situação de vulnerabilidade. De acordo com o boletim da Defesa Civil, divulgado nesta quinta-feira (9), 107 mortes foram confirmadas em virtude das enchentes. Ainda há 136 pessoas desaparecidas e 164.583 desalojadas. As fortes chuvas que assolam o Rio Grande do Sul há mais de dez dias afetou 425 dos seus 497 municípios.

Sofia juntou-se a um grupo de estudantes da UFSM para ajudar a angariar donativos. Os amigos e familiares dos universitários começaram a contribuir para que eles conseguissem comprar mantimentos para o centro de distribuição. Há diversos pontos de coleta em Santa Maria, os itens mais pedidos nos abrigos são fraldas, produtos de higiene, alimentos e água. É possível ajudar por meio do pix do diretório dos estudantes: [email protected].

“Mesmo que ela não pudesse vir no Dia das Mães, a gente ainda tem que ser grato, porque estar em segurança, ter recurso, água, ter condições de estar bem nesse momento é um privilégio lá. Então, a gente gostaria que ela viesse, a gente tava buscando um caminho pra ela vir dentro das condições de segurança que a gente desejava, mas ao mesmo tempo a gente sabe que nesse momento, o mais importante é todo mundo estar bem”, reflite Cassiana.

Situação: As vítimas das chuvas precisam de ajuda

Com municípios parcialmente debaixo d’água, o povo gaúcho precisa de ajuda. As cheias desestabilizaram a rotina e as vidas dos cidadãos, fizeram com que eles perdessem tudo o que tinham. Com isso, os olhos de pessoas do Brasil e até de outros países estão voltados a ajudar as vítimas das chuvas. Em Curitiba, todos os Corpos de Bombeiros estão recebendo donativos. Também há diversos pontos de arrecadação na Capital, como shoppings e igrejas. Confira os endereços.

Cálculos iniciais estimam que serão necessários R$ 19 bilhões para reconstrução do Rio Grande do Sul. E a situação pode piorar. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê chuvas fortes no Rio Grande do Sul a partir desta sexta-feira (10). A instabilidade, em particular no estado gaúcho neste fim de semana, acontece devido ao recuo de uma frente fria de Santa Catarina para o RS, após uma frente quente.