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Do inglês ao japonês: veja os motivos que levam o curitibano a aprender outros idiomas

Líguas tradicionais lideram com folga a procura, mas outros idiomas “emergentes” ganham destaque na cidade

Nicole Salomón
capa – linguas – luis pedruco

(Fotos: Luis Pedruco)

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Curso Bunkyô, em Curitiba: 120 alunos e boa parte de não-descedente de japonês

Em Curitiba, o interesse por aprender novos idiomas está em alta. Inglês, espanhol, francês, italiano, alemão e japonês estão entre os mais procurados impulsionados por motivações que vão do mercado de trabalho a intercâmbios, laços culturais e lazer.

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A cena curitibana dos idiomas segue a lógica global, mas com suas particularidades. Ainda prevalecem os idiomas considerados “tradicionais”, como inglês, espanhol. Mas novas tendências surgem do interesse crescente por línguas asiáticas, como japonês e coreano, até o destaque dado ao aprendizado de Libras, a Língua Brasileira de Sinais.

Aprender um novo idioma pode nascer de várias motivações: um filme que inspirou a curiosidade, a vontade de conversar com alguém, a oportunidade de morar fora, viajar ou se destacar no mercado de trabalho.

Um exemplo é o curso Bunkyô de língua japonesa, no Cristo Rei, que atualmente reúne cerca de 120 alunos. O número se mantém estável desde o fim da pandemia. Contudo, a coordenadora Deborah Suemitsu lembra que o período de isolamento foi marcado por um aumento significativo na procura por aulas on-line.

O perfil dos alunos reflete uma mudança cultural: cerca de 70% não são descendentes de japoneses, um índice que ela aponta que cresce a cada ano. E os motivos são igualmente diversos: muitos buscam bolsas de estudo oferecidas pelo governo japonês, outros se inscrevem por hobby ou pelo interesse na cultura japonesa.

Idioma: Identidade cultural

Por ser uma cidade marcada pela presença de diversos povos imigrantes, Curitiba carrega até hoje a influência das comunidades de descendência italiana, alemã, polonesa, ucraniana e japonesa. Um legado cultural se reflete também no interesse por idiomas, já que muitos buscam aprender a língua dos antepassados como forma de manter tradições vivas e reforçar a identidade familiar.

A estudante Ingrid Potl é um exemplo de como aprender um novo idioma vai além da sala de aula. Desde 2023, ela faz aulas de alemão, motivada pela ligação familiar. Ela conta que o avô e tio nasceram na Áustria e que ela tem dupla cidadania. “Sempre me interessei por novos idiomas e sabia que ter isso no currículo poderia me abrir novas portas, seja para estudar ou trabalhar fora”, conta. Hoje, Ingrid faz aulas on-line. Para ela, o aprendizado também é uma forma de mergulhar nas próprias raízes. “A curiosidade de aprender mais sobre a cultura da minha família faz parte. Gosto de me imergir em todos os âmbitos quando me proponho a aprender algo novo”, explica.

Já outra estudante, Carolina Senff, conta que sua motivação para aprender espanhol surgiu durante um intercâmbio na Califórnia, quando conheceu colegas espanholas. Além disso, sua host mom era peruana, o que fez da convivência uma experiência marcante. “Aprender espanhol, para mim, é também uma memória afetiva. Conviver com elas despertou a vontade de conhecer melhor a língua. Acredito que aprender outro idioma abre portas não só profissionalmente, mas também culturalmente”, afirma.

Tecnologia transforma maneira de aprender idiomas

O avanço da tecnologia também vem transformando a forma como os curitibanos aprendem novos idiomas. Aplicativos que antes eram vistos apenas como apoio, hoje já se tornaram porta de entrada para muita gente. O estudante Murilo Wiczick, começou a usar um dos aplicativos em 2023.

“Baixei o app para aprender alemão porque minha família por parte de pai fala alemão. Achei que seria importante eu me conectar com eles através do idioma . Hoje já tenho vários dias seguidos de prática”, conta. Murilo diz que, no futuro, pretende também viajar e visitar a Alemanha e acha importante esse passo inicial de aprender o idioma.

Sinais: tendências globais e necessidades locais

Mais do que só aprender uma nova língua em Curitiba, o aprendizado de línguas estrangeiras reflete tanto tendências globais quanto necessidades locais. Segundo levantamento da PUC Idiomas a escola de línguas da PUCPR, os idiomas mais procurados atualmente, em ordem de interesse, são: inglês, italiano, francês, espanhol, alemão e japonês.

Apesar da diversidade, o inglês e o espanhol ainda lideram com folga. O destaque recente dessas duas línguas se deve principalmente às turmas in company, contratos firmados diretamente com empresas, que priorizam treinamentos em inglês, e em segundo lugar em espanhol, para capacitar seus funcionários.

Entre os chamados idiomas emergentes, como coreano, japonês, chinês, alemão e francês, o crescimento também é constante, mas nada se compara ao avanço das duas primeiras posições. “O inglês continua sendo a grande prioridade, seguido pelo espanhol”, resume o levantamento.

Os motivos que levam os curitibanos a aprender uma nova língua também são variados, mas seguem uma ordem clara: trabalho, intercâmbio, acadêmico (mestrado/doutorado), cidadania, mudança para outro país, cultura, ocupar o tempo, lazer e descendência familiar.
Seja pelo inglês, pelo japonês ou por Libras aprender um idioma em Curitiba é também aprender novas formas de olhar o mundo.

Libras em alta

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) também pode ser considerada uma das línguas emergentes. Em Curitiba a procura é alta.

A estudante Beatriz Dias contou que se interessou pela Libras depois de acompanhar shows e vídeos nas redes sociais com dublagem em língua de sinais. Para ela, aprender Libras é mais do que uma necessidade: é uma ferramenta de comunicação que todos deveriam conhecer. “Muita gente estuda porque conhece alguém surdo e aprende por necessidade. Eu quis ir além acredito que esse aprendizado vai me ajudar não só na vida profissional, mas também ajudar outras pessoas”, afirma.

Em âmbito nacional, a busca por Libras disparou e chegou ao 2º lugar entre os idiomas mais pesquisados no Google, atrás apenas do inglês, segundo levantamento via Google Trends, que analisou mais de 11 milhões de buscas.

Nicole Salomón, sob supervisão de Mario Akira