Arquivo pessoal – Bruno e João

Domingo é Dia dos Pais. E o dia de todos os pais, ressalte-se. É que nos últimos anos a tradicional família brasileira, formada por pai, mãe e filho(a), foi ganhando novas e mais diversas configurações. Com isso, vem se tornando cada vez mais comum as famílias com pais solteiros (monoparentalidade), pais divorciados que dividem a guarda do(s) filho(s), divorciados que unem as famílias, padrastos que na prática assumem o papel de pais e também casais homoafetivos, com dois pais. Entre eles, o que há em comum é o amor.

Para celebrar esta data tão especial e as diferentes composições familiares, o Bem Paraná conta agora a história de alguns desses pais contemporâneos, os quais comprovam que questões como o gênero, a idade e o status civil pouco importam quando o que prevalece é o respeito e a união.

‘Foi amor à primeira vista’

Juntos a mais de uma década e casados, o jornalista João Pedro Schonarth e o servidor público Bruno Banzato sempre tiveram o desejo de aumentar o tamanho da família e ter um filho. Desde o início do casamento, inclusive, a adoção era um assunto conversado entre os dois, que no final de 2014, já estabilizados financeiramente e emocionalmente/psicologicamente, decidiram dar início ao processo de adoção, para o qual foram habilitados em junho do ano seguinte.

Em janeiro de 2019, finalmente, o telefone do casal tocou: era chegada a tão aguardada hora deles conhecerem o filho. “A gente foi conhecer ele no lar e foi amor à primeira vista, quando vimos ele sentimos no coração que ele era nosso filho. Fizemos o processo de aproximação (15 dias), depois ele foi morar com a gente, quando já estávamos com a guarda provisória (durou mais 45 dias até sair a guarda definitiva). Foi quando pudemos colocar o nosso nome na certidão de nascimento dele, é um momento muito lindo ver no papel os nossos três nomes juntos”, recorda o jornalista.

Quando foi morar com os pais, Dani tinha um ano e meio de agora. Agora em junho já celebrou seu quinto aniversário. Segundo João, a paternidade tem sido o momento mais alegre e bagunçado na vida do casal.

“É uma delícia acompanhar as descobertas dele e o seu crescimento e é uma loucura como a criança vira a nossa casa de cabeça para o ar. Foi um encontro perfeito entre nós três, fomos todos feitos uns para os outros”, comemora Schonarth, revelando que o próximo domingo será em família. “Vamos fazer um passeio ou assistir um filme, como fazemos no final de semana. Ser pai foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida!”

Guarda compartilhada: ‘Ela tem o lado bom dos dois, atenção integral’

Leandro Gazola tinha 32 anos quando soube que seria pai pela primeira vez. Na época, diz ele, já estava começando a aguçar essa vontade de ter uma filha, mas ainda assim foi um choque quando ele soube que sua então namorada estava grávida. “A gente não esperava e o namoro já não estava bem. Depois foi acostumando, mas teve uns problemas, porque 2015 foi época da crise econômica e a empresa que eu trabalhava faliu. Fiquei desempregado no meio da gravidez, mas logo consegui outro emprego. Foi um susto de primeira viagem”.

Após o nascimento de Valentina, que hoje tem seis anos, ele e a companheira ainda tentaram insistir por um tempo num relacionamento, mas não deu certo. Decidiram que o melhor era a separação. Mas Leandro fez questão de lutar pela guarda compartilhada. “Eu queria estar junto, fazer parte, criar igual a mãe e ter os mesmos direitos. Até os 11 meses ela ficou mais com a mãe, porque era muito pequena, mas depois chegamos num acordo”, conta o pai, que visita a filha um dia de semana, pernoita com ela outro dia e ainda passa finais de semana alternados com a guarda.

“Os dois advogados que eu tive falaram que o que mais acontece é o contrário, da mãe ter de ir atrás do pai para dar atenção ao filho, principalmente quando a gravidez não é planejada. Mas isso nunca entrou na minha cabeça. Desde o começo eu grudei na Valentina, sempre estive lá, o máximo que deu “, comenta Leandro, revelando que na época em que sua filha nasceu havia um estigma que o preocupava, o de que crianças com pais divorciados tinham de lidar com traumas. Mas não aconteceu.

“A Valentina é uma criança muito, muito feliz. Quando ela está comigo, tem minha atenção integral, brincamos, e com a mãe é a mesma coisa. Ela tem o lado bom dos dois pais, tem atenção integral dos dois. Isso é uma coisa boa.”

‘É meu filho, essencial no meu crescimento pessoal e profissional’

Jackson Friesen, de 35 anos, não tinha a pretensão de ser pai. Há sete anos, no entanto, começou a namorar com a mãe de Alexandre, hoje um adolescente. Ele conheceu o rapaz quando ainda era pequeno e tinha três anos de idade. Hoje está com 15. E o seu pai, inquestionavelmente, é Jackson, com quem Ana está casada desde 2018.

“Foi uma convivência natural que passamos a ter. Conversávamos, fomos nos dando bem. E como ele era pequeno, foi mais tranquilo, fomos criando naturalmente uma relação de pai e filho”, relata Jackson, contando que os amigos e família tratam o Alê como seu filho, efetivamente. “Meus pais são os avós dele, ele é o neto deles mesmo também”, afirma Jackson, destacando a importância do enteado para sua evolução.

“O Alexandre é meu filho, tenho ele como essencial no meu crescimento pessoal e profissional. Hoje eu penso na família sempre em primeiro lugar. Quero crescer profissionalmente e pessoalmente. Hoje sou bem sucedido graças a eles”, diz.

Como a família precisa se desdobrar, as celebrações do Dia dos Pais já começaram no último final de semana. “Domingo passado passamos o dia com meu pai. Neste final de semana vamos passar com a família da minha esposa, dia 14 também é o aniversário dela. Vamos conciliando essas datas especiais para ter convivência com todos os familiares”, explica.

Família tradicional já não aparece como maioria no Paraná

A família tradicional brasileira, com pai, mãe e filho(s), já não é maioria no Paraná, segundo revelam dados do IBGE. Em 1980, por exemplo, o arranjo familiar clássico estava presente em cerca de dois terços (66%) dos domicílios paranaenses. No Censo de 2010, quando foram listados 19 laços de parentesco, os novos lares (não tradicionais) somaram 50,1%.

Já em 2015, ano com dados mais recentes sobre o assunto, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) revelou que os lares ‘não-tradicionais’ já representavam quase 60% das famílias paranaenses. Uma situação que reflete o que vem acontecendo nacionalmente: desde 2005, o perfil composto unicamente por pai, mãe e filhos vem deixando de ser maioria. Se na década retrasada o arranjo tradicional abrangia 50,1% das moradias, dez anos depois já ocupada 42,3% dos lares pesquisadores – uma queda de 7,8 pontos percentuais, que deve se revelar ainda mais acentuada no novo Censo, que já está sendo realizado pelo IBGE.