Paraná Todo dia 171 diferente

Don Juan, Robert De Niro dos calotes, Pix falso e mais: a cada três minutos, um golpe no Paraná

Crimes de estelionato estão em alta e batem recorde ano a ano; só em 2025, já são mais de 90 mil ocorrências em sete meses

Rodolfo Luis Kowalski
CAPA OSTRA FRANKLIN

Bar A Ostra Bêbada, no Centro de Curitiba: golpista tentou "passar a perna" duas vezes no mesmo lugar em menos de um ano (Foto: Franklin de Freitas)

A cada três minutos e meio, em média, um golpe ou uma tentativa de golpe ocorre no Paraná. É o que revelam informações da Secretaria da Segurança Pública (Sesp-PR), as quais apontam que nos últimos cinco anos houve mais de 660 mil crimes de estelionato no estado. Para piorar, esse tipo de ocorrência vem se tornando mais comum, batendo recorde ano a ano. Um problema que voltou aos holofotes recentemente, após bares e restaurantes de Curitiba denunciarem um tal de “Robert De Niro dos calotes”.

O crime de estelionato

Tipificado no famoso artigo 171 do Código Penal, o crime de estelionato consiste, basicamente, na prática de golpes ou fraudes, nos quais o criminoso engana a vítima para obter algum tipo de vantagem (na maioria da vezes em dinheiro). Com o avanço tecnológico, principalmente a popularização da internet e dos smartphones (que são verdadeiros computadores móveis), os golpes também evoluíram e ganharam vez no mundo digital. Isso, inclusive, é um fator que pode ajudar a explicar a explosão de ocorrências no estado.

As estatísticas do golpe

De acordo com os dados do Boletim de Ocorrência Unificado (BOU), disponibilizados pelo Centro de Analise, Planejamento e Estatística (Cape) da Secretaria de Segurança Pública (Sesp-PR), entre janeiro de 2021 e julho de 2025 (último mês com dados disponíveis) um total de 663.808 BOs denunciando casos de estelionato foram registrados no Paraná. Só em 2025, em sete meses, houve 94.432 registros. O número ainda está um tanto distante do total de ocorrências registradas no ano passado (1601.442), mas indica a possibilidade de um novo recorde.

Em 2024, por exemplo, houve 160.442 denúncias de crime de estelionato no Paraná. Um recorde, e que vem sendo superado a cada ano. Em 2019, já houve 41.222 registros desse tipo. No ano seguinte, 70.767. Em 2021, 117.710. E desde então, um novo recorde vem sendo anotado ano a ano: 141.744 casos em 2022; 148.400 em 2023; e 160.442 em 2024.

O número do ano passado, inclusive, aponta para uma alta de 289% nos crimes de estelionato, na comparação com 2019. Ou seja, ocorrências assim se tornaram quase três vezes mais frequentes nos últimos cinco anos.

“De Niro” gastou mais de R$ 400 no bar e tentou sair sem pagar a conta (Foto: Franklin de Freitas)

“Robert De Niro dos calotes” já prejudicou mais de 10 estabelecimentos em Curitiba

Os crimes de estelionato voltaram aos holofotes nesta semana, após um bar do Centro de Curitiba, A Ostra Bêbada, denunciar um cidadão que ganhou o apelido de “Robert De Niro do calote”. O nome se deve à semelhança física do suspeito com o ator hollywoodiano e aos golpes que vem aplicando em estabelecimentos diversos: ele chega, come e bebe tudo o que pode, e espera um vacilo para ir embora sem pagar a conta. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), pelo menos 10 bares e restaurantes sofreram prejuízo com as “atuações” do “De Niro”.

No caso d’A Ostra Bêbada, o fanfarrão acabou sendo “pego no pulo” na última terça-feira (9 de setembro). Cerca de um ano antes (em 3/9/24), já havia dado um golpe no mesmo local, deixando um prejuízo de R$ 414. Desta vez, o rombo foi até um pouco maior: R$ 427. Da primeira vez, ele conseguiu fugir. Na segunda, acabou sendo identificado enquanto se empanturrava e acabou na delegacia.

“As duas comandas dele, somando, dá quase R$ 900. Ele vem, experimenta de tudo um pouco, pede pratos caros, toma chopp, pede doses, e depois vai embora sem pagar”, diz Lucas Cintra, sócio d’A Ostra Bêbada. “Demorei para perceber que era a mesma pessoa de um ano antes, não me recordei de imediato. Mas depois que percebi, já avisei o pessoal do bar para ficar de olho. E quando ele pediu mais uma dose e a conta chegou perto dos R$ 500, por uma questão de protocolo a gente encerra a comanda, o cliente paga e recomeça. Quando a garçonete lançou a conta, daí ele disse que estava esperando alguém para pagar. Depois, admitiu que não tinha dinheiro e disse que ia deixar o documento, para voltar pagar outra hora. Falei que não. Ele tentou fugir, mas corri atrás e puxei de volta pro bar”, relata o empresário.

Contatou-se, então, a Polícia Militar, que chegou rápido ao bar. O suspeito foi interrogado e levado para a delegacia. Ao puxarem a ficha criminal, descobriram ainda que tinha outras ocorrências em seu nome. “Ele faz isso meio que direto, só muda os lugares. Só que dessa vez ele se deu mal porque a gente reconheceu ele”, conta ainda Cintra, explicando que “Robert De Niro” chegou a sair algemado do local, mas que na delegacia acabou sendo solto rapidamente. “Ele saiu praticamente junto comigo da delegacia. Agora vamos ter uma audiência em 18 de novembro e estamos tentando juntar todos os empresários que já foram prejudicados por ele, fazer com que prestem queixa para ver se fica mais fácil dele cumprir alguma pena, pagar pelo que fez.”

Don Juan, golpe do Pix falso e mais

A história de “De Niro”, no entanto, é só mais um exemplo de golpe. No Paraná, os casos são tão numerosos quanto os tipos de ocorrências, com os criminosos usando a imaginação para criar estratégias capazes de enganar alguém.

Recentemente, por exemplo, a Polícia Civil prendeu uma mulher investigada por prejudicar um jovem autista. Ela fingia ter um relacionamento afetivo com o rapaz, que trabalhava com ele como empacotador num programa de inclusão para pessoas com deficiência, para conseguir obter vantagens indevidas. Suspeita-se que ela teve acesso a dados bancários do rapaz, induzindo-o a contratar empréstimo e movimentar valores do seu Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O prejuízo financeiro superaria R$ 10 mil.

Já no começo deste ano, um “Don Juan” foi preso em Cascavel, na região oeste do estado. De acordo com as investigações, ele utilizava aplicativos de relacionamento para enganar mulheres, criando vínculos emocionais e prometendo relacionamentos duradouros com o objetivo de obter vantagens financeiras. “Ele mantinha envolvimento simultâneo com várias vítimas e, em alguns casos, utilizava ameaças para coagi-las. Os levantamentos indicam que ele contava com o apoio de terceiros para movimentar os valores obtidos ilicitamente”, explica a delegada da PCPR, Raisa Scariot.

Em fevereiro, outro homem foi preso em São Mateus do Sul, na região sudoeste, por praticar uma série de golpes via “Pix falsos”, causando um prejuízo de R$ 407 mil. O golpe consistia em negociar a compra de produtos, principalmente pneus, com comerciantes e, em seguida, enviar comprovantes falsos de pagamento. As mercadorias eram retiradas por meio de serviços de transporte e as vítimas só percebiam o crime durante o fechamento das contas.

CRIMES DE ESTELIONATO…

… NO PARANÁ

2025*: 94.432
2024: 160.442
2023: 148.480
2022: 142.744
2021: 117.710

… EM CURITIBA

2025*: 23.674
2024: 41.097
2023: 40.188
2022: 41.169
2021: 35.970

*Dados até julho

Fonte: Boletim de Ocorrência Unificado (BOU). Dados disponibilizados pelo Centro de Análise, Planejamento e Estatística (Cape) da Secretaria da Segurança Pública (Sesp-PR)