Uma educação sem paredes, uma educação sem limites. Este pode ser considerado o lema da instituição Educa Mato Preto, que fica em Campo Largo. Criada em 2007, a chácara recebe crianças que têm desde os oito meses de idade até os 12 anos. Hoje, são cerca de 30 alunos e nove profissionais (praticamente um profissional para cada três alunos), todos em contato com a natureza – a escola não conta com salas, mas em troca oferece aos alunos muito verde, com horta, cavalo, galinheiro, patos… Afinal, como apontara o escritor e dramaturgo austríaco Hugo von Hofmannsthal, o processo de formação é tanto mais feliz quanto mais as suas diversas fases assumirem o caráter de acontecimentos vividos

Idealizadora da Educa Mato Preto, a pedagoga Silmara Crozeta conta que a ideia surgiu após a leitura de um livro durante a faculdade. Quando eu fazia magistério, li um livro chamado ‘Quintal Mágico’. O formato de educação apresentado pelo livro – com vivência intensa com a natureza e as pessoas – era um convite para as crianças pensarem. Eu me encantei, mas vi que na educação tradicional isso não era possível. Eu me sentia muito sozinha nesse caminho de quebrar as paredes, afirma.A solidão da pedagoga, porém, acabou ganhando uma companhia após ela se casar. Foi o primeiro passo para a realização do sonho antigo: oferecer um processo educacional diferente para crianças. Comecei cuidando do nosso filho. Depois, começamos a perceber que o espaço da chácara era grande, ocioso, e começamos a configurar a vinda de escolas para passar o dia. Na sequência, começamos a ficar com filhos de colegas e fomos amadurecendo isso, relata. Na escola, o olhar para a educação passa pela natureza. As crianças dão banho em cavalo e alimentam patos, sempre tendo o brincar como princípio de educação. Além disso, a cada época do ano (verão, inverno, primavera e outono), uma novidade de acordo com o que a natureza oferece, o que também acaba sendo incorporado ao ensino.O fato de ter uma chácara, ter a natureza, é 50% do trabalho. Saber o que fazer com isso é os outros 50%. Aqui, as crianças voltam a ser criança. Elas caminham descalças na grama, jogam bola, veem minhoca. O verde, a natureza, é o foco que traz o bem estar para a criança, que estabelece códigos com a natureza e se comuinica com ela. O espaço físico interno retoma as práticas cotidianas, explica Silmara.

Na escola, os jovens têm aula de fotografia, montaria, música, economia solidária, agricultura natural biodinâmica e yoga. Os mais novos ficam com os mais velhos – uma medida bem cuidadosa, destaca Silmara, para que ninguém se machuque. Eles (crianças) vivem como se fossem uma grande família. Eles comem juntos, um cuida do outro, brincam juntos.Temos uma liberdade e autonomia para vivência, o que apostamos como um diferencial, diz a pedagoga. Além disso, nada de provas ou notas. O que há é uma avaliação descritiva de cada aluno.Temos um caderno de anotações e descrevemos o que aconteceu no dia, o que vai acontecer… Fazemos uma ‘memória’ das crianças, e as crianças delas mesmas. Observamos, então, de que forma intervir para ajudá-los a melhorar, evoluir. Nossa avaliação é feita desde a alimentação.  Há, por exemplo, crianças que nunca comeram feijão. Daí elas vão na horta e veem como é todo o processo, acompanham a transformação da mudinha virando uma folha linda. Esse processo de cada criança vemos como um perfil para trabalharmos com eles e relatamos isso de uma forma descritiva para a família. A gente percebe a importância dos professores passarem para os pais uma evolução do percurso pedagógico do desenvolvimento das crianças, explica Silmara.De tão inovador que é o método de ensino da Educa Mato Preto, há ainda quem se assuste. Ao  descrobrirem que em vez de uma sala de aula as crianças ficam em um barracão, que elas não farão provas e não terão uma nota, muitos pais desistem da ideia. Aos poucos, porém, a novidade vai conquistando o reconhecimento de familiares e, principalmente, das próprias crianças.Este lugar é diferente do que costumamos encontrar. Aqui as crianças tem um lugar seguro, acolhedor, tem pessoas fazendo outras coisas, pessoas presentes como sujeito mais experiente, mas que não estão fiscalizando elas. Isso tudo, é claro, sem perder a educação. Elas não fazem o que querem, mas tem espaço para ser criança, diz Silmara. As crianças tem uma relação de resposta muito rápida, é de um dia para o outro. Elas querem voltar, encontram amigos de diferentes interesses e experiências e respondem muito rápido porque encontram um eco. Dificilmente tenho criança que não queira voltar.

Já os pais se convencem quando notam que a criança melhorou, começou a dormir e se alimentar melhor. Ele vê o bem estar do filho e aposta na escola, finaliza.Mesmo quando a maioria das escolas entra de férias, a Mato Preto segue na ativa, com Colônia de Férias – o pacote semanal de período integral custa R$ 200 (6 horas por dia), mas é possível também pagar por dia (R$ 45 período integral e R$ 38 meio período). Já para matricular seu filho para estudar na escola, é necessário pagar uma mensalidade, que custa R$ 726 no período integral e R$ 605 o meio período. Para o contra-turno, há também pacotes de frequência semanal com valores que variam de R$ 488 até R$ 28 por dia.

SERVIÇO
Chácara Mato Preto
Rua Jose Rossa, 2112, Campo Largo
https://www.facebook.com/matopreto