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Experimento “engraçado” em sala de aula (Foto: Luis Pedruco)

Eles dão um show à parte na sala de aula. De forma lúdica e às vezes engraçada, o ensino chega para os alunos além do quadro e das tarefas. São professores que inovam na “arte” de ensinar, tocam violão, divertem a classe com ciência prática e até arriscam um ou outro truque. Esta quarta-feira (15) é Dia do Professor.

Professor de Literatura no ensino médio no Colégio Católica Curitiba, Everton Bastos, transforma suas aulas em um verdadeiro encontro entre arte e conhecimento. Com um violão, ele mostra aos estudantes como canções populares e clássicos da literatura podem se entrelaçar.

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“Costumo levar o violão para a aula, principalmente nos momentos de preparação para o Enem e vestibulares. Trabalho com músicas que dialogam com textos literários, como Exagerado, do Cazuza, ao lado de obras do Romantismo, ou Alucinação, do Belchior, em conexão com Quarto de Despejo”, explica.
A proposta, além de estimular a interpretação e as intertextualidades, cria um ambiente mais leve e participativo. “Eles se sentem mais à vontade e é também um momento de relaxamento importante para essa fase de estudos”, analisa.

Aula prática e divertida

Também no Católica, as professoras Eduarda Pelizzari e Gislayne Oshiro mostram que aprender pode, e deve ser divertido. Ambas apostam em atividades práticas e experimentos para despertar o interesse dos estudantes e tornar o conteúdo mais atraente para os alunos de Ciências da Natureza e Matemática do Ensino Fundamental.

Entre os experimentos realizados estão o cálculo de velocidade média com bexigas e barbantes, a demonstração do calor específico da água, e até uma música autoral sobre organelas celulares. O entusiasmo toma conta dos alunos. “Eles adoram, se envolvem e até trazem ideias novas. É incrível ver o brilho nos olhos quando entendem um conceito por meio da prática”, conta Eduarda, professora de Ciências e Pensamento Computacional.

Já Gislayne, professora de Matemática e Ciências, aposta em experiências que unem aprendizado e diversão. Em suas aulas, os estudantes já aprenderam grandezas inversamente proporcionais com uma corrida de carrinhos, cultivaram hortaliças na horta escolar e até observam microrganismos no laboratório a partir de culturas feitas em sala.

“Essas atividades despertam a curiosidade e a vontade de aprender. Quando o estudante experimenta e observa o resultado, o conhecimento faz sentido”, explica. Jogos matemáticos e até receitas na cozinha também fazem parte da rotina.

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(Foto: Luis Pedruco)

Games

O professor de Biologia da rede pública Sam Adam Hoffmann precisou ressignificar seu papel como educador. Ele percebeu que ensinar conteúdos nos moldes convencionais já não despertava o interesse dos alunos. De acordo com ele, havia falta de engajamento nos assuntos abordados, então surgiu a necessidade de encontrar novos caminhos para lecionar. 

A solução foi realizar oficinas no contraturno, com atividades práticas e participativas. A participação não era obrigatória, mas duas turmas se formaram de forma espontânea, demonstrando que a maneira de ensinar reflete no engajamento dos estudantes. A metodologia, criada pelo professor, tinha a gamificação como base, fazendo com que a atenção e interesse nos temas abordados retornassem.    

“Quando comecei a usar os jogos e a gamificação nas minhas aulas, pude notar como a atenção e o interesse dos estudantes mudava, foi então que eu entendi que o problema não era eu, mas o modelo tradicional de ensino. A partir de então, sempre que possível, passei a adotar estratégias gamificadas de ensino para minhas aulas”, destaca Sam, que até truque com fogo já usou para “atiçar” o interesse dos alunos.

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(Arquivo pessoal Sam Adam Hoffmann durante experiência de ciência)

De peruca, lutando contra um câncer na pandemia

Com cerca de quatro décadas de dedicação à Educação Infantil, a professora Rosângela Sposito Brommelstroet, de 55 anos, se orgulha de sua trajetória como educadora e de ter passado pelo grande desafio de continuar trabalhando mesmo durante a pandemia, em 2000, no formato até então inusitado do ensino online para o segmento e principalmente durante o tratamento de um câncer de mama, diagnosticado em 2023.

“O trabalho junto às crianças é um coadjuvante em busca da remissão”, relembra. Para continuar em sala de aula sem despertar a curiosidade dos alunos, providenciou rapidamente uma lace, tipo de peruca. A interrupção do trabalho ocorreu apenas no auge do tratamento e muito a contragosto, quando foi necessário se dedicar integralmente a sua recuperação.

Hoje, segue encantada com o desafio de acompanhar o aprendizado de uma turma pequena, todos com menos de cinco anos, em fase de pré-alfabetização. “É muito gratificante perceber como o trabalho do professor contribui para formar valores, autonomia e curiosidade nos alunos”.

Até corredor de hospital vira sala de aula

O papel do professor é crucial e transformador, mas vai muito além da sala de aula tradicional. Exemplos de atuação inspiradora podem ser encontrados em iniciativas que unem educação e humanização, como no Hospital Pequeno Príncipe.

O hospital mantém convênios com a Secretaria de Estado da Educação (Seed) e a Secretaria Municipal de Educação (SME), garantindo que crianças e adolescentes em tratamento continuem aprendendo. A equipe do Setor de Educação e Cultura (Educ) é formada por educadores da instituição e professores das secretarias, que atendem os pacientes em idade escolar a partir de 4 anos.

No hospital, cada corredor, leito e espaço de convivência se transforma em sala de aula, e os pacientes tornam-se agentes do próprio aprendizado, participando ativamente das atividades. As crianças internadas por longos períodos recebem atendimentos que duram entre 40 minutos e uma hora.

Ludicidade e criatividade transformaram a relação dos alunos com o conteúdo

Nas oficinas do professor Sam Adam Hoffmann, os temas eram sugeridos pelos próprios alunos, e o primeiro foi a anatomia. Mesmo sem laboratório e com poucos materiais, o tema se transformou em uma vivência colaborativa. Por meio da criatividade, ações lúdicas e a capacidade de se adaptar ao ambiente, o professor conseguiu ensinar o conteúdo. Entre as estratégias, estavam atividades conectadas ao cotidiano dos estudantes e táticas de gamificação offlines e analógicas.

Com o sucesso das oficinas, — tanto para os alunos, que estavam aprendendo, quanto para o professor, que sentia que o dever estava sendo cumprido —, o projeto logo se expandiu. Junto a um amigo, criaram o projeto Iniciativa Divulgadores, que levava oficinas práticas e gamificadas de ciências a escolas que atendiam comunidades em situação de vulnerabilidade. Em poucos meses, o projeto passou por mais de 30 escolas, até ser interrompido pela pandemia de Covid-19. 

Em meados de 2020, Sam se viu em um novo desafio. Novamente, a forma de ensinar não era interessante o suficiente para despertar a atenção nos conteúdos, pois diversos alunos estavam passando por situações complicadas em casa, seja pela doença estar infectando seus familiares ou até mesmo por problemas financeiros que impactavam a família — bastante comum, já que a escola era em uma região de baixo índice econômico. A partir disso, o professor percebeu que os assuntos tinham que ter relevância na vida pessoal de cada estudante.

Retorno ao presencial e novas necessidades

Com o retorno das aulas presenciais, o professor precisou novamente se reinventar. O cenário pós-pandemia era ainda mais desafiador, tanto pela falta de educação financeira das famílias, que automaticamente atinge os estudantes, quanto pelos problemas financeiros gerados no período. O novo foco passou a ser os assuntos financeiros, o empreendedorismo e as competências socioemocionais, sempre de forma lúdica e gamificada. A ideia evoluiu para a criação da Investeendo, startup fundada por Sam em parceria com as bancárias Vanessa Cristiane Motta de Matos e Mariana Motta de Matos, mãe e filha que se tornaram cofundadoras do projeto. 

A startup paranaense ensina educação financeira por meio da gamificação e já impactou mais de 6 mil jovens em três estados brasileiros. O primeiro jogo criado era físico — e ainda utilizado em diversas escolas públicas e privadas — mas logo vieram versões digitais. Hoje, os estudantes podem acessar o conteúdo por meio de um aplicativo em tablets ou em um totem que simula um caixa eletrônico, instalado dentro das salas.

Os jogos da Investeendo colocam os jovens no centro do processo, permitindo que assumam o papel de personagens ou gestores do mercado de investimentos e da bolsa de valores. “Por meio dos jogos e da gamificação, é possível fazer com que os estudantes aprendam na prática, de uma forma que simula a realidade, mas ainda mantendo o conteúdo pedagógico e o ambiente seguro para que os jovens possam sentir as consequências de suas ações”, afirma Sam. 

Após 10 anos no serviço público, o professor optou por se desligar para comandar a Investeendo. Hoje, ele continua ensinando — mas de forma reinventada, com base quase integral na ludicidade e na criatividade. Agora, o foco não é mais a biologia, e sim a educação financeira: dos juros compostos à poupança, todos os temas fazem parte do sonho de um professor que sempre quis aproximar o aprendizado da vida real. 

Mario Akira, Fabiana Ferreira, Karen Fukushima, Sabrina Fernandes e Nicole Salomón, especial para o Bem Paraná