ANDERSON UBER VENDE PERFUME
Anderson da Silva em seu carro: interior do veículo chama a atenção (Franklin de Freitas)

Segunda-feira (20 de janeiro), 17 horas. Saindo de uma pauta no Centro de Curitiba, a equipe do Bem Paraná chama um Uber para voltar à redação. E ao entrar no carro, um Honda Civic, surpresas em série. No teto do veículo, um globo daqueles de balada ilumina o interior do automóvel. Na parte de trás do banco da frente, do lado do passageiro, diversos produtos em exposição e à venda numa espécie de estante, como carregadores, fones de ouvido, perfumes, batons e vários outros itens de estética. E na estante ainda tem um tablet que fica passando propagandas de comerciantes e prestadores de serviços locais.

O motorista em questão é Anderson Araújo da Silva, um paulista de 32 anos e que há sete anos mora no Paraná, mas há um ano e dois meses trabalha como motorista de aplicativo. E também como vendedor, já que transformou seu carro numa espécie de lojinha ambulante. Uma ideia criativa cujo intuito é aumentar os ganhos do trabalhador e também fidelizar a clientela curitibana, conta ele.

“Já entrei no Uber fazendo assim, expondo e vendendo produtos. Trouxe essa ideia de fora, já tinha visto algo parecido em Goiânia, um rapaz que vende maquiagem. Aí resolvi elaborar meu negócio, colocar também a tela para fazer publicidade e coloquei um globo no teto, porque levo bastante pessoa pra balada, né?”, explica o motorista. “Na hora que o pessoal entra, já vê a diferença e aí chama bastante a atenção. Já tem bastante vídeo do meu carro no Instagram e no TikTok”, emenda ainda ele.

ANDERSON UBER VENDE PERFUME
Interior do veículo chama a atenção dos passageiros (Franklin de Freitas)

“Como é que posso fazer a corrida de R$ 10 virar R$ 30, R$ 40?”

Tudo começou com o trabalhador pensando no que poderia fazer para uma corrida que renderia R$ 10 acabar o fazendo faturar mais dinheiro. De início, ele pensou em vender relógios, correntes, pulseiras e carteiras, além dos produtos que ainda comercializa. Rapidamente, porém, percebeu que os produtos masculinos não tinham tanta saída como os itens voltados para o público feminino. Resolveu, então, focar nesse nicho. E acabou dando certo.

“Eu pensei assim: ‘pô, como é que posso fazer a corrida de R$ 10 virar R$ 30, R$ 40’, sabe? Aí foquei no lado feminino, que é o lado que consome mais. E os produtos de estética estão super em alta. A mulherada na hora que entra no carro já vê a oportunidade e quem está indo pra balada já vai ter o que precisa aí também”, comenta Anderson, citando que os perfumes são os que mais saem. “Vende super bem e procuro sempre trabalhar com perfumes originais, até porque quero fidelizar a galera, fazer com que meus clientes me procurem no Instagram depois de me conhecer aqui e me mandem mensagem pedindo mais coisa quando precisarem.”

No Paraná, diz ele, não há outro motorista que faça algo parecido. Mas a ideia tem rendido bons frutos ao profissional.

“Olha, no dia de hoje eu comecei a trabalhar às 14 horas. Com a corrida daqui, já tirei uns R$ 70 com o Uber. Mas acabou de sair uma passageira que fez uma compra de R$ 190, está entendendo? Então não é todo passageiro que entra e compra alguma coisa, mas num dia normalmente uns três, quatro passageiros fazem compra. Pode ser uma compra de R$ 20, de R$ 30 ou uma que nem essa de R$ 190. Já tive até passageiro que comprou R$ 400 em produtos. Então alterna muito, mas é muito forte a quinta, a sexta, o sábado e o domingo, que são dias que a galera vai pra balada.”

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Perfumes e outros produtos estéticos no “portfólio” da “loja” (Franklin de Freitas)

O “pulo do gato”: venda de perfume fracionado

Embora venda uma gama diversa de produtos, o carro-chefe da loja ambulante de Anderson Silva são os perfumes. Ele compra o material pagando em dólar, no Paraguai, e depois revende pelas ruas de Curitiba. Mas sua grande sacada foi não focar em vender o produto fechado, mas em usar decants para fracionar o produto e cada cliente poder escolher o quanto vai levar.

“A galera pedia muito perfume e eu foquei nisso. Eu compro os perfumes no Paraguai, em dólar, que sai um pouco mais em conta. Só que é caro vender fechado, então veio a ideia dos decants, que você fraciona o produto e o cliente escolhe a quantidade que vai levar. Foi quando, além das mulheres, mais homens também começaram a comprar. A rapaziada está indo pro rolê e daí tem a oportunidade de usar Amir, Invictus, 212… Aí acertei, começou a vender bem perfume para homem. Mas mulher já consome outras coisas mais facilmente, como batom e outros produto para estética”, explica Anderson, que vende perfumes de 5 ml, que rendem 100 borrifadas, por R$ 49,99. “Aí a pessoa vai ter um perfume de qualidade, mas num frasco menor e com preço mais acessível. Tem vários frasquinhos e daí a pessoa escolhe a quantidade que vai levar”, complementa.

Publicidade também faz girar o negócio

Além da venda de produtos diversos, no entanto, Anderson Silva também trabalha com publicidade. É que em seu carro, perto da estante onde ficam expostos os itens à venda, ele deixa também uma tela que fica passando publicidades diversas, divulgando comerciantes e prestadores de serviço locais.

“Você é um lojista, entra aí e vê o trabalho, outras marcas sendo expostas. E o pessoal, quando entra no carro, já quer tirar foto, filmar, colocar em rede social… E nisso as marcas que fazem a publicidade comigo também acabam sendo expostas. Eu cobro R$ 200 por mês. Tem até uma tatuadora que fez corrida comigo, achou a ideia bacana, vai fazer um vídeo e nesta semana eu já vou colocar na tela e começar a rodas. Tem que usar a criatividade, inovar, fazer coisas diferentes”, afirma o criativo motorista.

Só que além de multiplicar ganhos, o trabalhador também consegue com os diferenciais de seu trabalho fidelizar a clientela (tanto para corridas/viagens como para vendas). “Normalmente a pessoa pega a corrida comigo aleatoriamente. Quando chega, a primeira impressão é a que fica, né?! E meu serviço quebra totalmente o gelo, a galera entra e já quer conversar, tirar foto… Aí depois me contatam direto pelas redes sociais para fazer corrida particular. Faço muito aeroporto, viagem pra praia… É uma coisa que também ajuda bastante.”