
Nos anos de 2023 e 2024, o Paraná registrou 8.417 casos de autoagressão envolvendo adolescentes com idades de 10 a 19 anos. O dado é de um levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), elaborado a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), base que reúne registros encaminhados pela rede de atenção à saúde e, em alguns municípios, também por escolas e centros de assistência social, conforme protocolos locais.
Segundo o levantamento, a cada 10 minutos, pelo menos um caso de autoagressão envolvendo adolescentes é registrado no Brasil, que no período registrou 100.678 casos. Divulgado nesta segunda-feira (22), o estudo foi realizado no contexto do Setembro Amarelo, mês internacionalmente dedicado à prevenção do suicídio.
Apenas nestes anos, a média diária chegou a 137 atendimentos nessa faixa etária no País, incluindo casos de violência autoprovocada e tentativas de suicídio.
Segundo os pediatras, os registros do Sinan são compulsórios, isto é, os profissionais que, de algum modo, atendem adolescentes nestas condições, devem obrigatoriamente seguir o fluxo local estabelecido para a notificação.
Em números absolutos, o Sudeste concentra quase metade das notificações nacionais (46.918 em 2023 e 2024), puxado por São Paulo, que sozinho responde por 24.937 registros. O Nordeste aparece em segundo lugar (19.022), com destaque para Ceará (4.320) e Pernambuco (4.234), que juntos representam quase metade dos casos da região.
O Sul registra proporção semelhante (19.653), liderado pelo Paraná (8.417). No Centro-Oeste, foram 9.782 notificações, com números expressivos em Goiás (3.428) e no Distrito Federal (3.148). Já o Norte, menos populoso, soma 5.303 ocorrências, sendo o Pará (1.174) e Tocantins (1.183) os principais responsáveis.
Um dos pontos de maior destaque é o número de casos que, pela gravidade, ultrapassaram o atendimento médico inicial e resultaram em internações hospitalares e óbitos. Somente em 2023 e 2024, as notificações enviadas por unidades e serviços públicos de saúde apontaram 3,8 mil hospitalizações de adolescentes por violência autoprovocada. No Paraná foram 129 casos em 2023 e 161 em 2024, com 84 mortes em 2023 e 52 no ano seguinte.
Sinais de alerta
A entidade listou os principais indícios de um quadro de sofrimento que pode resultar em tentativa de suicídio:
- tristeza ou insatisfação persistentes;
- abandono de atividades que antes eram prazerosas;
- episódios de autolesão;
- envolvimento deliberado em situações de risco;
- ausência de expectativas ou planos para o futuro.
Onde buscar ajuda
- Serviços de saúde que podem ser procurados para atendimento:
- Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde);
- UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro; Hospitais;
- Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita).
- O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone (188), e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.
Subnotificação: outras medidas
No entanto, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)alerta que os números não representam a totalidade dos casos, pois há grande possibilidade de subnotificação por falhas no preenchimento ou na comunicação das ocorrências, inclusive nos atendimentos da rede privada e em ocorrências em ambiente escolar. Isso significa que a realidade pode ser ainda mais preocupante do que os números oficiais indicam.
O presidente da SBP, Edson Liberal, ressalta que o cenário exige atenção imediata de toda a sociedade. “Muitas vezes, as autoagressões representam um pedido silencioso de ajuda. Diante dos desafios do dia-a-dia, é fundamental que pais, responsáveis e educadores escutem e, sobretudo, acolham os adolescentes. O acompanhamento com o pediatra também tem papel central, já que, nas consultas, ele pode atuar de forma preventiva, identificando sinais de alerta e orientando tanto o adolescente quanto a família”, afirma.