CROCHETEIRAS CROCHE
Encontro de crocheteiras em Curitiba: troca de experiências, dicas e peça coletiva (Franklin de Freitas)

Mais de 500 crocheteiras, com agulhas e barbantes em mãos, participaram na tarde de ontem do Encontro de crocheteiras em Curitiba, uma celebrração ao Dia Mundial do Crochê. O encontro lotou o Memorial de Curitiba em uma troca de experiências e dicas.

A organizadora, Luciana Cortez, destaca o sucesso do evento, que chegou à sua 6° edição. “A gente sente uma alegria enorme de ver o Memorial cheio, e o apoio da Prefeitura foi muito importante, desde ceder esse espaço até ajudar a divulgar”, contou Luciana.

Outro destaque do evento foi a criação de uma peça artística coletiva. Os crocheteiros inscritos foram convidados a levar um quadradinho de crochê para compor um mural com diferentes estilos.

A artista e professora aposentada Célia Maria Baudi se impressionou com a iniciativa. “Fiquei encantada com tudo, eu estou sempre de olho em eventos para participar e amo crochê, mas não imaginava que seria tudo isso. Achei o mural compartilhado especialmente maravilhoso”, disse Célia.

História

Presente na casa da vovó e também nas passarelas de Paris, o crochê atravessa o tempo com uma força silenciosa. Ele é presença discreta no cotidiano em toalhinhas, mantas, vestidos de praia, mas também já foi recurso de sobrevivência e símbolo de sofisticação. Poucas técnicas artesanais carregam uma trajetória tão variada como a arte do crochê.

As origens do crochê se perdem no espaço tempo. Há quem defenda que surgiu 1500 anos antes de Cristo já outros dizem que ele já existia desde os primórdios da civilização, usado por homens em caças e pescas, moldado apenas com os dedos. O crochê, tal como conhecemos hoje, ganha forma no século XVI, provavelmente na Península Arábica, espalhando-se pelo Mediterrâneo e, segundo outras teorias, também pela China.

Onde quer que ele tenha se originado, foi no século XIX que a técnica ganhou um status global quando a francesa Riego de La Branchardière sistematizou padrões e publicou cerca de cem livros, democratizando o acesso às “receitas” de crochê para difundir a técnica . Surgia aí o “crochê no ar”, feito apenas com linha e agulha, como conhecemos atualmente.

No início, era visto como uma versão “mais barata” das rendas e bilros, reservados apenas à elite. Mas a rainha Vitória, da Inglaterra, mudou o rumo dessa percepção ao comprar e produzir crochês, gesto que elevou o trabalho artesanal a um patamar de moda.

Prática vem sendo “redescoberta” por estilistas no século 21

Em meio a explosão da produção em massa no final do século 20, o crochê perdeu espaço. Mas nunca deixou de estar ali atravessando gerações, ensinado de mãe para filha.

Mas, o século 21 trouxe a virada com a valorização do trabalho manual e do slow fashion, o crochê volta às passarelas por marcas de luxo que o reinterpretam, transformando-o em vestidos, bolsas e biquínis que respiram exclusividade e consciência ambiental.

Além disso, tem reconhecido pelo seu valor na saúde mental e também como fonte de renda.

O Dia Mundial do Crochê foi comemorado no dia 12 de setembro. Além dos benefícios mentais da atividade, muitos crocheteiros encontraram no artesanato uma fonte de renda, como no caso da dona de casa Daiane Branco Melo Carlos.

“Eu aprendi a crochetar com a ONG Lucianas e Marias e hoje é uma terapia, além de uma forma de fazer um dinheiro extra, porque eu vendo as peças que faço”, contou Daiane.

Para a artesã e arquiteta Flávia Gomes, a coletividade é o espírito do evento. “Eu olho em volta para a diversidade de arranjos e combinações e penso em como o crochê é uma coisa mágica, com quatro pontos você pode criar uma infinidade de coisas”, refletiu Flávia.

Na história

O crochê também esteve em momentos importantes da história.

Um dos capítulos mais marcantes da história do crochê se passa na Irlanda, durante a Grande Fome do século 19. Com milhares de pessoas à beira da morte, homens, mulheres e crianças passaram a crochetar para sobreviver. Escolas foram criadas e famílias inteiras sustentaram-se com o trabalho manual, que chegou às cortes européias na época.

O crochê também esteve na linha de frente da II Guerra Mundial. Muitas peças eram desmanchadas para virar meias e casacos para soldados enviados ao front.

Na década de 1960, ele renasceu colorido e irreverente com o movimento hippie, em mantas de granny squares os famosos quadradinhos da vovó, saias e blusas que celebravam a liberdade.