Uma das carreiras mais desejadas: conheça o caminho para se tornar um juiz no Paraná

Fundada em 1983, a EMAP prepara bacharéis em direito para o exercício da magistratura. Diretor-geral da escola detalha jornada de quem quer se tornar um magistrado

Rodolfo Luis Kowalski

Escola da Magistratura do Paraná completa 40 anos na foto Osvaldo Canela Júnior (Franklin de Freitas)

A Escola da Magistratura do Paraná (EMAP) está celebrando 40 anos de história. Fundada em 1983 com o propósito de atualização, aperfeiçoamento e especialização de magistrados e a preparação de bacharéis em direito para o exercício da magistratura, a instituição é hoje a que mais aprova no concurso para magistrados do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR). E afinal, qual o caminho até alguém virar um juiz?

Para responder a essa pergunta, o Bem Paraná conversou na última semana com Osvaldo Canela Júnior, desembargador substituto do TJPR que está há 28 anos na magistratura e hoje é diretor-geral da EMAP. Segundo ele, o caminho até alguém virar um juiz é árduo e exige uma preparação muito boa, até por conta da enorme concorrência no concurso público. “Mas para quem tem o sonho de ser magistrado, vale toda a pena do mundo ingressar nesse caminho aí”, garante o magistrado.

O salário inicial, por exemplo, é bastante atrativo: R$ 28.884,20 (considerando a remuneração inicial bruta do cargo de Juiz Substituto prevista no último concurso público realizado pelo TJPR, em 2021). Além disso, trata-se de um cargo vitalício. Ou seja, transcorridos dois anos desde a posse e exercício da função, o magistrado só perderá o cargo em decorrência de sentença judicial transitada em julgado.

O primeiro passo para alguém virar um magistrado, naturalmente, é obter o título de bacharel em direito. Concluída a graduação (num curso que dura cinco anos), ainda é necessário acumular mais três anos de experiência atuando na área jurídica. “Tem que ter atuação comprovada na área jurídica: pode ser na advocacia, no assessoramento ou até em outras atividades. Aí pode começar a prestar o concurso”, explica o diretor-geral da EMAP.

Osvaldo Canela Júnior: “Caminho até até se tornar um juiz é árduo e exige uma preparação muito boa” (Franklin de Freitas)


Os caminhos possíveis para ser um magistrado
Para quem quer virar um magistrado, são três os caminhos possíveis, basicamente: o chamado quinto constitucional, o concurso público para magistrados e uma indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF).
No caso da Suprema Corte, a indicação é feita pelo Presidente da República, que deve escolher um nome de “reputação ilibada e notável saber jurídico”.

Outra possibilidade é o quinto constitucional: uma cota reservada ao Ministério Público e a advogados na composição dos tribunais (num tribunal com 20 juízes, por exemplo, quatro lugares devem ser preenchidos por integrantes do MP e advogados). Para pleitear uma dessas vagas, no entanto, o candidato deve ter mais de dez anos de carreira na área jurídica. E passará por dois filtros: uma lista sêxtupla encaminhada pela OAB e o MP ao Tribunal local, que vai escolher três nomes a serem encaminhados ao governador, que por fim decidirá quem assumirá o cargo de desembargador.

O caminho mais comum, no entanto, é via concurso público, com o novo magistrado iniciando a carreira como juiz substituto, quase sempre num município no interior. “É um minho que exige de você uma outra metodologia te permite também entrar um pouco antes na carreira. Mas é um caminho diferente. Quem entra pelo quinto já entra diretamente no Tribunal [assume como desembaragador]. Quem entra por concurso já faz toda a carreira [o caminho desde juiz até desembargador]”, explica Canela Júnior.


Da aprovação à vitaliciedade existe todo um processo
Depois dessa sindicância, o candidato é aprovado definitivamente no concurso e então nomeado. Antes de assumir e começar a exercer a função jurisdicional, no entanto, o agora magistrado ainda vai passar por um curso inicial de juízes, que dura de três a quatro meses.

“Então esses candidatos aprovados vão ficar um bom tempo estudando, se preparando, e aí depois vão para a sua comarca de destino. Nesse momento é também nomeado ou designado o chamado juiz formador, pela Corregedoria Geral da Justiça. Esse juiz formador vai ser o responsável por te acompanhar, como se fosse o seu orientador”, explica o diretor-geral da EMAP.

Esse juiz formador é quem vai dar todo o amparo necessário ao novo magistrado até o seu vitaliciamento, o que ocorre dois após após a posse e exercício do cargo, quando o novo juiz deixa de ser demissível administrativamente e se torna vitalício. “Geralmente começa pelo interior e vai subindo devagar, aos poucos: nós temos todo um sistema de promoções, de remoções…”


Etapas
Como funciona o concurso público

As matérias para o concurso público da magistratura são definidas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mas as provas são aplicadas pelos respectivos tribunais (Justiça Estadual, Justiça Federal e Justiça do Trabalho, os TJs, TRFs e TRTs) e divididas em quatro fases, essencialmente.

A primeira delas envolve uma prova objetiva, com questões de múltipla escolha. “São 100 questões e a nota de corte é razoavelmente alta: de 100 questões, você vai ter de acertar pelo menos 78, às vezes até 83 questões”, conta o magistrado.

Se passar pela primeira etapa, vem uma nova avalição, com prova escrita. “São redações que você vai fazer. Por exemplo, vem um tema sobre responsabilidade civil e você vai ter de discorrer sobre aquilo, mostrar o que sabe sobre aquilo. Nessa mesma prova, você vai ter um exercício prático também: vai ter que fazer uma sentença. Vão dar um caso e aí o candidato vai elaborar uma sentença com todos os detalhes na sequência”.

Superada mais essa fase, aí vem a convocação para uma prova oral, que acontece numa espécie de anfiteatro e costuma ter uma banca examinadora composta por desembargadores, juízes mais antigos e membros do Ministério Público questionando os candidatos.

“Se ele for novamente aprovado, aí passa pelo último estágio, que vai é um estudo social para verificar os antecedentes dessa pessoa. Vai ser analisado se a pessoa tem antecedentes penais ou não – se for uma coisa pequena, que foi arquivada, não tem maior problema. É feito uma espécie de investigação da vida da pessoa, testes psicológicos também, buscamos indicações de pessoas com quem o candidato já tenha trabalhado…”, detalha Canela Júnior.